DA CRIAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO
DA CRIAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO
Por Gecílio Souza
1- A Bíblia narra a origem
Da vida neste torrão
Afirma que o Senhor Deus
Sem mover sequer uma mão
Criou Terra, mar e céu.
Fez a luz e a escuridão
Da brisa e da tempestade
Fez uma combinação
Originando-se o vento
Que sopra a caloração
Criou aves, peixes e insetos.
Importantes em proporção
Mas o tempo era estranho
Só havia uma estação
Deus criou outono e inverno
Primavera e verão
Porém não criou o ano
O mês ou assemelhação
Somente os dias da semana
Os fez com especificação
Criou astros e estrelas
Distantes na imensidão
Entre as trevas e a luz
Ordenou a separação
As trevas viraram noites
O dia se fez do clarão
Cujas tarde e manhã
Imprimiram-lhe uma cisão
Dois luzeiros importantes
Bela configuração
O Sol presidindo o dia
E a Lua a turvação
Deus ergueu o firmamento
Numa eterna fixação
Separando as várias águas
Conforme Sua aspiração
Águas celestes são as chuvas
Ou seja, a pluviação.
As terrestres rios e mares
Ou ainda fluviação
Logo após o firmamento
Segundo a interpretação
Estavam as águas da chuva
E cuja deslização
Dava-se por cataratas (Gn 8,2)
Pondo a Terra em ablução
Muito além do firmamento
Em última graduação
Encontra-se a divindade
Em santa molduração
Governando a Sua obra
Por perpétua prescrição
De tão santo que escapa
Da humana compreensão
Para lá as almas puras
Após a desintegração
De seu estado carnal
Segundo a crença irão
Enquanto que aqui prá nós
Veja as coisas como são
A Terra possui camadas
Em níveis de inferiorização
Bem abaixo do subsolo
Há águas em provisão
Um gigantesco oceano
De impossível penetração
Em seu fundo se situa
A maligna tabernação
O abismal xeol ou inferno
Ou eterna perdição
Das águas que irrigam a Terra
Operou uma junção
Definiu o solo firme
Deu-lhe delimitação
A Terra sob a abóbada
Não está em flutuação
Portanto são inexistentes
Rotação e translação
É estática e achatada
Alheia à movimentação
Quatro potentes colunas
Conferem-lhe sustentação
O sol e os outros astros
Giram com regulação
Encima está o Céu
De inexorável azulão
Embaixo o mundo das trevas
Onde Lúcifer é capitão
E o Supremo continuou
Sua edificação
Do trono celestial
Sem dúvida ou titubeação
Criou animais e monstros
Sábia equilibração
Mas criou outros animais
De fácil domesticação
Quinto dia da semana
Metáfora ou mitificação
No sexto dia resolveu
Com o barro do próprio chão
Fazer o primeiro homem
Deu-lhe o sopro da respiração
Descansou no sétimo dia
Talvez por fadigação
Entregou tudo ao homem
Com livre coordenação
O primogênito racional
Ganhou o nome de Adão
Depois de um profundo sono
Que o pôs em dormição
Deus arrancou-lhe uma costela
Bem próxima do coração
Dela deu existência a Eva
Prá amortecer a solidão
Dois seres puros e saudáveis
E dotados de compleição
Pôs ambos num paraíso
Um oásis no desertão
Com pomar em abundância
Pássaros, frutas e sombreação.
Quatro rios memoráveis
Faziam-lhe circundação
Fison, Geon, Tigre e Eufrates (Gn 2,10s).
Paradisíaca radicação
Os frutos do bem e do mal
Estavam em exposição
Se confundindo entre si
Em tácita misturação
Lá não havia doença
Dor nem efemeração
Malícia não existia
Nem na conjecturação
Viviam com a natureza
Divina harmonização
A pele era a vestimenta
Não se tinha acanhação
Deus dirigiu-se aos dois
Com uma admoestação
Não provar de alguns frutos
De boa degustação
Se desobedecessem as ordens
Sofreriam retaliação
Tornariam-se mortais
Cederiam à excitação
Perderiam a liberdade
Mudariam de condição
Sairiam do paraíso
Através da expulsão
Mas surgiu uma serpente
Fazendo provocação
Representando o Diabo
Hábil na persuasão
Ofereceu-lhes uma fruta
Na base da enganação
Dizendo que a fruta dava
Poder de desvendação
Quem a comesse enxergaria
Sem Qualquer limitação
O visível e o invisível
Sem fazer transplantação
Igualaria-se a Deus
No poder e autogestão
O casal caiu facilmente
Nas armadilhas do cão
Os dois devem Ter sentido
Irresistível atração
Comeram a fruta proibida
E entraram em depressão
Não pecaram pelo desejo
Mas por sua consumação
O diabo deu gargalhada
Pelo êxito da armação
Os dois se viram despidos
Fugiram sem orientação
Quando Deus apareceu
Só ouviu o carreirão
Adão e Eva envergonhados
Evitavam aproximação
Cobriram-se com uma folha
Que serviu de vestição
O Senhor severamente
Fez-lhes uma indagação
Por que foges assim de mim
Eu não sou assombração
Com certeza ignoraram
Minha determinação
Comendo o que proibi
Quero uma explicação
Adão respondeu foi Eva
Que me fez a sedução
Eva disse foi a serpente
Com sua sutil tentação
Deus se dirigiu aos três
Com a seguinte exortação
Para a serpente falou
Maldita de má intenção
Terás a cabeça esmagada
Os homens lhe pisarão
E ao casal foi dizendo
Sofrerás tribulação
Viverás do seu suor
Muitas dores sofrerão
Os sofrimentos do parto
Nas mulheres aumentarão
Mas aqui faço um adendo
Com a seguinte interjeição
Já existia dor no homem
Antes de seu escorregão
Pois só aumenta o que existe
Vale uma verificação (Gn 3,16)
Deus deixou Adão e Eva
Com temor e palpitação
Prosseguiu advertindo-os
Com celeste firmidão
Pisarás sobre as serpentes
E elas vos morderão
É a taça dos desobedientes
Teimosos e sem aferição
Desocupem o paraíso
Não suporto ingratidão
E Deus expulsou os dois
Com pesar e chateação
Juntos tiveram dois filhos
Com uma nítida distinção
Abel um humilde pastor
Agia sem murmuração
Caim era agricultor
Astuto e cheio de ambição
O segundo matou o primeiro
Instalou-se a desunião
O criminoso fugiu louco
Com a mente em ebulição
Fundou cidades a fora
Marcadas com a presunção
Multiplicou o gênero humano
Com seu ímpeto malsão
Adão e Eva tristonhos
Com a doméstica defecção
Deram à luz um outro filho
É a culpa em absorção
Set substitui Abel
Possível substituição
Deus veta a pena de morte (Gn 4,15)
Com sábia justificação
Adão foi quase qüiliasta
Mesmo com a extenuação
Novecentos e trinta anos
Foi a sua duração (Gn 5, 3-5)
Deus limitou a vida humana
Com certa relativização
Cento e vinte anos no máximo (Gn 6,3)
Com dores e angustiação
Outras histórias de homicídio
Têm sua certificação
Na própria Bíblia sagrada
Não se trata de ilação
Recorde-se, por exemplo,
De uma trágica confusão
Em que Moisés se envolveu
Assassinando um brigão
E outros inúmeros casos
De impossível anotação
O pecado de Adão e Eva
Maculou-nos por extensão
Surgiram os heróis míticos
Entre eles está Sansão
Muitos desafiavam a Deus
Cuja voz era o trovão
O Eterno e os humanos
Metiam-se em maquinação
Deus se arrependeu magoado (Gn 6,6-7)
Com nítida malogração
Criou o homem sem mácula
E sem precarização
Mas este ser imprevidente
De instinto e sem precaução
Sabotou o plano do Pai
Que sofreu restauração
Os mortais se corromperam
Pela própria volição
O Criador desgostoso
Decretou a destruição
Do universo inteiro
Como forma de punição
Designou então Noé
Para a seguinte missão
Construir uma grande arca
Compartimentada em seu vão
E em cada compartimento
Com critério e seleção
De cada espécie animal
Pôs dois pra procriação
Animais puros e impuros (Gn 7,8)
Tiveram preservação
Nomeou os próprios entes
Deu-lhes priorização
Filhos Cam, Sem e Jafet.
