NAS NOITES ANTIGAS DO BRASIL COLÔNIA

O Brasil deve ao braço do negro escravo os alicerces econômicos da era colonial, e isso jamais poderá ser esquecido. Nos engenhos de cana do nordeste, nas plantações de algodão de São Paulo, nas minas de diamante e ouro de Minas Gerais e nos pampas longínquos do Sul, o escravo africano marcou sua histórica presença. Sua marca está, assim, presente nas nossas ruas, praças e avenidas; na nossa culinária, na nossa dança, no nosso samba, nos nossos ritmos e cantos... Todo o sofrimento causado pela escravidão construiu uma cultura da qual somos herdeiros.

Nas antigas noites da vida colonial, nos terreiros das senzalas ouvia-se o batuque nas rodas de danças. Os pés batiam ritmados no chão batido da senzala e os negros, cansados do trabalho, encontravam em seus ritmos, em suas danças, um pouco de alento ao sofrimento e à saudade da sua África distante.

A capoeira, disfarçada de simples diversão e jogo, era na verdade um modo de preparar-se para a luta, se caso fosse necessário. As suas conversas sobre planos de fuga, muitas vezes às escondidas, denunciavam o imenso temor que tinham das represálias do seu dono e patrão branco. Em certas ocasiões o medo pairava no ar da senzala e os negros segredavam em murmúrios sob o som cúmplice dos seus atabaques e de seus cânticos. A senzala também era uma morada de segredos...

... E o chicote era o instrumento-mor que revelava toda imposição, covardia e frieza dos dominadores de um Brasil marcado pela vergonha.

Sidnei Garcia Vilches