Racismo na fábrica
Meu amigo foi supervisor numa grande fábrica do ABC paulista, que ficava na Avenida Caminho do Mar em São Bernardo do Campo, lá pelos anos 1970. Nesta época o dono da empresa ainda era vivo.
O patrão passava uma orientação aos seus supervisores: que não contratassem negros e nordestinos; a preferência era para indivíduos brancos do interior de São Paulo ou do Sul do país.
Numa época em que a empresa estava contratando, surgiu um candidato negro, excelente profissional, para ser entrevistado. Ele percebeu que o homem tinha qualidades e pediu para que ele fizesse uma carta sobre suas expectativas sobre a empresa. O rapaz fez uma excelente carta de apresentação onde elogiava a empresa, que era famosa por pagar salários acima da media, e afirmando que seu grande sonho era um dia trabalhar naquela empresa. O supervisor o contratou.
Quando o patrão viu o rapaz negro trabalhando na empresa, quis saber quem o havia contratado e "por que?" O amigo deu as explicações e o patrão deixou passar dessa vez, não sem antes reclamar que negros e nordestinos são "pessoas revoltadas".
Os funcionários eram por vezes humilhados, bastava que algum produto fosse rejeitado pelo Controle de Qualidade.
Foi numa dessas sessões de humilhação que o meu amigo preferiu desacatar ordens do patrão e acabou demitido.
Racismo no nosso país, infelizmente não é "mi, mi, mi".