Armazéns
É verdade que o progresso se faz necessário, mas o que atrapalha é que a medida que ele vem chegando tudo que já está vai sendo destruído e o que não é destruído, cai no esquecimento.
Agora mesmo eu aqui pensando com os meus botões me bateu forte a saudade.
Lembrei de quando tinha meus dez ou doze anos e minha mãe me mandava ir ao armazém do seu Antônio. Era uma alegria só, me sentia importante por ajudá-la. As vezes nem tanto, principalmente se estava brincando com os colegas na rua.
Detalhe: - naquele tempo nos divertíamos era na rua mesmo. Jogando bola, rodando pião, soltando pipa, pulando carniças, brincado de pique bandeira, garrafão e etc. Tudo sem grandes perigos, bem diferente dos dias atuais.
Mas voltemos ao armazém do seu Antônio e que, diga-se de passagem, não era diferente dos demais armazéns que existiam pelos outros bairros. Esse tipo de comércio da época tinha como proprietário um nobre e atencioso português. As vezes nem tanto.
Num local relativamente amplo tudo estava a mão. As linguiças comuns e portuguesas ficavam dependuradas amarradas por um barbante bem acima do balcão. Em cima deste, ficava a lata de 20kg com o paio imerso na banha e a própria lata de banha, que era vendida a varejo. Também ali estavam todo tipo de salgado, como a carne seca, o lombo, a costela e etc. Azeitonas, tremoços e picles cada um em sua embalagem também ficavam amostra no balcão. Encostado na parede ficavam o feijão, o fubá, o arroz, a farinha de mandioca e o milho, todos acondicionados no famoso saco de linhagem colocados em cima de um estrado, ou então em recipientes na parte inferior de de um grande mostruário confeccionado em madeira, muito comum naquele tempo. Logo acima podíamos ver nas prateleira todos os tipos de enlatados e garrafas de bebidas.
Ali, além de se encontrar de tudo éramos bem atendidos e o próprio comerciante estava no caixa para receber o pagamento. Era uma época que existia a confiança e a honestidade, a ponto de se poder comprar fiado e pagar no fim do mês, coisa que nos dias atuais nem em pensamento.
Infelizmente hoje nas cidades grandes já não mais existem esse tipo de comércio e só nos resta a saudade de um bucólico tempo.
E por quê?
Culpa do progresso é claro.
28/08/2012
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