E noras sem denominação
E logicamente os netinhos
Mas sem nepotização
E assim que cerrou as portas
Caiu água em turbilhão
Um dilúvio em quarentena
Fora de comparação
Quem ficou fora da arca
Sucumbiu-se à inundação
Trovoada impetuosa
O Céu em faiscação
As águas foram deixando
As montanhas em submersão
Varreu da face da Terra
A existência de então
O equilíbrio geográfico
Sofreu craterização
Noé liberou um corvo
Para fazer inspeção (Gn 8,3)
Depois soltou uma pomba
Que teve rápida regressão
Sinal de que era impossível
Qualquer aterrisação (Gn 8,8-9)
Após 204 dias (Gn 8,3-12)
Deus mandou ventilação
Noé revestiu a pomba
De nova chancelação
Que retornou à tardinha
Com um sinal de acalmação
É que em seu bico fazia
A vital transportação
De uma folha de oliveira (Gn 8,11)
Provando a evaporação
Das águas que lentamente
Cederam à enxugação
Noé repetiu o gesto
Pôs a pomba em evasão
Que não regressou jamais
Partiu pra reprodução
Deus fez imprimir na Terra
Perene estigmatização
Cinco meses submergida (Gn 7,24; 8,3).
Sem sinal de insolação
O mundo retornou ao caos
Depois da ab-rogação
Porém o célebre dilúvio
Não teve universalização (Gn 7,19 rodapé)
Depois da divina catástrofe
Deus fez uma peroração
Negociou com Noé
Dando-lhe dignificação
Firmou com ele um pacto
Com paterna mansidão
De jamais destruir a terra
Em qualquer ocasião
Desde que o homem O tratasse
Com respeito e adoração
Noé aceitou os Termos
Da divina negociação
Firmaram uma aliança
Com valor de progressão
Noé deixou três herdeiros
Sêmen de proliferação
Que se estendeu até nós
A humana impregnação
Mas o homem é reincidente
Gosta de contravenção
É punido por um erro
Mas é sua obstinação
Arquitetar outro maior
Com incontida perpetração
Arquitetaram uma torre
De enorme verticalização
Prá ligar a Terra ao Céu
Além da constelação
A lendária Torre de Babel
Tinha altura e vastidão
Representava uma cultura
Em franca monopolização
Mas Deus frustrou os incautos
Pondo as mentes em obliteração
Desistiram do projeto
Por auto-bestialização
Mas o mundo sediava
Uma outra geração
Embora composta de homens
Susceptíveis à correção
Lá havia homens de peso
Do calibre de Abraão
Chanceler do Pai Eterno
Com plena autorização
Libertar o povo egípcio
Mesmo pela migração
Das garras do faraó
Homem sem introspecção
Deus selou com o patriarca
Um acordo ou convenção
Pelos dois ratificado
Com a bíblica circuncisão
Enquanto em Sodoma e Gomorra
Reinava a depravação
Deus enviou emissários
Pra fazer uma varrição
Mas lá só havia uma família
Apta à dialogação
Que no final se salvou
Da urbana execução
Lot e os seus descendentes
Fugiram da aviltação
Exceto a sua esposa
Que por teima ou distração
Fitou os olhos pra trás
Ficou sem motoração
Transformou-se numa estátua
De sal sem iodação
Sodoma foi destruída
Virou uma alagação
Lot e seus familiares
Fizeram sua oblação
Abraão homem de fé
De muita devotação
Pegou seu filho Isaac
Com a alma em pulsação
Quis matá-lo em sacrifício
Mas Deus viu a resolução
Agarrou-se em seus punhos
Dando-lhe inibição
E Isaac se salvou
Por divina apiedação
Nascem Isaú e Jacó
Rivais em altercação
Os humores se alternam
Brigas e reatação
Vê-se que era um período
De constante intrusão
José filho de Jacó
Foi vítima de vectação
Se tornou coisa venal
Objeto de permutação
Os próprios irmãos o venderam
Por pífia valoração (Gn 37, 12-36).
Mas deu a volta por cima
Como ensina o jargão
O faraó o consultava
Após onírica sonhação
Tornou-se autoridade
Política em ondulação
Fez uma reforma agrária (Gn 47,13-26)
Pra evitar mendigação
Israel viveu uma fase
De pujante medração
Porém oprimiu o povo
Com trabalho e com tacão
Levava-o ao cativeiro
Fazia deportação
Mas Deus sempre está atento
Nunca em hibernação
Um menino foi encontrado
Por sorte ou casualisação
Às margens de um certo rio
Na orgânica frouxidão
O faraó através da filha
Praticou a perfilhação (Ex 2,1-10)
Ganhou o nome de Moisés
Homem de péssima dicção
Deu bolo no faraó
Transformou-se num fujão
No caminho matou um egípcio (Ex 2,12)
E sepultou no areião
Fugiu para Madiã
Temendo degolação
Lá se casou com Séfora (Ex 2, 21-22).
