Tirar a manteiga

A insônia costuma não me dar trégua, enquanto carrego-a. Até agora, para combatê-la já fiz muita coisa e, pelo que sei, ou não sei, só ainda não rezei. E olhem que o prédio onde habito tem até uma capela que além de aberta nos fins de tarde de segunda e terça, pode ser acessada por qualquer um, mediante fornecimento de chave pela sempre simpática portaria. E ao que consta aqui, onde sou morador de poucos meses, o porteiro nunca desmentiu sobre o que nunca, tampouco mentiu...

Mas e a insônia? Essa me pega quase que diuturnamente. Pode chegar ali pouco depois da meia noite ou já no iniciozinho da madrugada, dependendo da hora em que me deito. Em menino, após a oração com Deus me deito, com Deus me levanto, e com as graças de Deus e do Divino Espírito Santo, eu não experimentava essa anomalia de acordar fora de hora; e muitas vezes até, nem mesmo na hora.

Com a fuga da prece, a insônia é que aparece. E vou tentando conviver com ela. E no mais das vezes me convenço que a venço. E ela não é de todo má. Serve-me para a leitura e a produção de textos. Algum ou outro leitor do site Recanto das Letras, onde milito, mas não me limito, há mais de seis anos, já me indagou se não durmo...Só no ponto, deu vontade de responder...ou nas reticências onde haveria mais que fazer?

Meu tempo total de sono noturno, de horas seguidas, que na maturidade mesmo costumava ser de 7 a 8 caiu para 4 a 6, independentemente de ser o horário regular ou o de verão. Mas taí, vamos reconhecer: medida boa que esse governo tomou foi essa de acabar com o horário de verão, ao qual o organismo não parece se ajustar. E ele podia continuar cuidando dessas coisas práticas, e se envolver menos em polêmicas onde sua impetuosa paixão quase sempre perde para a mais morosa e demorosa razão.

Já minha insônia tem também o seu lado prático: vou à geladeira e retiro de lá o potinho de manteiga - que agora vem da roça, e embora meio feirinha na embalagem e na cor, tem de longe melhor sabor. E mais ainda se tirada da geladeira enquanto a insônia é companheira...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 22/11/2019
Reeditado em 22/11/2019
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