SERIA MESMO UM FANTASMA?

No feriado do dia 7 de setembro 2009, eu e alguns amigos decidimos acampar numa praia bem distante da capital, queríamos um pouco de diversão, sair da rotina. O ponto de encontro foi no Parque Solon de Lucena. Saímos por volta das 07h em direção ao nosso destino: Praia de Barra de Gramame (litoral sul).

Duas horas após a nossa saída, deparamo-nos com uma estrada de barro, bem íngreme. Olhamos ao redor e nem sinal de casas, ou pessoas. Deserto total. De repente uma tromba d’agua resolveu cair, mais tão forte que quase atolou os quatros pneus da van em que estávamos. Ficamos atolados por mais de uma hora e meia. Se não fosse a união de todos, talvez nem tivéssemos saídos de lá. Éramos um grupo de seis pessoas: eu (Gabi), Ângela, Thaty, Augusto, Leo e Bira. Todos na faixa dos 22 anos, amigos de infância.

Apesar da chuva forte, este imprevisto não nos impediu de seguirmos adiante. Teria que ligar para mainha e para desespero meu, o celular estava sem sinal. A aflição tomou conta do meu ser.

- Ei, pessoal, o celular está sem sinal. E agora? Meu Deus! Preciso ligar para Mainha. – Indaguei aflita.

- Gabi, nada de drama visse. O sinal já, já volta. Estamos quase chegando, estou sentindo até o cheiro da maresia. – Falou o Bira determinado.

- Sem celular, ninguém merece. Aff! – Exclamou a Ângela.

Os demais ocupantes da van apenas observavam, preocupados com a tempestade que não apresentava nenhum sinal de que iria cessar.

Seguimos viagem até que algo sinistro aconteceu. No fim da estrada de barro, próximo a uma curva fechada, havia uma casa, aparentemente abandonada, que chamou nossa atenção por ser amarela e as janelas frontais parecerem olhos tristes, com a porta bem no meio. O mais perturbador era por ela ser a única do lugar. Olhamos uns para os outros. Tive a sensação de que estávamos perdidos. Pelo que me recordo, da última vez em que fui aquela praia, não existia uma curva. Não como fomos parar ali, mas com certeza não era o caminho correto que levaria a Barra de Gramame. Não informei aos outros, para não os assustar. O único além de mim que conhecia a praia era o Augusto e pelo seu olhar, já sabia disso também.

Tudo escuro e deserto, sem sinal de celular e com uma tempestade com direito a relâmpagos e trovões. E para complementar, uma casa no meio do nada. Augusto parou a van e falou:

- Galera, a chuva não cessa e aparentemente, a única opção que temos no momento é aquela casa ali.

- O que você quer dizer com “aquela casa ali”? – Perguntou Leo.

- Estou dizendo que se não pararmos agora correremos o risco de atolarmos novamente, pois se você percebeu, estamos em uma estrada de barro e já está anoitecendo. Não temos outra opção a não ser esperarmos a chuva passar na casa abandonada.

Houve um alvoroço dentro da van. Todos querendo falar ao mesmo tempo. Até que o Bira grita chamando a atenção de todos.

- Parem! Acalmem-se! É só uma noite. Temos comida e água, o suficiente para passarmos a noite se necessário. Vamos, desçam! – Deu o comando.

- Vamos, Então! – Confirmamos em um coro.

Demorou a minha ficha cair. Fiquei alguns minutos tentando digerir aquilo tudo. A Thaty estava em choque e Ângela não parava de orar baixinho. Os meninos, tentaram disfarçar, mas eu via em seus olhos o medo.

A estrada estava um lamaçal, mesmo que quiséssemos, não teria como a vã prosseguir. Iria encalhar com certeza. Por livre e espontânea pressão saímos do carro e fomos em direção a casa amarela. Tínhamos apenas três guarda-chuvas. Fomos aos pares: Eu com o Léo, a Thaty com o Guto e a Ângela com o Bira.

Minhas pernas tremiam tanto que eu não sabia se era de frio ou medo. Quase não quase esbarrei nas pernas do Léo. Quando estávamos em frente da casa, tive a impressão de ter visto uma luz acesa em um dos cômodos. Olhei de novo para certificar-me e continuava escuro. O Bira ia na frente com a lanterna do celular.

Empurramos o portão, quando chegamos a porta, ela estava entreaberta. Repentinamente, soprou um vento, a porta escancarou-se, ao mesmo tempo um relâmpago clareou o que parecia a sala, um trovão rosnou como um animal enfurecido. Todos gritaram! Um sofá apareceu e tive a impressão de que havia alguém sentado. Agarrei o braço do Léo com tanta força que o coitado gemeu de dor.

- Calma Gabi, meu braço não é de ferro! – Disse chateado.

- Vi alguma coisa no sofá. Vocês não viram? – Na minha aflição perguntei aos outros.

- Deixa de paranoia, visse Gabi. A casa está apenas abandonada e pronto. Vamos entrar e esperar a chuva passar. Iremos ficar todos juntos no térreo, até porque não tem energia na casa. Tivemos sorte de encontrá-la em meio a este caos. – Guto exclamou autodenominando o líder do grupo.

O silêncio tomou conta do lugar. Entramos, colocamos as mochilas no chão, espalhamos os colchonetes no chão sujo. Com as lanternas dos celulares, íamos olhando a nossa volta. Por incrível que pareça, a casa estava em bom estado de conservação. As paredes ainda possuíam tinta e os moveis inteiros, apenas empoeirados. Do lado esquerdo da sala estava a escada. Um calafrio subiu-me a espinha. O que será que existia ali em cima?

Acomodamo-nos, as meninas de um lado e os meninos do outro. De repente, escutamos um barulho estranho vindo do andar de cima. Acreditamos que seriam ratos. Ficamos no mesmo lugar. O Bira resolveu colocar uma barricada com as mochilas, se caso algum rato aparecesse.

Liguei o celular, e a internet ainda não voltara. Liguei a lanterna e virei em direção a escada. No escuro somente com luz do celular, vi um vulto de uma criança em pé na escada. Os olhos dela, inclusive a parte branca, estava toda negra. Olhava para nós. O aparelho caiu da minha mão com susto. Gritei!

- Olheeeem, ali! – Quando retornei a lanterna, ela não estava mais lá. – Tenho certeza que havia uma criança com olhos pretos ali na escada. Vamos sair daqui! – Implorei.

- Começou com as neuroses. - Falou o Léo.

No momento em que ficamos em pé com o alvoroço que fiz, ligamos as lanternas dos celulares ao mesmo tempo, e foi quando o vulto da criança apareceu bem em cima do sofá, sem feição nenhuma na nossa frente.

- Minha nossa! Vamos sair daqui! “Pai nosso que estais...”. – Gritei mais uma vez, já começando a orar.

Foi uma correria enlouquecedora. Cada qual que corresse mais rápido. Nunca vi tamanho terror.

A chuva havia cessado. Fomos para a van sem olhar para trás. Augusto deu partida, o carro disparou em meio ao lamaçal. Estávamos aterrorizados. Eu e as meninas olhamos para traz e vimos aquela imagem assustadora da criança de cabelos e olhos pretos com o que parecia um brinquedo nas mãos, no meio da rua olhando nossa fuga.

Vinte anos se passaram e até hoje nunca soubemos se realmente se tratava de um fantasma ou de uma criança de verdade. Na minha opinião, a primeira opção é mais viável. Uma criança não sobreviria aquele caos.

Débora Oriente

Debora Oriente
Enviado por Debora Oriente em 17/11/2019
Reeditado em 06/02/2022
Código do texto: T6797242
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