Com quem teve um varão
Chocou-se com o faraó (Ex 5,1-22)
Resistiu à intimidação
Negociava homem a homem
Sem pensar em capitulação
O faraó inflexível
Não permitia a redução
De seus supremos poderes
Desconhecia a lassidão
Entretanto o Senhor Deus
Usou Sua atribuição
Dirigiu-se a Moisés
Dando-lhe designação
De pressionar o soberano
Com mais explicitação
Moisés não notou efeito
Na própria ponderação
Resolveu mudar de tática
Dando-lhe otimização
Atormentou o faraó
Em sua vacilação
Enviando-lhe dez pragas (Ex caps. 7-11)
O Egito virou um roldão
O faraó recuou
Sem qualquer alegação
Moisés instituiu a páscoa (Ex 12,1-51)
Primeira celebração
Pela saída do povo
Da faraônica privação
Os egípcios o perseguiram
Tentando recambiação
Moisés e seus Seguidores
Sofreram injuriação
Fizeram no Mar Vermelho
Tipo um corredozão
Atravessaram a pé seco
Entre águas em paredão
Os egípcios em seu encalço
Com felina aversão
Sucumbiram-se às águas
Morreram no borbulhão (Ex 14,15-31)
O povo que Seguia Moisés
Mostrava desanimação
Muito exausto e sedento
E sem alimentação
Revoltou-se contra o líder
Exigindo equação
Moisés quase em desespero
Mas com auto-disciplinação
Deu de vara no rochedo
Inteligente punção
Jorrou água em abundância (Ex 17,1-7)
Rezaram em gratidão
Deus se fez vê no Sinai
Fazendo ratificação
Da aliança celebrada
Quiçá uma supervisão
Instituiu o decálogo
Dez códigos da erudição (Ex 20,1-26)
E as tábuas da aliança
Na presença de Aarão
Época de idolatria
E de vulgarização
Via-se os poderes divinos
Em humana corrosão
Fazia-se bezerro de ouro (Ex 32,16)
Com pseudodivinização
Em sua volta praticava-se
Certa acotovelação
Moisés faz súplica a Deus
Com veemente imploração
É atendido de pronto
Sem qualquer delongação
Imprimem-se novas tábuas (Ex 34,1-35)
Sinal de reatação
Do rompimento do pacto
Unilateral rescisão
Epidemias de lepras (Lv caps. 13 e 14)
Os homens em infectação
Surgem as festas em Israel
Sabática consagração
A páscoa é comemorada
Com discreta animação (Lv 23, 1-14).
Festejam-se pentecostes
Espírito de elucidação (Lv 23,15-25)
Entra em cena Hamurábi
Com sua lei de Talião (Lv 24,10-23)
Chega o ano jubilar (Lv 25,8-55)
A terra em jubilação
Devolvida aos antigos donos
Sem qualquer danificação
Primeiro recenseamento (Nm 1,1-46)
Ou talvez patrulhação
Deus volta a falar com Moisés
Numa interiorização (Nm 7,89ss)
Fixou-se a data da páscoa
Histórica inauguração (Nm 9,1-14)
As trombetas ressoaram
Em celestial canção
Moisés partiu para o Sinai
Dando continuação
Ao resgate do seu povo
Santa responsabilização
Mas o povo descontente (Nm 11,1-9)
Fazia protestação (Nm 14,1-10)
Revolta em cima da outra (Nm 17,6-15)
Com os ânimos em exaltação
Protestava contra Moisés
Com calúnia e difamação
Preferia o cativeiro
À transitória sequidão
Queria adorar os deuses
Humana recalcitração
Moisés já impaciente
Com as forças em expunção
Deus irritado com o povo
Por causa da imprecaução
Enviou-lhe temíveis serpentes
Cheias de letal secreção
Mataram gente aos milhares
Com picada e envenenação
Moisés suplicou a Deus
Com sincera rogação
Deus o atendeu sem demora
Com a seguinte ordenação
"Faze uma serpente venenosa"
Ponha-a sobre posteação
Quem for mordido e olhá-la
Terá recuperação
Moisés lançou mão do bronze
E deu-lhe modelação
Quem a olhava tinha a cura (Nm 21,4-9)
Será idolatração?
Israel foi amaldiçoado
Pelo amonita Balaão (Nm 22, 1-41).
Este fez vários oráculos
Com histérica imprecação
Nesta época aconteceu
Uma nova cadastração
De todos os seres humanos
Em idade de lactação
O segundo recenseamento
Fruto da excogitação (Nm 26,1-65)
Da mente do próprio Moisés
Que com sábia disposição
Quis controlar sua gente
Para evitar dissensão
Ofereceu-se sacrifícios
Em forma de libação
Conquistou-se Canaã (Nm 33,50-56)
Pondo fim à dilação
Proibiu-se a idolatria
Auge da iluviação? (Dt 4,15-31)
Contexto em que os dez mandamentos
Tiveram republicação (Dt 5,1-21)
A terra é Dom de Deus
Dada ao homem com isenção
Não é propriedade privada (Dt 9,1-6)
Nem meio de obtenção
De riqueza a preço de vidas
Pela bala ou evicção
Perdoou-se as dívidas dos pobres
Que estavam em alçapão (Dt 15,1-11)
Instituiu-se os direitos humanos
Pra frear a empulhação (Dt 24,5-22)
Moisés bastante decrépito
Viu a própria expiração
Morreu aos 120 anos (Dt 34,1-12)
Deixou triste enlutação
Entretanto seu projeto
Não sofreu estagnação
O povo seguiu na luta
Sem desmobilização
Se revezando no comando
Dura peregrinação
Surgiram outras lideranças
Saul, Davi e Salomão.
Que pela Bíblia tiveram
Quase a canonização
Considerados justíssimos
Exemplos de retidão
Mas há histórias estranhas
De muita controversão
Um era quiçá ditador
O outro talvez garanhão
Salomão dominava o povo
E construía fortificação
Fez obras monumentais
Ergueu templo grandalhão
Saul era homem de guerra
Vivia em confrontação
Com o povo da Filistina
Buscando sua anexação
Já Davi se indispôs
Sem rifle ou aguilhão
Com o gigante Golias
Promoveu sua eliminação
Com uma funda tirou-lhe a vida
Mas isto é uma figuração
Por trás de tudo se encontra
Uma histórica emulação
Entre israelenses e filisteus
Que lhe deu perduração
Davi errou gravemente
Cedeu-se à prevaricação
Tomou a mulher alheia
Numa reprovável colusão
E assassinou seu marido
Por invejosa possessão
Mas tudo foi descoberto
Que desmoralização!
Porém Salomão seu filho
Herdou a entronização
Tornou-se sucessor do pai
Fez templos e realização
Com muita fama e destaque
Ganhou perpetuação
Homem sábio e muito justo
É a bíblica titulação
Mas há outros personagens
De humana protrusão
Por exemplo, os profetas.
