O POP NÃO ENVELHECE (o popstar, sim)
O POP NÃO ENVELHECE (o popstar, sim)
Não, amiguinhos, o pop não envelhece… Se de facto duas negativas não fazem uma afirmação, nego não para afirmar a perenidade de músicas de sucesso global, mas antes para expor criticamente uma indústria cultural pautada pelo novidadismo fabricado. Trocando em miúdos: Ainda que as músicas e álbuns de sucesso permaneçam no imaginário coletivo por muitas décadas, os artistas pop deixam de ser figuras de interesse em poucos anos.
Ressalte-se que música pop deve ser entendida antes como um produto cultural de relevância global que como estilo musical. Um rock ou um blues podem ser pop. A bossa nova é pop. Até o papa é pop!…
De certo modo, é simplesmente proibitivo envelhecer diante d'um mercado musical onde se é valorizado mais pelo potencial de vendas que pelo talento premiado. Percebe-se que as carreiras artísticas descrevem ciclos que podem se repetir ao longo da vida do artista, mas que se tornam mais raros a despeito de sua produção se tornar mais criativa ou mesmo experimental.
Não que o artista muito jovem não possa ser talentoso. A questão é que, mesmo quando talentosíssimo, o artista pop que envelhece deixa de ser interessante ao mercado sobretudo por não ser mais novidade. Por outro lado, Revivals caça-níqueis se repetem com uma frequência tão desconcertante que comentar a cena musical, não raro, é aceitar essa estratégia de mercado como parte do jogo. Cada vez mais escrevemos menos sobre música e mais sobre sucesso (inflado…). Não devia ser assim.
De flopada em flopada, os heróis de ontem vão se tornando história. Na verdade, a lógica da Indústria Musical é d'uma simplicidade assustadora: O álbum mais bem produzido acaba ignorado ao passo que a reunião artificial de quatro ou cinco adolescentes, a requentar clichês sob um rótulo qualquer, explode em vendas a cada verão, restando ao artista envelhecido a difícil missão de se reinventar sob pena de continuar atravessando esporadicamente os palcos do mundo como caricatura de si mesmo no auge com a repetição, agora atemporal, de seus sucessos.
Mas, se se reinventa e não faz mais sucesso global, não é mais pop, não é mesmo?
Belo Horizonte - 24 11 2017