O LAVRADOR E O SOBRINHO DOUTOR
E eis que de repente aquele senhor tomou uma decisão que há muito tempo vinha postergando. Ele estava doente e precisava urgente de atendimento médico. Ao se lembrar de que tinha um sobrinho que trabalha na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, não teve dúvidas. Arrumou seus apetrechos, pegou seus documentos e foi procurar ajuda. Portanto, saiu do seu inóspito e pobre sítio pensando ser recebido pelo seu sobrinho formado em medicina, pelo menos, para ser atendido da sua doença: dores intermitentes na sua perna. Até que não teve muita dificuldade para localizá-lo. O difícil foi alguém acreditar que o Dr. Ozanam era seu sobrinho. Conseguiu fazer a matrículo naquele hospital e através do Serviço de Assistência Social conseguiu ser levado à sala do médico que iria atendê-lo. Ao perceber que se tratava realmente do seu tio, o médico logo procurou fazer os procedimentos necessários e em seguida solicitou ao Serviço Social que o encaminhasse a um abrigo da Prefeitura, alegando que como ele casado e morava num apartamento pequeno, não dava para levar o seu tio para a sua residência. Sem demonstrar ofendido aquele humilde lavrador aceitou aquela proposta e passou uma noite num albergue municipal. Mas, tão logo se sentiu melhor, após adquirir e tomar alguns remédios, foi à rodoviária e pegou um ônibus de volta ao seu pequeno e humilde sítio e depois deste dia nunca mais ouviu falar no seu sobrinho médico e vice-versa. Ficou cada um no seu quadrado. Mas ficou grato pelo rápido e útil atendimento. As dores na perna não sumiram totalmente, mas davam para suportar e conseguir dormir. Valeu o esforço que ele fez. Se o seu sobrinho não o hospedou era porque tinha os seus motivos particulares, mesmo assim, o seu pequeno sítio estava à disposição dele e da sua família. É isso mesmo: a vida nos oferece cada oportunidade inusitada e cada um procura se sair da melhor forma que achar mais conveniente e cômoda.