Que fizeram a transição
Tirando do cativeiro
Um povo sem opção
Quarenta anos de êxodo
Fugindo da sujeição
Ora fome ora sede
Viajavam à exaustão
Rumo à terra prometida
Onde havia um ribeirão
Em que corriam leite e mel
E certamente havia pão
Mas o povo vez por outra
Demonstrava inquietação
Seus líderes ouviam tolerantes
Murmúrio e incompreensão
Mas com fé e perseverança
Forjaram a ambientação
Pra que o Verbo se encarnasse
Em uma pobre região
Os profetas se revezavam
Nas denúncias e repreensão
Contra os poderosos da época
Que sem comiseração
Escravizavam o povo
Com estúpida pretensão
Os apelos dos profetas
Tinham grande repercussão
Dos ricos recebiam protesto
Dos pobres tinham adesão
A ordem se revertera
Deus fez esta reversão
Na pessoa de Jesus Cristo
Selou-se a revelação
A divindade fez nascer
Muito próximo de Sião
Um menino bem distinto
Mas judeu por legação
Filho de um carpinteiro
Com uma virgem de tradição
Que outrora havia recebido
De um anjo a anunciação
Que seria a mãe de Jesus
Virgem e sem inseminação
Ela aceitou a proposta
Iniciou-se a fecundação
José ficou enciumado
Por não entender a gravidação
Queria expulsar Maria
Mas após uma reflexão
Entendeu e voltou atrás
Sem qualquer milindração
O infante foi desejado
Pelo patriarca Simião
Que por tê-lo visto nascer
Lacrimejou em profusão
Com a criança nos braços
E esboçando emoção
Disse que morreria feliz
Sem dor ou contristação
Pois seus olhos viram a Luz
Da divina iluminação
A criança mal nascera
Já atraía admiração
Mas da classe dirigente
Teve péssima recepção
Foi feito um recenseamento
Com a clara deliberação
De apanhar o recém-nascido
E fazer uma decapitação
Mas Ele e os pais se safaram
Da maldita orquestração
Dos três famosos reis magos
Acolheu a visitação
Que chegaram com instrumentos
E a mais bela entonação
Levavam consigo presentes
De profunda simbolização
Ouro, incenso e mirra.
Riqueza e aromatização
Filho unigênito do Pai
O somos por adoção
Jesus se desenvolvia
Na Doméstica ocupação
Como qualquer outra criança
Tinha materna proteção
Fugiram para o Egito
Por causa da perseguição
Com singular inteligência
Debatia com figurão
Iniciou a vida pública
Sem fazer alardeação
Na sociedade da época
Apontou a contradição
Se pôs ao lado dos pobres
Intransigente no sermão
Denunciou injustiças
Dos ricos contra o povão
Foi tentado no deserto
Repeliu o espertalhão
Ensinou o Pai Nosso
A famosa oração
Deu a cura aos doentes
Acalmou vento e tufão
Expulsou os maus espíritos
Fez-lhes exorcização
Nomeou os doze apóstolos
Por uma invocação
Falava usando parábolas
Pra provocar confusão
Pediu e foi batizado
Nas águas do rio Jordão
Quem ministrou o sacramento
Foi o seu primo João
O Messias pregou o reino
A esperança e o perdão
Recomendou a caridade
O amor e a comunhão
Andou a pé e de jumento
Em sua peregrinação
Trafegou-se sobre as águas
Sem sofrer afundação
Discursava com fluência
Na pura improvisação
Tinha coerência lógica
E perfeita elocução
Letrados e analfabetos
Captavam a lucubração
Com linguagem inconfundível
Não fazia divagação
Falou das bem-aventuranças
Proibiu a exploração
Almoçou com as prostitutas
Criou indisposição
Com os falsos moralistas
De trajes e perfumação
Banqueteou-se com Zaqueu
Um clássico fazendeirão
O célebre latifundiário
Pediu-Lhe atenuação
De seus inúmeros pecados
Valeu sua suplicação
Jesus era solidário
Com os sem-identificação
Sentiu a morte de Lázaro
Em silente lacrimação
Prezava-Se pelas crianças
Com materna mimação
Advogou pelas viúvas
Vítimas da apartação
Defendeu velhos e doentes
Jogados na isolação
Na rua abraçava os pobres
O mendigo e o beberrão
Foi em festas de casório
Quiçá tomou um pingão
Ou talvez dançou ao som
De corneta a diapasão
Porém em alguns momentos
Atuou com repressão
De chicote foi ao templo
Surrou e chutou vendilhão
Advertiu religiosos
Grupos, seitas e facção.
Perdoou a mulher adúltera
Sem qualquer imposição
Desafiou seus desafetos
Pondo-os em má situação
Queres mesmo apedrejá-la
Por sua adulteração?
Quem de vós for impecável
Faça logo a arremessão
Mas fugiram cabisbaixos
Foi a única reação
Jesus absolveu a mulher
Livrando-a da defedação
Foi-se embora pra que a luta
Tivesse prossecução
Opôs-se implacavelmente
Aos governantes de plantão
Anunciou o juízo final
E do mundo a dissolução
Contava com doze apóstolos
De muita estimação
Mas quando Jesus participava
Com eles de uma refeição
Meio tenso e emotivo
Fez uma declaração
Que um deles O trairia
Por escolha ou impulsão
Fez a páscoa com os apóstolos
Deu a todos saudação
Parece que durante a ceia
Jesus teve premonição
Pedro um homem de fé
Renovou sua profissão
Não tardaram a receber
O anúncio da paixão
Saiu para orar no Getsêmane
Com agônica transpiração
O seu espírito inquieto
Já previa a delação
Logo Judas Escariotes
Pôs-se em liquidação
Vendeu-se por trinta pilhas
Consumou a traição
Com um beijo entregou o Mestre
Que tomou um bofetão
Pedro sacou da espada
E sem muita aprumação
Deu um golpe e decepou
A orelha do centurião
Mas Jesus à sua maneira
Passou-lhe um repelão
Ordenou Pedro a fazer
Imediata reimplantação
Jesus se revelou o Messias
Sem medo ou pestanejação
Pedro foi interrogado
Por ordem do cherifão
Mas se esquivou da verdade
Temendo a detenção
Negou o Messias três vezes
Custou-lhe caro a negação
Jesus o aconselhou
Fazer compenetração
Mas Judas saiu com a mente
Fervendo igual caldeirão
Após entregar Jesus
Sentiu uma forte compunção
Saiu louco e suicidou-se
Pois sentiu perturbação
Cristo foi torturado
E julgado de supetão
No Sinédrio Ele foi vítima
Da mais vil conspiração
Com seus aliados ausentes
Votaram Sua condenação
Levaram-No ao governador
Forçaram a ratificação
Pilatos saltou no muro
Oficializou a omissão
Foi levado à praça pública
Pra que o povo sob incitação
Decidisse Seu destino
Mas houve cooptação
Ao lado de Cristo puseram
Um líder que cumpria prisão
Revolucionário convicto
Pregava a insubordinação
Chamava-se Barrabás
Que se saiu bem na questão
Pois Jesus foi condenado
E ele teve absolvição
Para Cristo gritaram: Morte!
Para Barrabás, ovação.
