Aprendendo a Viver .......*

Aprendendo a Viver

Com meu pai aprendi que nossas brigas sejam elas em qualquer tipo de relacionamento, são para resolver, para crescer, para nos abrir e no final atingir a paz entre os irmãos.

Com minha mãe aprendi que irmãos devem se respeitar, não devem levantar a voz para com o mais velho, devem procurar saber um do outro, deveriam estar sempre procurando por notícias. Mas creio que falhei muito nessa parte, mas tentei. Minha mãe era a irmã mais velha , era a netchan.

Com meu pai aprendi que temos que elogiar as pessoas, temos que enxergar o céu e o que há de belo nessa vida. E que é importante sempre lembrar desses momentos.

Com minha mãe aprendi a ser autocrítica, a procurar a aprender, a não ficar parada no tempo, mas a cobrança pessoal me pesou muito. Mas obrigada, mãe. Eu cresci muito com tudo isso. E te amo por isso.

Com meu pai aprendi que como o universo é infinito, e como não paramos de pensar, existe um universo sem fim em nossas mentes. E quando ficamos principalmente em momentos de conflitos pessoais, devemos escrever o que estamos sentindo, procurar descrever o que está se passando. Por quê? Porque depois ao depararmos com nossas próprias palavras, haveremos de fazer uma reflexão sobre como estávamos naquele momento.

Com os meus pais, aprendi o valor da educação, o quanto é importante aprender. E hoje com tanta desigualdade no mundo percebo o quão privilegiada eu sou e fui. Eu nasci na época em que meus pais perderam praticamente tudo, mas eles tinham a si mesmos, seus filhos, os irmãos , os pais para pensar. Cresci assistindo as visitas e encontros dos tios no sítio da batchan (vovó) materna. Cada tio ou tia que ia na casa da batchan tinha que levar um gotsô ( algo preparado para comer, um prato, uma torta, uma salada, etc...). Depois de degustarmos dos gotsôs, tínhamos que ajudar a lavar as louças. E depois a roda de conversas.

Com o que assisti vendo a batalha dos meus pais, aprendi que tinha que dar um jeito de me virar , de tentar ajudar, que não podia ir mal na escola. Mas eu tive a chance de poder brincar de verdade num espaço imenso onde era a fazenda dos meus padrinhos , local onde fomos morar antes de completar meus cinco anos de idade. Já tinha ido com a família para o Mato Grosso onde quase morri coberta por pernilongos num curto espaço de tempo, minha mãe me deixara sozinha na varanda por cinco minutos e foi o suficiente para tal fato acontecer. Não me recordo se foi no Paraná em Querência do Norte ou ainda no Mato Grosso, mas acabei tomando querosene de um recipiente numa latinha. Foi o suficiente para começar a virar os olhos , mas havia anjos que me socorreram. Eu era uma criança quieta, mas eu fazia arte. Mas como eu disse, fomos parar na fazenda dos meus padrinhos que ainda existe em São José dos Campos. Meus pais perderam toda a safra da Fazenda do Rhonda na tromba d´água que atingira o Vale do Paraíba em 1967, ano em que nasci. Eu sou muito grata por ter tido a oportunidade de viver a simplicidade e ver a dificuldade de uma vida. Por poder brincar depois de ir à escola, correr, pular estrela, fazer brinquedos moldados com barro, cantarolar minhas canções de criança, sair junto com os irmãos até o porto de areia e andar com o sol batendo, escorregar em cima dos sacos de plástico no Porto de Areia que ficava no final da fazenda, onde ficava e ainda fica o Rio Paraíba. De ter a sabedoria da criança que percebe o que é um perigo, ver um escorpião e concluir que não se mexe com algo venenoso. Minha infância foi rica. Pude com ela desenvolver as coordenações motoras grossas e finas.

Com meu pai e minha mãe aprendi o quanto é bom ter a música para nos acalentar, as canções japonesas para crianças, as cirandas brasileiras, e aprendi a cantar desde pequena com o incentivo deles. Tomei gosto pela leitura. Papai principalmente me incentivou muito. Aprendi a observar o que existia de belo e que vale a pena sonhar.

A vida é realmente um cenário onde você pode enxergar o que é bom ou ruim, onde terá grandes momentos de dificuldades, momentos estes que temos que encarar como um aprendizado. Se gostamos de viver também devemos aprender a encontrar prazer em algo que não enxergamos como uma tarefa fácil de fazer. Mas nossas mentes são maravilhosas. Temos que procurar entrar em sintonia com o universo , pois ele conspira a nosso favor. Temos realmente um infinito de elementos para acharmos uma solução para cada situação. Basta termos paciência, buscar sabedoria, buscar crescer diante das dificuldades e adversidades.

Eu tive vários exemplos a seguir em família não só como meus pais, mas também como tios, principalmente e a história dos meus avós, ou ditchans, uma batchan (vovó) que não pude conhecer mas foi professora e pianista, que viveu o suficiente para transmitir muito amor aos filhos e que estes deveriam permanecer unidos mesmo diante de sua morte. Não posso dar um relato do meu ditchan paterno com minha própria análise pessoal , mas era uma pessoa letrada e culta. Seu irmão e meu tio avô o ajudou muito na educação do meu pai e irmãos.

Por tudo que assisti ao longo dos meus mais de 50 anos de vida, tenho certeza do papel relevante dos pais. Eu vejo pais que se doam ao máximo aos filhos, em exemplos, mas vejo filhos ingratos nos dias atuais. Vejo muita frieza, muitos pais em asilos, ou sem lugar para ir. Isso me entristece muito. Minha meta para envelhecer é não precisar pedir ajuda aos meus filhos. Se puder ajudar, prefiro assim. Me sentiria mais confortável, mas o futuro nem sempre é como planejamos. Atualmente planejo no máximo estar em segurança com minha família e um dia de cada vez. Não viver sob a ansiedade que nos cerca no sistema que nos cobra a cada minuto. Definitivamente não vale a pena. Não temos tempo para sofrer tanto. Mas temos a possibilidade de sermos humanos, de nos sentirmos vivos e aptos a estender a mão ao próximo diante de tudo que pude aprender ao longo de toda esse aprendizado.

O que procuro dizer principalmente quando tenho a oportunidade de falar nas explicações das crianças que chegam à mim nas visitas no espaço onde trabalho é de que todas são capazes de sonhar, mas principalmente de realizar seus sonhos. Que elas acreditem, persistam e não aceitem os muitos “nãos” que haverão de ouvir até realizarem seus sonhos. Que posso me alegrar em poder deixar essa parte para fazê-los acreditar de que sonhos realmente se tornam realidade. De que estarão construindo uma bela história em suas vidas e de seus colegas.

A vida pode ser realmente bela. Basta escolher qual caminho você quer seguir.

Querido amigo, eu te desejo a felicidade plena, em cada dia de sua iluminada vida.

Sejamos luzes no caminho de quem quer que seja.

Vamos ser felizes. O mundo precisa da sua ajuda.

Porto Mendes, 28 de novembro de 2019. 22:27h

YOSHIE FURUKAWA
Enviado por YOSHIE FURUKAWA em 28/11/2019
Reeditado em 29/11/2019
Código do texto: T6806256
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