MUNDO DA ARTE (11)
Expressando o inexprimível
Prof. Antônio de Oliveira
Além do silêncio, o que mais se aproxima na tentativa de expressar o inexprimível é a música.Pensamento de Aldous Huxley. Há músicas indescritíveis: sacras, clássicas, populares. Sensação, arrepio, enlevo ao ouvir certas composiçõesque não são músicas apenas para os ouvidos. Penetram profundamente n’alma.E fazem que, ouvindo o que os ouvidos não se cansam de ouvir, possamos ondularacordes “num voo angélico para as altas esferas” e levitar, acima do assento, nosso corpo ouvinte.
Prelibar, antegozar o Céu. Para os que creem, apenas um modo analógico de dizer. Como se lêde Paulo aos Coríntios: ”Olho algum jamais viu, ouvido algum nunca ouviu e mente nenhuma imaginou...” Ou subindo ao sétimo céu, estado de felicidade plena, no paraíso. Segundo o islamismo, sete são os céus, superpostos. O sétimo é o céu de Alá, presidido pelo patriarca Abraão.
Vozes privilegiadas conduzemnoss’alma ao estado de êxtase. Profundas e altas emoções em tons graves ou agudos, em sintonia com a orquestra sob a batuta de maestros pontuando a transfiguração do humano.
Em dueto ou duelo com o amor, ora bálsamo, lenitivo, ora dor de cotovelo, a música é estética, técnica, compasso. Amor é tema recorrente na poesia, no romance, no drama, na tragédia. Amor cadenciado na cadência do coração, mudando apenas de tom e no seu andamento: ora “affettuoso, dolce, adagio”, ora “agitato, presto”. Ora “É devagar! É devagar! É devagar, é devagar, devagarinho”. “Rallentando.” É assim que a gente chega lá, na musicalidade da vida. Ora tomando decisões precipitadas, ora aprendendo com os erros,ora mordidos de ira cívicaem face de fundamentalismos ideológicos, ora “alegro, vivace...” A vida é um ensaio,mas vale como interpretação.Esta, por sua vez, sempre sujeita a reavaliação.
Réquiem de Mozart, Coro dos Peregrinos da ópera Tannhäuser, de Richard Wagner. Composições assim nos transportam à “Fantasia Coral”, de Beethoven, e ao Aleluia de Händel.