A pena que Lhe imputaram
Simboliza humilhação
Pois numa pesada cruz
Pregaram-No com judiação
E com três cravos de ferro
Fizeram a crucificação
Cuspido e pisoteado
Tratado como ladrão
Espancado e arrastado
Padeceu chicoteação
Puseram em sua cabeça
Com sarcástica gozação
Uma coroa de espinhos
Que causou perfuração
Em seu santíssimo crânio
Causando tumoração
Seus algozes insatisfeitos
Com a macabra vadiação
Feriram-No com uma lança
Fazendo esfacelação
Em seu peito e nos músculos
Saiu sangue em jorração
Angustiou-se ante a morte
Nunca se pousou de machão
A angústia é natural
Humana predicação
Mas encarou o calvário
Superlativa provação
Pagou com a própria vida
O ingresso da salvação
Seu cadáver foi entregue
Sob forte lastimação
Aos braços de sua mãe
Que com cárdio-trituração
O envolveu com um lençol
De brilhante branquidão
E depois O sepultou
Com honra e veneração
Mas os poderosos temendo
Alguma imprevisão
Colocaram sobre o sepulcro
Uma pedra em tampão
Mas Ele que tantas vezes
Pregou a ressurreição
Ressuscitou com três dias
Pôs o mundo em consternação
Porém o Seu corpo santo
Não sofreu putrefação
Mudou radicalmente de forma
É a chamada transfiguração
Manifestou-se às mulheres
Condenou a discriminação
Transformou-as em mensageiras
Da salvífica ressunção
Reapareceu aos apóstolos
Trancados em reunião
Tomé que sempre duvidou
Da notícia da ressurreição
Professou a sua fé
Sem qualquer tergiversação
Jesus dialogou com ele
Em forma de recriminação
Injetou ânimo no grupo
Mas esboçou certa aflição
Pois teria que deixá-los
Por divina petição
Que não cedessem ao desânimo
Deus lhes daria consolação
Enviando o Espírito Santo
Contra o medo e a indecisão
Retornou ao reino celeste
Deixando desolação
Mas enviou o Paráclito
Pombo da revitalização
Teve inúmeros Seguidores
Que deram continuação
À sua doutrina do amor
Sem fazer acepção
Inaugurou uma nova era
Deu ao homem outra visão
Neste ínterim os pais de Cristo
Tendiam à circunsessão
José certamente morrera
Com física degeneração
Mas a imprensa da época
Não lhe deu publicação
Maria foi levada ao céu
Em ritual assunção
Cá em baixo o Evangelho
Tinha a sua aplicação
Quatro apóstolos de destaque
Fizeram a primaz impressão
Os seguidores se espalharam
Em célere conflagração
Mas os poderosos e o diabo
Fizeram uma conexão
O chifrudo encarnou neles
Satânica verberação
Os algozes assassinavam
Provocavam dispersão
Recebiam em contrapartida
Diabólica gratulação
Muitos cristãos foram mortos
Sofreram inquirição
Pedro foi crucificado
De pé pra cima num mourão
Pra distinguir-se de Cristo
O infenso mandrião
Estêvão fez graves denúncias
Sofreu apedrejação
Muitos outros foram mártires
Da divina remissão
Queriam a conversão dos ricos
E dos pobres a libertação
Fundaram então uma igreja
Potente instituição
Batizando muita gente
Pra livrar da perdição
O primeiro papa foi Pedro
Cujo nome era Simão
Era o vice-rei de Deus
Tinha as chaves do portão
Se fechasse estava fechado
Era inútil reclamação
Se abrisse estava aberto
De Deus tinha a confirmação
Difundiu o cristianismo
Com vigor e convicção
Porém o Império Romano
Atacou com potreação
Perseguiu, prendeu e matou.
Agiu com extrapolação
Muitos lhe fizeram coro
Juntaram à deflagração
Pelo fim do cristianismo
E de sua importunação
Saulo entrou na jogada
Triste desorientação
Logo caiu do cavalo
Deu-se a regeneração
Converteu-se de repente
Teve a batismal unção
Tornou-se soldado da fé
Dando-lhe fermentação
Desde então trocou de nome
Não fez procrastinação
De Saulo tornou-se Paulo
E adotou a intinção
Tentou converter os gregos
Não fracassou na gestão
Conseguiu alguns adeptos
Sem prática da encravação
Mas seu pleito não foi fácil
O grego ama a cognição
Enquanto a verdade paulina
Tinha na fé seu condão
Paulo escreveu muitas cartas
De alerta à perversão
Foi franco com seus fiéis
Combateu a tapeação
Popularizou o Evangelho
Antídoto da divulsão
Jesus foi seu grande ídolo
Tirou-lhe a superstição
Do Cristo é que se originou
A terminologia "cristão"
Pôxa como é curiosa
A história da criação!
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2- Mas da referida história
Vou mostrar outra versão
Desta vez é científica
E com maior precisão
Segundo a qual o universo
Não é uma mítica invenção
Que há uns vinte bilhões de anos
Teve sua iniciação
No chamado Big Bang
Ou seja, grande explosão.
A partir deste momento
Foi ganhando dimensão
Os primeiros sinais de vida
Não tinham definição
Algas, vermes e invertebrados.
Do tempo começa a divisão
Surgiram os vertebrados
Moluscos em certa porção
Esponjas insetos e corais
Seres vivos com pulmão
Crustáceos e espécie de peixes
E anfíbios em formação
Uns gigantes outros minúsculos
Sem qualquer padronização
O surgimento de fetos
Tem ali sua datação
Répteis agigantados
De causar estupefação
É o caso dos dinossauros
Que não são mera ficção
Em Seguida os outros répteis
Com sua diversificação
Surgiram os primeiros mamíferos
E peixes com ossificação
Aves, árvores e mais mamíferos.
