A COMPANHIA ESSENCIAL PARA TODA A VIDA
A COMPANHIA ESSENCIAL PARA TODA A VIDA
Nelson Marzullo Tangerini
Como de costume, fui, um dia desses, até a minha biblioteca e resolvi a la Borges, tocar em alguns livros antigos que me olhavam saudosamente da estante.
Lá estava a Antologia Escolar Brasileira, de Literatura, livro publicado pelo MEC nos pesados anos 1960 e que por mim foi usada no antigo ginásio em 1969 e 1970.
Folheei o velho amigo e lá encontrei o poema Ilusões da Vida, de Francisco Otaviano de Almeida Rosa, advogado, jornalista, diplomata, político e poeta romântico pouco lido e lembrado:
“Quem passou pela vida em brancas nuvens,
E em plácido repouso adormeceu,
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu;
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu”.
O poema acima era um dos textos preferidos de Dinah Marzullo, minha saudosa mãe, que, volta e meia, o recitava para mim.
Assim eram a minha infância e minha adolescência, ouvindo minha mãe cantar ou recitar poesias – na maioria, de meu saudoso pai, Nestor Tangerini.
Quando não era Dinah, era minha querida avó, Antônia Marzullo, atriz, recitando A Flor do Maracujá, poesia do poeta romântico fluminense Fagundes Varela, lembrança que ficará especialmente para uma crônica futura.
Quantas crianças passam a infância ao lado de sua mãe, envoltas em belas músicas e poesias? Quantas perdem suas mães e não podem desfrutar do carinho materno?
Além deste poema de Francisco Otaviano, Dinah declamava Minha Mãe, poema de Casimiro de Abreu, outro poeta romântico fluminense.
A poesia entrou na minha alma assim, pois, além de recitais de poesia de minha mãe, tinha a meu lado, também, a presença de dois poetas: meu pai e meu tio, Maurício Marzullo, um eterno apaixonado pela sua Antonietta - Tia Netinha, para nós -. a quem dedicou inúmeros sonetos e trovas.
Tio amoroso, Maurício dedicou, também, inúmeros poemas e sonetos a seus filhos, sobrinhos, cunhados, netos e bisnetos.
Sobre o poeta Francisco Otaviano, antes que dele me esqueça, nasceu na cidade do Rio de Janeiro a 26 de junho de 1825, onde faleceu, a 28 de junho de 1889.
Este gesto a la Jorge Luís Borges me fez lembrar do grande escritor argentino, companheiro de pena e amante da literatura universal, além de reforçar em mim a paixão pela literatura. Os livros na estante nos convidam a uma viagem no tempo e a terras distantes. Ao contrário do Borges já cego, depois de uma longa viagem literária, posso ainda ler neles os textos escritos com maestria por escritores consagrados. Ali mergulho, reforçando, também, a crença de que são companheiros essenciais para a iluminação de toda a humanidade.