CROCANTES E CHEIROSOS


               Da série: Memórias da minha rua

Uma saudade bem "caipirosa".
De repente me veio à lembrança algo que ocorria há mais de cinquenta anos atrás.
Era eu um fedelho com menos de dez anos de idade.
A vila em que moro até hoje,era então,uma espécie de aldeia.Pouquíssimas casas,imensidão de campos,alguns capões de mato,meia dúzia de bodegas.
Dentre elas,a bodega do "Antoninho Bodega" (Bodega era seu apelido)
Pensem numa venda bem frequentada!
Dezenas de carroças vindas das colonias do Lajeadinho e São Lourenço,estacionavam pelos arredores do estabelecimento.
Era um casarão de madeira,pintado em verde escuro com janelas vermelhas.
Dona Tereza,a esposa, era tôda dedicação ajudando o marido atrás do balcão.
Rose e Dirceu,os filhos,queriam mais é farra sob as gabirobeiras no pátio da olaria Marilena.
[ Vale lembrar que também eu (meio forçado rsrs...)entrava na "farra" ]
Nas quartas feiras,o "Seu Bodega" carneava uns porquinhos e fazia o torresmo mais delicioso que já comi em tôda minha vida.
Quando chegava a tarde,meu pai ordenava:
-"Tute" (era assim que me chamavam) vá buscar uns torresmos "no Bodega".
Lá ia eu,reinando feliz pelos gramados.
Retornava abraçado com aquele pacote cheiroso e ainda quentinho.
Como ninguém é de ferro,é claro que degustava algumas daquelas crocâncias ao longo do caminho.
Ao chegar em casa,vez e outra ouvia o comentário:
-Ihh!...O "Bodega" tá roubando no pêso.
Tudo o que este velho hoje mais queria,era comer os torresminhos do seo Antoninho,o "Bodega".


Joel Gomes  Teixeira