É a vida em expansão
Esta época registrou
Dos dinossauros a extinção
Surgem os primeiros primatas
Em pequena multidão
E os símios primitivos
Macacos em gestação
Roedores e camelos
Na escassa vegetação
Antepassados dos grandes símios
Começa a arborização
Antepassados do homem
Numa linha de sucessão
Seres mamíferos modernos
Africano e bretão
Espécies humanas primitivas
Início da povoação
Vivendo trepados em árvores
Como autoproteção
Temendo os animais predadores
Que formavam legião
Mas ao descerem das árvores
Por inata aptidão
Foram se esconder em cavernas
Lúgubres como porão
Viviam da coleta e da caça
E mais tarde da pescação
Aparecem outros primatas
É o período da glaciação
Paleolítico inferior
Da humanidade o embrião
Distante de Cristo em anos
Mais ou menos um milhão
Culturalmente falando
Ensaia-se a civilização
Época da linguagem falada
Homens em aglutinação
Descobrimento do fogo
Verdadeira revolução
Sepultamento dos mortos
Gênese da religião
Armas e utensílios de pedra
Através da confecção
Um passo mais adiante
Na periodicização
Entramos em outro período
De grande significação
Paleolítico superior
A história em gradação
É o mesmo neolítico
A que muitos fazem menção
Aqui as grandes mudanças
Chamaram muito àtenção
É a era das raças humanas
De perfil quase temporão
E dos animais atuais
Que não sofreram alteração
Homens mais desenvolvidos
Em grau de capacitação
Inventaram agulhas e anzóis
Instrumentos como o arpão
Instituíram a magia
A arte e a elaboração
Fundaram coletividades
Com leis e normatização
Também descobriram o bronze
O metal e a fundição
Praticaram o pastoreio
O nomadismo em projeção
As frutas escassearam
Aumentou a esfomeação
Adotaram a agricultura
Como meio de obtenção
De alimento e Segurança
Houve facilitação
Não precisaram andar muito
Atrás de manutenção
Inventaram a cerâmica
Período de construção
Fixaram-se em residência
É a sedentarização
Aperfeiçoaram os hábitos
Sem nenhuma constrição
Negociavam na troca
Tinham sua transação
Vivendo às margens dos rios
Aos quais tinham devoção
Pois as águas transportavam
Natural adubação
Que nas margens ia ficando
Nutrindo a plantação
Que os locais eram desérticos
Faltava solo-hidratação
Adoravam divindades
Faziam cultuação
Desenvolveram a astronomia
Astrologia e advinhação
Implementaram o comércio
Por meio da navegação
Inauguraram a escrita
Inteligente intuição
Inventaram a matemática
E a geometrização
Montaram um calendário
Com admirável perfeição
Veneraram estrelas e astros
Com intensa efusão
Deram forma às cidades
Pra melhor acomodação
Pioneiro foi o Egito
De que temos informação
Mesopotâmia e Grécia
Tiveram sua eclosão
Mas um fato curioso
Digno de comemoração
É que o "eterno" machismo
Não tinha a mínima expressão
O regime era ginecocrático
A mulher fazia preleção
Ela se juntou aos escravos
Contra a máscula opressão
Inverteu a ordem do mando
Conquistou reputação
Mas os homens muito astutos
Fizeram a destituição
Jogaram com a matemática
Usando a calculação
Confiscaram-lhe o poder
Não pensaram em devolução
As mulheres e os escravos
Retornaram à servidão
O domínio masculino
Jamais viu interrupção
Tornou-se patriarcal
Cujo símbolo era o ancião
Os mitos explicavam tudo
E a tudo davam coesão
Cada coisa tinha um deus
E os deuses tinham sensação
Muitos tinham forma humana
Metiam-se em competição
Enquanto a pólis crescia
Era visível a tensão
As crises forçaram o homem
A formular interrogação
Qual a origem das coisas
Da vida e da agonização
É a gênese do conhecimento
A filosofia em erupção
Com raízes nos Pré-socráticos
Precursores da especulação
Vai desembocar-se em Sócrates
O Cristo do mundo pagão
Que revolucionou a Grécia
Com a sua pregação
Ensinou política e ética
Sem temor ou preocupação
Colidiu-se com os sofistas
Os professores de então
Com sua famosa maiêutica
Provocou irritação
Nas lideranças políticas
Que lhe faziam acusação
De corromper a juventude
Causando instabilização
Na democracia de Atenas
Que do povo era um quinhão
E também por questionar
As divindades da nação
Foi condenado à morte
Conforme a preceituação
Invenenou-se com cicuta
Morrendo fez recomendação
A seus amigos mais próximos
Com serena resignação
Este sábio por excelência
Mestre e amigo de Platão
Seu discípulo de ombros largos
Que na história deixou o senão
Em seu rastro vem Aristóteles
Político por vocação
Que estabeleceu a diferença
Entre homem e cidadão
Disse que animais e humanos
Distinguem-se pela razão
Pela arte de governar
E pela comunicação
Aqui se fecha uma época
De fecunda retenção
Do conhecimento teórico
E de sua emanação
Passemos para outro período
De grande conturbação
E nos desloquemos pra Roma
Local de muita agitação
Governada por imperadores
Sem alma ou sensibilização
Ali o povo era escravo
Vítima da tripudiação
É o auge do Império Romano
O mundo em multifurcação
Grécia e Roma em concorrência
Sem uma frontal colisão
Parece que o cosmos fechou-se
Num clima de apreensão
A Ásia se inseria
Neste insólito aluvião
Nasceu a mais antiga crença
Conforme documentação
É o chamado hinduísmo
De grande aglomeração
Fundado há 35 séculos
Teve notória difusão
No século VI antes de Cristo
Outras crenças se Seguirão
O budismo e o jainismo
Constróem seu próprio forção
Confucionismo e taoismo
Ganharam efetivação
E por último o xantoísmo
Nesta minha declinação
Os três primeiros na Índia
Fundadores sem alusão
Os dois Seguintes na China
E o último no Japão
De outra parte o Oriente
Buscava afirmação
Os pobres eram espezinhados
Vítima da pisoteação
As mulheres representavam
A mais Terrível maldição
Estrangeiro não tinha direitos
Só deveres e obrigação
Não se via nele gente
Mas infenso azarão
Deportado ou aprisionado
Era posto em submissão
Neste contexto nasceu
Em um distante rincão
Um excepcional menino
De rara intelecção
Filho de um carpinteiro
Com uma jovem em pendão
A criança aos doze anos
Privou-se de aparição
Não se tem qualquer registro
Desta Sua retração
Provavelmente estudava
Pois demonstrava instrução
Na casa dos trinta anos
Foi a Sua reaparição
Denunciou injustiças
Enfrentou caluniação
Pregou um reino divino
De amor e reconciliação
Sua palavra não teve
Unânime aceitação
Foi condenado e morto
Acusado de subversão
Deixou muitos Seguidores
Com uma enorme frustração
Pois quem dizia ser a vida
Foi morto no tapetão
No terceiro dia ressurgiu
Da fúnebre inumação
Regressou ao lar celeste
Na majestosa ascensão
Seus apóstolos se reuniram
Fundaram uma organização
Chamada Igreja Católica
Simão Pedro era o chefão
Em seu poder estavam as chaves
Do eterno galardão
Por ele se acessava ao céu
Com santa burocratização
Porém foi instituída
A chamada obvenção
O cristianismo nascia
Por outra fatoração
Entrou na Idade Média
Com forte estruturação
Imiscuiu-se na política
Sem a mínima hesitação
Assimilou o feudalismo
Multiplicou sua fração
Escolhia e excluía monarcas
Conforme sua arbitração
Submeteu o saber racional
À teológica dominação
Porque este poder era
O legítimo guardião
Dos saberes do Céu e da Terra
Ao qual não se dizia não
Combateu as outras crenças
Históricas e de tradição
Desviou-se de seu zênite
Abraçou a perversão
Deu prá vender indulgências
Pôs o Céu em loteação
Para angariar dividendos
Com uma objetivação:
Construir uma basílica
Símbolo de ostentação
As bases econômicas em crise
Passavam por transformação
Um monge agostiniano
De prestígio e posição
Chamado Martinho Lutero
Opôs-se de prontidão
Enfrentou o sumo pontífice
Que se chamava Leão (X)
Em resposta recebeu
A sumária excomunhão
Popularizou a Bíblia
Com outra interpretação
Para deter os protestantes
A igreja em reunião (concílio)
Voltou pra dentro de si
E fez uma revisão
Promoveu a Contra-Reforma
Ganhou oxigenação
Passou para a ofensiva
Sem a menor oscilação
Fundou a Companhia de Jesus
Deu-lhe suprajurisdição
Instituiu um tribunal
Da chamada inquisição
Para punir os "hereges"
Refratários à conversão
Que eram mortos em fogueiras
Sem a mínima compaixão
Mulheres as maiores vítimas
Dessa alucinação
Eram seres "inferiores"
Fontes da fornicação
Eram tratadas de bruxas
Por dar aos desejos vazão
Joana D'Arc é o símbolo
Da mártir renovação
O saber também foi vítima
Da santa incompreensão
Mas foi graças à ciência
Que fizeram incursão
"Descobriram" muita terra
Puseram o mundo em leilão
A mitra e a coroa
Firmaram uma coalizão
Colombo descobre as Américas
Prenúncio da colonização
Exterminou os nativos
Nove por cento de um bilhão
Inca, Asteca e Maia.
