Paisagem da adolescência

Não era preciso pegar ônibus ou chamar um táxi para ir pra casa da namorada. Ela morava "logo ali", no fim da rua, cinco minutos, no máximo, a passo de baiano, mas nesse dia foi preciso. Mal me aguentava de pé.

Chegando a casa a minha mãe nem me deixou sair do táxi: entrou no veículo e fomos direto para a emergência médica. Por um desses felizes acaso, havia um de plantão, um dos melhores médicos clínicos que passaram por Alagoinhas: Marcos Brito, mais conhecido como "Doutor Brito. Mediu a minha pressão, temperatura, auscultou os pulmões, coração e depois me perguntou:

- Qual a diferença do peixe de água doce pro peixe de água salgada?

- O meio ambiente em que eles vivem - respondi imediatamente.

- Qual a diferença de uma galinha para um jegue?

Aí gaguejei, enrolei a língua e não soube responder. Ele pegou o bloco de receitas e começou a prescrever o remédio. A minha mãe perguntou:

- O que ele tem, doutor Brito?

- Esgotamento físico.

- E isso é grave, doutor?

- Besteira. Só precisa parar de comer as coxas da namorada. Pelo menos por uns tempos.

Só parei de fingir que estava doente no dia que a minha mãe parou de me perguntar se eu já estava bom. O cinto do meu pai que ela segurava com gosto macabro não deixava a menor dúvida de suas intenções.