HOJE EM DIA
HOJE EM DIA (AC de Paula SP)
Hoje em dia eu não sou nada do que havia programado se peguei o bonde errado ainda não descobri, não sei se levei vantagem se empatei ou se perdi, meu mundo já está parado e eu ainda não desci! Sem culpa e sem alarde dentro de mim ainda arde um fogo que me devora, o meu sangue ainda ferve, que a vida não seja breve, que o sonho me seja leve, que o sentimento me enleve, e qualquer anjo me leve, quando enfim chegar a hora!
Não temo a tal viagem, na minha estrela eu confio, no pé que cair eu chuto, de qualquer jeito me arranjo, na estrada do infinito, não paro no meio fio, vou de carona, voando, nas asas de qualquer anjo! Enquanto isso a corrupção é uma carreira, e não é para amadores, profissionais dessa arte possuem regras e normas a serem cumpridas e a título de incentivo delatório têm até cláusula de sucesso.
A vantagem a ser auferida, e pouco importa onde se abra a ferida, é proporcional ao resultado positivo alcançado pelo nobre colaborador. É assim que a banda toca, que o barco navega, a coisa anda, e o povo, ora o povo, se ferra! O vocabulário atual é pitoresco, embora trágico; delatores, operador de sistema, cláusula de desempenho, colaboração premiada, esquema de pagamento de propina, e tantas outras coisas mais.
A farra é com dinheiro público, que para eles é como se não tivesse dono por isso mesmo metem a mão adoidado na grana que não é de ninguém. É nas autarquias, que ninguém quer privatizar em nome da defesa do patrimônio estatal e do nacionalismo oportunista que ocorrem as enormes sangrias. E o gigante agoniza enquanto os bolsos e contas bancárias de desqualificadas pessoas da mais nobre estirpe se abarrotam.
Os ladrões do dinheiro público têm tanta grana que nem ladrão acaba, e o povo honesto, ordeiro e trabalhador vai tocando o barco e levando ferro. Salve as pulseiras de aço e a língua do delator, o cartão corporativo, o cálculo criativo e o voto de relator, o país que vai pro espaço e dança fora do compasso, salve o jato que clareia a escuridão criminosa, salve o não sei de nada, o eu não vi, não estava lá, a santa maracutáia e a flor do maracujá.
E eu no rés do alicerce da Pirâmide Social, e quem é que me garante que nada de novo aconteça, e tudo então permaneça como sempre, tudo igual. Navegar não é preciso, melhor manter um sorriso pra qualquer ocasião. O castigo vem à galope de um alazão paraguaio e a taxa do quebra galho fechada num envelope coisa assim convencional. E eu quase que me perco na quina do labirinto, não digo nada com nada, tanta conversa fiada e aquele nó na garganta, minha paciência é tanta que nem sei direito quanta, e vou parar por aqui, pelas pernas do Saci, talvez melhor que eu me cale.
E lá vem o carro de boi vermelho roubando a cena, dele um velhinho acena e canta hô hô hô, vai votando...estou voltando!
(AC de Paula)
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