Impérios sem imitação
Os espanhóis promoveram
Sua célere evaporação
Os portugueses com Cabral
Partiram com embarcação
Querendo a banda do mundo
Quase obteve concreção
Conquistaram o Brasil
"Por sorte" e sem prospecção
Das riquezas naturais
Empreenderam extração
Irromperam-se contra os "índios"
Com a Bíblia e a catequização
Saquearam os nativos
Começou a exterminação
No auge da renascença
Muita gente virou carvão
Abelardo amargou
As agruras da castração
Giordano e Galileu
Provam esta constatação
De que a teologia vetava
A mais tênue inovação
Mas o vento das mudanças
Superou a trepidação
Invadiu os tempos modernos
Com impetuosa tração
Ergue o absolutismo
Do ouro é a glorificação
A Europa é sacudida
Por crises e exasperação
As revoluções em série
Disto é a confirmação
A Inglaterra virou ao avesso
Com a industrialização
Surge o iluminismo
As luzes em deflagração
Na América os EUA
Decretam emancipação
Na França o "Ancien Regimen"
Vê a própria precarização
Os liberais roubam a cena
Escrevem e fazem previsão
Marx, Engels e Lênin.
Homens de rica percepção
Abriram uma cruzada
Contra burgueses e patrão
Pregaram o fim do Estado
E do capitalismo interpelação
Porém os seus ideais
Foram vítimas de distorção
Em 1917
Sob marxista inspiração
A ex-União Soviética
Deu-lhes concretização
Em meio à Grande Guerra
Que estava em ativação
Dando origem ao fascismo
Nazismo e stalinização
Que macularam a história
Com os campos de concentração
A Segunda Grande Guerra
Matou judeus em montão
Hitler foi o mais destacado
O sanguinário alemão
Perdeu a guerra mais deixou
Quem lhe tem consideração
Inclusive em nossa terra
Apesar da proibição
Em Cuba o povo bradou
Contra a deterioração
De sua altiva ilha
E ensaiou uma purgação
Mas a virada cubana
Soou como ocisão
Em 1959
Houve drástica oclusão
Do regime autoritário
Que já sofria contração
Flugêncio Batista fugiu
Após sua deposição
Fidel Castro assumiu
Sob externa colimação
Com o auxílio de Che Guevara
Iniciou a reestruturação
Até hoje é venerado
Com patriótica gamação
A ilha enfrenta embargos
Político-econômica sanção
Pois o mundo consumista
Há tempo quer-lhe sumpção
Adoram o capitalismo
Deram-lhe beatificação
Mas malham o socialismo
Com áspera satanização
Cuba se autogerencia
Sem ensaiar rendição
O povo é pobre, mas altivo.
Orgulha-se da eigenfunção
Porém de lá importamos
Sabedoria e injeção
Cura para o venteligo
Lúpus e uma série de infecção
Meningite tipo B
Calvície e despigmentação
E tem hospitais que tratam
Vítimas de radiação
Na Europa havia ingerência
Da ocidentalização
O mundo cindiu-se em dois
Tensa polarização
Capitalismo x comunismo
Bélica rivalização
É a corrida armamentista
As potências quase em fusão
Plena guerra nas estrelas
Satélites em orbitação
Era atômica ou guerra fria
Esquizofrenia do anão
O destino do Planeta
Retido em um botão
Cá na América Latina
Lançou ramificação
Nos quatro cantos do globo
Campeia a corrupção
Presenciamos passivos
Guerras e devastação
O imperialismo voltou
Com a avidez de dragão
Do lado de cá das Américas
É grave a desencantação
No Chile o general Pinochet
Liderou um esquadrão
Deu um golpe de Estado
Pôs o exército de prontidão
Matou Salvador Allende
Governou com um ferrão
Suprimiu direitos humanos
Com sistemática violação
Sob auxílio americano
Que lhe emprestou espião
Não se restringiu ao Chile
A externa intromissão
Deixou os demais países
Em social convulsão
Por exemplo, o Brasil.
