Racismo
Racismo
Lucas Medeiros Santos – Professor
Sete da manhã. Acordo cedo. Tomo aquele banho para relaxar antes de sair de casa para os meus afazeres diários. Vou até o espelho que fica no meu quarto. Olho para mim e tenho uma decisão a tomar, que roupa devo vestir antes de sair de casa para que em uma possível abordagem policial eu me sinta seguro o suficiente para não causar desconfiança ou para que os olhares das pessoas ao adentrar no transporte coletivo não sejam constrangedores demais a ponto de me sentir mal.
Esse fato ocorria com frequência a cerca de 4 anos. Sim, há quatro anos eu escolhia muito bem a roupa que eu vestiria por medo de me confundirem com alguém de má índole. O preconceito cultural contra a cor negra estava estampado na minha mente.
Ontem, 20 de novembro de 2019, foram lembrados o dia Consciência Negra. Muitos movimentos foram realizados em todo o país para lembrar a data. Infelizmente um dia depois várias noticias de injurias raciais e crimes de racismo estamparam as capas dos principais jornais do país.
É fato, o lombo negro continua a ser chicoteado em pleno século XXI. 400 anos de escravidão. No Brasil há apenas 130 anos a abolição ocorreu. Minha cor ainda hoje é vista como uma pela inferiorizada. Minha pele e meu modo de vestir quase me tapou a oportunidade de estar em um ambiente universitário. Lembro muito bem desse dia.
Há dois anos entrei no prédio no qual eu cursava letras. Era 13h da tarde. Faltavam apenas alguns minutos para iniciar as aulas. Estava eu nesse dia de bermuda, camisa simples e um chapéu. Sentei na lanchonete aguardando meus colegas chegarem. O faxineiro chegou até a mim e perguntou o que eu estava fazendo ali. Não entendi, disse apenas que estava aguardando alguns colegas chegarem, ele disse que eu não poderia ficar naquele ambiente.
Não entendi o porquê, afirmei que não sairia dali. A segurança chegou levemente em tom de intimidação colocou a mão em sua arma, afirmei que eu era aluno do prédio e que eu não sairia do local, eles perceberam a burrada e pediram desculpas. Senti-me muito mal. Fiquei mal por semanas. E a partir desse acontecimento resolvi mudar meu modo de pensar minha cor.
Não tem um dia desde desse fato que parei de me moldar para parecer menos perigoso. Hoje tenho orgulho de minha pele, e todos os dias luto, não apenas para não ser racista, mas luto todos os dias para ser antirracista como afirma Angela Davis.