MINIGÊNIO ENTRE MATAS E ÁGUAS

MINIGÊNIO ENTRE MATAS E ÁGUAS

"É VIGIA, toda em flor, / é a primavera

nos ares... / frutas, peixes, cheiro e

côr, / paz e alegria nos lares".

"NATO" AZEVEDO (trecho final de poema)

Confesso que, ultimamente, minhas convicções andam "naufragando"... me peguei, dia desses, a seguir um político (?!) só porque êle "bateu de frente" com esse Messias muito pouco religioso. Às vezes tenho lampejos de admiração pelo "herói" (?!) de uma amiga de 40 anos -- de conhecimento mútuo, não de idade -- que defende com unhas e dentes os sonhos de 1 senador quase centenário. Torço para que ela "não caia do cavalo"... a norma primeira da Política é não confiar "em políticos". As coisas mudam -- declara Bolsonaro -- e nós mudamos com elas". Tenho a incômoda sensação que, no caso dela, as "coisas" podem mudar mais dia ou menos Dia(s). A decepção será grande !

Nesse momento sento para escrever loas a uma Câmara (logo eu!) digna de aplausos agora, embora tenha merecido reprimendas quando a conheci, nos meus primeiros meses na região, em 1984, ao entrar em contato com o prefeito da época, depois deputados estadual, dr. Nonato Vasconcelos. O jovem alcaide pretendia reformar o horrendo Mercado Municipal e 4 dos 5 edis votaram contra... pura pirraça, a tal feira era um pavor ! "Por questão de economia", segundo êles, "a cidade não tinha verbas"!

Ao voltar lá, entre 1989/90, o local continuava do mesmo jeito, uns 80 urubus no teto e a maré "limpando" entranhas de peixes e restos de carne que desciam entre os vãos do madeirame do chão, dos estrados, alojando-se logo abaixo.

Na quatrocentona VIGIA (hoje, de Nazaré) segue-se o ingrato Destino desse colossal "cardume de artistas" que teima em nascer na Amazônia... não têm onde exibir seu talento, como sustentá-lo e aprimorá-lo, para quem demonstrar o que sabem e o que fazem. Escritores vez ou outra tiram algum texto "da gaveta", fora disso findam todos seus dias sem que nem parentes próximos tomem conhecimento de seus dons.

SÍLVIO GUEDES, desde os primeiros passos, abandonou a "procissão dos conformados" para mostrar seus dons e exibir um talento impressionante... até como "pedreiro", ou quase, pintando consegue imitar madeira ou mármore com precisão espantosa, dando um toque surreal a qualquer parede. E isso é dom antigo, uma igreja em Castanhal tem colunas de "legítimo mármore de Carrara" desde 1990.

Conheci Sílvio garoto, por volta de 1984/85, passeava eu na pequena cidade e não o larguei mais, ao descobrir que também tocava violão e guitarra. Depois, vieram esculturas em barro e "papier machè", eu já morando na Capital, em 1987, uma grata surpresa ! Surgiu em casa com 2 belos quadros, em relevo, com maguaris num deles, precisando vendê-los para ter o dinheiro da passagem de volta. Triste sina de todo artista: vendemos 1, à custo, para um centro de Umbanda e, como não viajou no sãbado, findamos no domingo vendo a outra tela ir a leilão por uma "ninharia", ninguém queria a obra, na Paróquia Divino Espírito Santo, do bairro Cidade Nova 8.

Na ânsia de promovê-lo, meti Sílvio em várias "frias", a maior delas tentando espaço na Praça da República em 1989, em Belém, onde pintaria à vista de todos. O responsável "enrolou" a mim e a êle, exigiu uma tela para análise e "sumiu" com ela. "Esqueci num táxi", desculpou-se ! Levei o caso à Justiça e, por incrível que pareça, ela pendeu pro lado do sujeito.

SÍLVIO GUEDES superou todos os revezes, venceu dificuldades que desanimariam quase todos e manteve a sua trajetória de ARTISTA mostrando ao Mundo um talento absolutamente incomum, o chamado DOM, que a gente não desenvolve com a prática, nasce-se com êle ! Não sei por onde anda o Destino que ainda não fez desse vigilengo ilustre um nome maior das Artes amazônidas, um verbete respeitado na "seara" das Artes Plásticas, ou pelo menos da Pintura.

Espero algum dia poder vender -- em bem -- algumas obras dele que trago comigo... uma manhã, em casa, pegou vários lápis de cera e, com uma vela acesa, produziu um coração sangrando que é, por si só, um marco de arte moderna, pulsante, muito expressiva. Dois outros quadrinhos, retratando meu irmão e eu, são novas facetas de quem não se rendeu ao discurso fácil de botos, igarapés, yaras e imagens semelhantes. Esse artista está aberto às imagens do Mundo inteiro, influenciado por tudo o que vê e percebe sua sensibilidade apurada.

É o chamado "selfmade man", o que se fez por si mesmo, construiu seu caminho e serve de exemplo para tantos outros. Aplaudo com prazer a moção dos vereadores vigienses para agraciar um Artista tão completo com o Diploma de Honra ao Mérito a quem vem batalhando pela Cultura paraense e nacional pelo simples prazer que isso lhe traz.

A cidade, hoje de Nazaré, está em festa nesta gloriosa sexta-feira, 22 de novembro de 2019. Nunca é tarde para se fazer justiça... esse reconhecimento a SÍLVIO GUEDES (dos Santos) dignifica o trabalho em prol do povo -- do qual Sílvio é parte -- feito pelos Senhores vereadores e é honraria mais do que merecida ! Parabéns, VIGIA DE NAZARÉ !

"NATO" AZEVEDO (em 22/nov. 2019, 17 hs)