A FILHA DE DONA ODETE

Eu andava pela Dom Almeida Lustosa quando passei por uma mulher que me chamou a atenção. Sem me notar, ela seguiu seu caminho, enquanto eu mergulhava de forma imediata em memórias de mais de trinta anos atrás.

Mais alguns passos e as recordações que me vieram aos montes naquele instante me fizeram parar e olhar para trás, lamentando por não ter abordado a mulher, embora em atitude precipitada, pois corria o risco de não ser reconhecida. Forçava a mente para me certificar de que ela era, sim, quem eu estava pensando.

Mas segui andando pela avenida, agora acompanhada das recordações da infância, do tempo em que estudávamos na Escola Professor Edimilson Guimarães de Almeida (UV 10), minha irmã e eu, na década de 80. E me vieram nomes, rostos, gostos e sons. A memória faz isso, que bom!

Regressando para casa, agora caminhando no sentido oposto na mesma avenida, para minha surpresa, o destino coloca bem diante de mim a mulher. Dessa vez fui rápida! E talvez desagradável. Tocando-a no ombro, disparei, eufórica:

— Posso te perguntar uma coisa?

Eu não sabia por onde começar, o que dizer, como dizer. E se ela não me reconhecesse? Bom, eu não podia perder aquela oportunidade:

— ‘Tu’ é filha da Dona Odete?

Gente, quando ela disse “sim”, eu quase nem acreditei! E ela seguiu:

— Acho que estou te reconhecendo... ‘tu’ morava no sítio?

Moramos num sítio durante alguns anos e muitas pessoas têm essa informação como referência ao lembrar de nós (às vezes acrescentada do detalhe dos jacarés - havia três deles no sítio).

Continuei fazendo mais perguntas, claro:

— E Catarina, cadê? Vocês ainda moram no mesmo lugar? Ela tem Facebook?

Catarina era nossa colega de sala naquela escola do Conjunto Ceará, quem, de fato, eu queria reencontrar. Eu lembrava dela, traços físicos (era alta, magra e dentucinha). Na hora me veio seu jeito calmo, sua voz tranquila.

— Ela mora com a mamãe, naquela mesma casa, e eu moro perto delas. Como é o teu nome?

Após a breve conversa, nos despedimos e segui pra casa, ansiosa para encontrar Catarina no Facebook e retomar contato, ainda que virtual. Liguei o notebook, saí procurando nos rostos que aqueles nome e sobrenome me mostraram até encontrar a moça. Mal enviei o convite, ela aceitou e começamos o bate-papo.

Declarando sua felicidade em me reencontrar, foi logo perguntando pela Celia, minha irmã. E trocamos algumas informações, afinal são muitos anos, há muito o que conversar.

— Você continua doidinha... kkkkk. Celia era mais séria...

Doidinha, eu? Dei boas risadas! E minha filha, com quem eu dividia nosso diálogo, ficou me perguntando o que eu fazia aos onze anos para ser lembrada assim. Eu não faço ideia, juro!

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 16/11/2019
Reeditado em 16/11/2019
Código do texto: T6796272
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.