UMA AÇUCENA NO PORTÃO
Tem uma açucena bem ali, ao lado do portão na rua lateral de minha casa.
Moro num terreno de esquina, num local espaçoso que me dá direito a "assuntar" em três portões.
O da frente, o lateral , o dos fundos.
Sou , assim , uma ilha circundada por três ruas e um vizinho.
Um bom vizinho, felizmente.
Mas, voltemos ao portão lateral.
Estava à espera de minha cara metade que retornaria da missa de domingo.
O domingo descortina-se agora tão azul quanto o estava durante minha presença no portão.
No silêncio e paz de meu bairro eu divagava sobre longínquos domingos do meu “antes”, quando esperava-se pela chegada de vovó ou alguma tia para o almoço.
Minha mãe preparando os quitutes, meu pai ouvindo suas valsas preferidas e eu sonhando com um mundo onde seria “tudo tão lindo, tudo tão maravilhoso” como diz a canção de Belchior.
O relógio do tempo, implacável, correu seus ponteiros e mostrou-me que nem tudo ocorre tão certinho como na melodia. Há que se ter uma capacidade enorme de superação para atravessar as tempestades (que não são poucas) desta vida.
Que os cabelos vão branqueando e a carcaça vai "perdoando o vento".
Enfim, tudo o que sei é do cheirinho da comida que preparei àquela que foi celebrar a vida, orar e agradecer a Deus pela graça de bem viver.
No alto da ladeira, a uma certa distância, um perfil na calorenta manhã de domingo delata meu amor voltando. Ninguém mais pela rua de pedras irregulares ladeada de poucas moradias.
Ela reina absoluta !
Vêm-me à lembrança:
De que no quintal de vovó, ao redor das cercas de ripas açucenas floriam nos finais de novembro de minha meninice.
Eram muitas ! E as cores branco e rosa claro, perfilavam-se quintal a dentro.
Algumas iam para um singelo vaso que enfeitava a mesa da sala.
-“Quero tudo muito bonito para quando as “meninas” chegarem”.
[ Vovó denominava de “meninas”,as cinquentonas e quarentonas tias que lhe visitavam aos domingos ]
Agora...
Esta açucena imaculadamente branca...
Bem ali ! ao lado esquerdo do portão da rua lateral.
Que tal um vaso a esperar a “menina” que desce a ladeira ?
Penso com meus botões.
Um pouco depois:
O ruído seco dos talheres sobre os pratos quebra a sutileza das divagações.
Sobre a mesa...Um vaso singelo,Dentro dele uma açucena mergulhada em água fresca.
Joel Gomes Teixeira
Tem uma açucena bem ali, ao lado do portão na rua lateral de minha casa.
Moro num terreno de esquina, num local espaçoso que me dá direito a "assuntar" em três portões.
O da frente, o lateral , o dos fundos.
Sou , assim , uma ilha circundada por três ruas e um vizinho.
Um bom vizinho, felizmente.
Mas, voltemos ao portão lateral.
Estava à espera de minha cara metade que retornaria da missa de domingo.
O domingo descortina-se agora tão azul quanto o estava durante minha presença no portão.
No silêncio e paz de meu bairro eu divagava sobre longínquos domingos do meu “antes”, quando esperava-se pela chegada de vovó ou alguma tia para o almoço.
Minha mãe preparando os quitutes, meu pai ouvindo suas valsas preferidas e eu sonhando com um mundo onde seria “tudo tão lindo, tudo tão maravilhoso” como diz a canção de Belchior.
O relógio do tempo, implacável, correu seus ponteiros e mostrou-me que nem tudo ocorre tão certinho como na melodia. Há que se ter uma capacidade enorme de superação para atravessar as tempestades (que não são poucas) desta vida.
Que os cabelos vão branqueando e a carcaça vai "perdoando o vento".
Enfim, tudo o que sei é do cheirinho da comida que preparei àquela que foi celebrar a vida, orar e agradecer a Deus pela graça de bem viver.
No alto da ladeira, a uma certa distância, um perfil na calorenta manhã de domingo delata meu amor voltando. Ninguém mais pela rua de pedras irregulares ladeada de poucas moradias.
Ela reina absoluta !
Vêm-me à lembrança:
De que no quintal de vovó, ao redor das cercas de ripas açucenas floriam nos finais de novembro de minha meninice.
Eram muitas ! E as cores branco e rosa claro, perfilavam-se quintal a dentro.
Algumas iam para um singelo vaso que enfeitava a mesa da sala.
-“Quero tudo muito bonito para quando as “meninas” chegarem”.
[ Vovó denominava de “meninas”,as cinquentonas e quarentonas tias que lhe visitavam aos domingos ]
Agora...
Esta açucena imaculadamente branca...
Bem ali ! ao lado esquerdo do portão da rua lateral.
Que tal um vaso a esperar a “menina” que desce a ladeira ?
Penso com meus botões.
Um pouco depois:
O ruído seco dos talheres sobre os pratos quebra a sutileza das divagações.
Sobre a mesa...Um vaso singelo,Dentro dele uma açucena mergulhada em água fresca.
Joel Gomes Teixeira