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Causos e crônicas | págs 698 e 699 | Asbac 50 Anos

Entrevista de emprego

Ser aceita ali era muito importante para mim. Formada em Economia há quase três anos, sonhava em sair daquela atividade meramente administrativa para uma atividade fim do Banco, em que pudesse aplicar o que aprendera na universidade. Este é normalmente o sonho de todo jovem recém-formado. No meu caso, eu havia sido mais audaciosa. Deixara o emprego anterior, onde as atribuições não eram afinadas com o aprendizado acadêmico.
Mas, no momento de me localizaram dentro da estrutura do novo emprego, determinaram que trabalhasse onde havia carência de pessoal. Enganei-me achando que seria fácil sair de lá para realizar o sonho de ser economista. Para me liberarem, exigiram que houvesse substituição, troca com outro colega ou que eu aguardasse a chegada de novos concursados. Depois de muito insistir, consegui
a alforria desejada.
Servidora problema, era o que supunha ouvir quando a contragosto o chefe aceitou que eu me candidatasse a trabalhar em outra Unidade.
Mas ainda faltava ser aceita no novo Departamento para o qual consegui a indicação de um colega que lá trabalhava. Diferentemente dos demais, ali o Chefe nomeou um secretário para recepcionar o público da Casa e externo. Quando cheguei ao Gabinete para a entrevista de emprego, deparei-me com ele sentado na cadeira onde esperava encontrar uma secretária, bem vestida e maquiada.
Era um senhor gorducho, bonachão, cabelos ralos, com cerca
de cinquenta anos.
– Pois não! Foi logo dizendo.
Tenho que ser simpática. Vou oferecer-lhe um drops, pensei.
– Boa tarde! Aceita?
– Minha filha, não adianta ficar tentando me subornar que eu não cedo a agradinhos dessa natureza. Diga logo o que é que a senhorita deseja.
Desmontei. Tive vontade de me enfiar embaixo da mesa. Mas engoli o choque e tentei explicar, gaguejando:
– É que, senhor, bem, eu tenho uma entrevista marcada com
o Chefe.
Ah, então foi você que ligou ontem com aquela vozinha de gata dengosa? Eu sou o Edy.
– Olá, Edy. Houve algum problema? Ele não vai me atender?
– Bem, meu chefinho está aí. Mas não sei se vou deixar que a atenda.
- Por quê?
Olhou-me da cabeça aos pés, dos pés à cabeça e sentenciou:
– Se você está pensando que vai convencer meu chefinho a aceitá--la por causa desses seus dotes físicos, pode ir tirando o cavalinho da chuva. Ele é um homem sério. Esse seu vestidinho curto, esse decote... sei não! (pausou, encarando-me). Aguarde um pouquinho.
Fiquei ali pensando: que sujeito desagradável! Eu aqui ansiosa, tensa e ele me sacaneando com essas observações. Quando a gente precisa tem que se sujeitar a cada coisa.
Dá vontade de sair correndo... Só não vou porque foi tão difícil chegar até aqui. Espero que esse sujeito não faça minha caveira lá dentro.
Passados uns três minutos, o Edy voltou e disse:
– Agradeça-me! Consegui que você fosse atendida. Pode entrar.
Entrei meio ressabiada, quase pisando em ovos e deparei-me com o chefe rindo. Foi logo esclarecendo:
– Seja bem-vinda! Não se impressione com as bobagens que o Edy lhe disse lá fora. Ele é muito brincalhão.
Suspirei aliviada.

Durante os dez anos seguintes, trabalhando ao lado do Edy,
ri muito da sua presença de espírito e das suas brincadeiras e
trotes. Ora um, ora outro era alvo das suas armadilhas.
Perto dele, ninguém conseguia ficar sério ou triste por muito tempo.
Sandra Fayad  

(Referência:
http://fenasbac.com.br/documentos/livro_fenasbac_29102018.pdf?utm_source=Fenasbac&utm_campaign=812802b43e-EMAIL_CAMPAIGN_2019_11_14_05_32&utm_medium=email&utm_term=0_079bb2be13-812802b43e-269015889&mc_cid=812802b43e&mc_eid=762e194570  )
Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 19/11/2019
Reeditado em 19/11/2019
Código do texto: T6798925
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