Amores Mórbidos – Leques, Liquens e Relíquias
Por tanto amar a vida o ser humano teme a morte. Mas mesmo assim ela desperta fascínio sobre ele. Temor e fascinação. Queremos a vida. Queremos a juventude. Queremos a eternidade. Mas sabemos que tudo redundará na Morte. E é ela que dá sentido à vida.
Como paráfrase repito o Poeta que versificou “Se alguém perguntar à Morte qual o seu nome, não há estranhamento se ela responder:
– Meu nome é Vida.”
Abanamos com leque da religião este mal vento. Rejeitamos o telúrico. Sempre queremos o celestial incorruptível. Conseguimos no máximo a simbiose feito liquens: combinação para afastar o horror e ajeitamos o real e o imaginário.
Nós elegemos relíquias: santificamos memórias. Perpetuamos entes queridos através de lembranças: objetos que revivifica pessoa, momento e lugar.
Quem visita o santuário central de Barbacena encontrará lá um memorial daquela jovem que fora morta na cidade vizinha por resistir ao estupro. Ali as pessoas rezam e se benzem diante da foto e das datas que ali trazem. A violência que levou à morte daquela jovem está ali registrada como testemunha daquela época machista.
Para a família é uma forma de manter vivo aquele ente brutalmente assassinado. Para o cronista traz o momento do noticiário na TV. Ficou registrado o fato: eu no vão da porta de meu quarto e minha mãe exclamando suas benzeduras religiosas na sala. Todos estes registros foram escritos na memória. Para o historiador / antropólogo aquele baú de ossos depositado no santuário tem todo o registro despossuído de emoção e sentimento que fala sobre etnia, classe social e cultura da época.
Pedro Nava escreve o costume vintage que chegaria até à oitava década ao relatar o motivo do nome de seu livro:
“...o quarto de minha tia Candoca era amplo. Esse quarto nunca servia de ponto de reunião e dentro dele só se falava baixo, só se andava na ponta dos pés... um oratório com o crucifixo, as imagens e as flores de pano, tudo posto sobre o baú fechado que encimava um consolo amarelo.
Havia uma lamparina eterna e minhas tias quase sempre ali acendendo suas velas bentas e desfiando rosários. Todo esse ambiente solene do quarto, seu tom de tristeza e seu cheiro a cera e sacristia vinha do fato de estarem no tal baú do oratório de minha prima Alice – morta em Juiz de Fora. Coubera a meu Pai exumá-los, lavá-los, trazê-los para o Rio e entregar à irmã a bagagem terrível. Ela ficou ali no quarto uns dois anos, até que minha tia mandasse erguer, sobre o túmulo do marido, a caixa de mármore para que passou o esqueleto.” *
O Amor se reveste de variada roupagem. Há Amores Mórbidos que se recusam ser esquecidos.
Por tanto amar a vida o ser humano teme a morte. Mas mesmo assim ela desperta fascínio sobre ele. Temor e fascinação. Queremos a vida. Queremos a juventude. Queremos a eternidade. Mas sabemos que tudo redundará na Morte. E é ela que dá sentido à vida.
Como paráfrase repito o Poeta que versificou “Se alguém perguntar à Morte qual o seu nome, não há estranhamento se ela responder:
– Meu nome é Vida.”
Abanamos com leque da religião este mal vento. Rejeitamos o telúrico. Sempre queremos o celestial incorruptível. Conseguimos no máximo a simbiose feito liquens: combinação para afastar o horror e ajeitamos o real e o imaginário.
Nós elegemos relíquias: santificamos memórias. Perpetuamos entes queridos através de lembranças: objetos que revivifica pessoa, momento e lugar.
Quem visita o santuário central de Barbacena encontrará lá um memorial daquela jovem que fora morta na cidade vizinha por resistir ao estupro. Ali as pessoas rezam e se benzem diante da foto e das datas que ali trazem. A violência que levou à morte daquela jovem está ali registrada como testemunha daquela época machista.
Para a família é uma forma de manter vivo aquele ente brutalmente assassinado. Para o cronista traz o momento do noticiário na TV. Ficou registrado o fato: eu no vão da porta de meu quarto e minha mãe exclamando suas benzeduras religiosas na sala. Todos estes registros foram escritos na memória. Para o historiador / antropólogo aquele baú de ossos depositado no santuário tem todo o registro despossuído de emoção e sentimento que fala sobre etnia, classe social e cultura da época.
Pedro Nava escreve o costume vintage que chegaria até à oitava década ao relatar o motivo do nome de seu livro:
“...o quarto de minha tia Candoca era amplo. Esse quarto nunca servia de ponto de reunião e dentro dele só se falava baixo, só se andava na ponta dos pés... um oratório com o crucifixo, as imagens e as flores de pano, tudo posto sobre o baú fechado que encimava um consolo amarelo.
Havia uma lamparina eterna e minhas tias quase sempre ali acendendo suas velas bentas e desfiando rosários. Todo esse ambiente solene do quarto, seu tom de tristeza e seu cheiro a cera e sacristia vinha do fato de estarem no tal baú do oratório de minha prima Alice – morta em Juiz de Fora. Coubera a meu Pai exumá-los, lavá-los, trazê-los para o Rio e entregar à irmã a bagagem terrível. Ela ficou ali no quarto uns dois anos, até que minha tia mandasse erguer, sobre o túmulo do marido, a caixa de mármore para que passou o esqueleto.” *
O Amor se reveste de variada roupagem. Há Amores Mórbidos que se recusam ser esquecidos.
* NAVA, Pedro. Baú de Ossos. Memórias. 3ª Edição – Livraria José Olympio Editora, p. 363
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 15/11/2019
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de 19 de Fevereiro de 1998.
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