“DEUS ACIMA DE TODOS”: NOVOS FIGURINOS PARA O MESMO ROTEIRO

“Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta”.

Albert Einstein

Claudio Chaves

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O costume de se fazer versões diferentes – conforme as conveniências – de produções artísticas mantendo-se o mesmo roteiro é muito mais comum do que os menos atentos possam se dar conta. Até o clássico mundial Romeu e Julieta faz parte da inumerável galeria de produções cujo roteiro principal foi mantido, mudando-se, porém, coisas mais periféricas, como figurino, trilha sonora, época e ambiente.

Quem não costuma ler história, nela não acredita ou se faz de tonto, se comporta como se tivéssemos num circo, onde, haverá momentos tensos em algumas apresentações, mas, depois que as cortinas se fecharem, tudo bem...tudo volta ao normal. Sqn!

Crença (ou fingimento) na unção divina do [poder do] rei, teoria conspiratória contra grupos específicos de pessoas de aparência e comportamentos estranhos, (‘atraidoras’ da ira divina), divinização do líder, uniformidade (um só deus, um só rei uma só lei) imprescindível em tudo, principalmente na fé, na moral, no pensamento e combate ao inimigo a ser vencido – os divergentes são do contra, são do inimigo e, neste caso, a única (e legítima) alternativa é detê-los, ou seja, exterminá-los (“e assim o mal será extirpado do meio do povo”) – e teoria do flagelo iminente, o que justifica qualquer ação, por mais extrema, impopular e estúpida que seja, são estratégias tão repetidas no xadrez da dominação e espoliação do homem pelo homem que recorrer à História para constatá-las se torna quase apenas um protocolo didático.

Teocentrismo, populismo e teorias do inimigo comum e do flagelo iminente como instrumentos para a centralização do poder, legitimação do absurdo e aceitação pacífica (“é a vontade de Deus”) da barbárie – dos faraós aos césares, de Hitler ao Capitão – ainda não se inventou receituário mais eficaz.

Como pra tudo no mundo há gosto – e a sabedoria popular diz que isso não se discute – e, como no espetáculo do circo, sempre existem os que pagam pra ver (o ‘espetáculo’), mesmo sabendo que passarão momentos de tensão, há pouco o que fazer, além de acompanhar.

Apenas lembrando que, no circo, tudo não passa de ficção... no circo.