Que perde em pontuação
Em matéria de injustiça
Nosso país é campeão
O fosso entre pobres e ricos
Escapa à mensuração
O nosso histórico político
Nos causa arrepiação
Em março de 64
Sofremos uma nevoação
Derrubaram João Gulart
Que fazia implementação
Do regime socialista
Com nacionalização
Mas as elites brasileiras
De pijama e em atuação
Puniram a democracia
Com três décadas de reclusão
Emudeceram muita gente
Com tortura e até canhão
Baniu os opositores
Por meio da vasculhação
Cassou direitos políticos
Dos líderes da oposição
Mas a sociedade forçou
A redemocratização
No ano de 1984
Saiu-se da exanimação
O povo encheu ruas e praças
E exigiu derrogação
Do inflexível regime
E de sua condução
Os comícios pelas diretas
Tiveram multiplicação
Dos gigantes movimentos
Nos resta recordação
Parecia haver explodido
A válvula de escapação
Na luta por liberdade
Enfrentava-se pelotão
Em uníssona voz cobrava-se
Uma nova constituição
Postergaram as diretas
Por notória motivação
Foram ao pário dois candidatos
De distinta concepção
Tancredo Neves e Muluf
Linhas em contraposição
O primeiro liberal
Mineiro de reputação
O segundo reacionário
Direitista em imersão
O colégio eleitoral
Decidiu em votação
Escolher Tancredo Neves
Político de fascinação
Para reconduzir o país
Sem tanta traumatização
A nação comemorou
Maluf chupou o dedão
Misteriosamente Tancredo
Sofreu uma internação
Justo no dia da posse
Foi parar no cirurgião
E a cada dia se submetia
A uma séria incisão
Para encurtar a conversa
O desfecho foi o caixão
Sarney que era seu vice
Por uma composição
Em março de 85
Em meio àquela comoção
Tomou posse prometendo
Rápida reestruturação
Na política e na economia
Não combateu o intrujão
Os preços estavam nas nuvens
Salários em diminuição
Em fevereiro de 86
Nos impôs um pacotão
O povo bem patriota
Deu sua colaboração
O cruzeiro foi extinto
Substituiu o cifrão
A moeda perdeu zeros
Deteve a remarcação
Tabelou preços e salários
A SUNAB entrou em ação
Mas os grandes produtores
Fizeram boicotação
Esconderam os produtos
Indispensáveis ao fogão
Desabasteceram o país
Que saía da mornidão
Mas a polícia federal
Equipada de avião
Entrou em fazendas de bois
Fazendo confiscação
Porém não passou de um mote
Seguido de decepção
Em novembro do mesmo ano
Realizaria-se eleição
Na esfera estadual
Onde por sufragação
Também ficou escolhido
Com força de representação
Um congresso constituinte
Para iniciar a redação
Da Carta Magna brasileira
Símbolo da reabilitação
Do regime democrático
Que sofrera subtração
O PMDB de Sarney
Com forte hegemonização
Fez vinte e dois governadores
Quase que um arrastão
Mas após abrir as urnas
E ter a conferição
De que saíra vitorioso
Fez um tremendo papelão
Anunciou o fim do cruzado
Imprimiu nova edição
Elevou a taxa de juros
E decretou um tarifão
Deixando o país furioso
E o governo sem legitimação
Em fevereiro de 87
Com pompa e formalização
O processo constituinte
Teve sua instalação
Criou o PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária)
Que causou a insurreição
Dos proprietários de Terra
Que em forte articulação
Fundaram a UDR (União Democrática Ruralista)
Pra impedir a reformulação
Da estrutura fundiária
Que é uma aberração
Ronaldo Caiado era o líder
Da nefasta agrupação
O parlamento cedeu
Fazendo-lhe concessão
O latifúndio venceu
Com a força do centrão
Onde a direita formava
Seu lobby ou agregação
Truncou a Reforma Agrária
Partiu pra execução
De lideranças sindicais
Na base da fuzilação
Matou muitos lavradores
E quem lhes dava apoiação
Religiosos e advogados
Têm-se mártires em coleção
Conclui-se a constituinte
Com enorme maculação
Outubro de 88
Data da promulgação
A carta garantiu direitos
Mas servem de decoração
O cruzado II caiu
Os preços foram a Plutão
Sarney muito desgastado
Seu governo em dispersão
Ele achatou o salário
Que sumia com a corrosão
Instituiu um gatilho
Ou falsa reposição
Pôs a polícia contra o povo
Que em retribuição
Dirigia-se ao presidente
Com deboche e hostilização
O Brasil cruzava os braços
Em semanal manifestação
Houve um surto inflacinário
Semelhante a um furacão
No Oriente Salman Rushdie
Provocou escoriação
Na teocracia iraniana
Que rechaçou a perquirição
E em revanche colocou
Sua cabeça em premiação
Seu livro "Os versos satânicos"
Ofendeu o Alcorão
O Brasil ficou de luto
Com a morte de Gonzagão
Raul Sexas e Drumond
Deixaram lacunação
Gonzaguinha se foi precoce
Maldita trafegação
Em meados de 89
O mundo da monetarização
Presencia reviravoltas
Com ar de deleitação
Vendo o socialismo em crise
Com prazer e sofreguidão
Na Europa as Alemanhas
Celebram a unificação
Pois o muro de Berlim
Se foi em demolição
A grande União Soviética
Em plena desagregação
O líder Mikhail Gorbatchev
Comandou a deserção
Com a glasnost e a Perestroika
Deu seu último empurrão
Na China de Mao Tsé-Tung
Houve espavorização
A praça da Paz Celestial
Virou aterrorização
O aparato de guerra
Sob ordens do partidão
Massacrou a juventude
Que exigia modificação
No denso regime chinês
Mas Pequim não tem flexão
Na Polônia o Vaticano
Com a sua imisção
Aliou-se ao capitalismo
Com evangélica "imolação"
Destronou o comunismo
Com assumida indiscrição
E o resto da Europa
Tinha interligação
Mas retornemos ao Brasil
Após esta digressão
É que o pleito de outubro
Estava em aproximação
Em Alagoas existia
Um governador fanfarrão
Vaidoso e bom de bravata
Perito em exibição
Arrogante e prepotente
Fez autonomeação:
Caçador de marajás
Mas provou-se trapalhão
Seu figurino ganhou
Vastíssima divulgação
Candidatou-se a presidente
Com pose de bonitão
Fez campanha milhonária
Num país sem dentição
Disputou com um operário
De origem no sertão
Homem humilde do povo
De honra posta à provação
Nos debates o operário
Desbancou o medalhão
Mas setores da imprensa
E um canal de televisão
Distorceram a realidade
E montaram uma encenação
O candidato-embalagem
Sucumbiu à empolgação
Com mentira e baixaria
E truque de baixo calão
Provou que não possuía
Equilíbrio e moderação
Ao ver o adversário
Com força e respaldação
Como já estava na véspera
Da histórica escrutinação
Foi ao nível pessoal
Num gesto de desesperação
Enquanto o oposicionista
Com uma campanha de tostão
Crescera do dia pra noite
Assustando o miolão
Da elite brasileira
Foco da acumulação
No dia 17 de dezembro
Quase que um feriadão
Os cidadãos foram às urnas
Numa enorme demonstração
O Brasil verde-amarelo
Bandeiras em tremulação
Elegeram o saqueador-boy
Talvez por um cochilão
O Senhor Collor assumiu
Parecendo um meninão
Começou a rifar o Brasil
A título de doação
Cercou-se de oportunistas
Profissionais em sucção
Transferiu de seu Estado
Sem qualquer pudoração
Os marajás pra Brasília
Onde fizeram usurpação
O célebre PC Farias
Era o principal mandão
Nas entranhas do governo
Prescindia de permissão
Zélia Cardoso de Mello
Ministra da defraudação
Expropriou a poupança
De toda a população
Tributou a aposentado
Com funesta taxação
Nomeou o Rogério Magri
Sindicalista pelegão
Pra ministro do trabalho
Foi uma sacaneação
Recebeu trinta mil dólares
Na base da subornação
E assim o "Brasil Novo"
Teve notabilização
A "República de Alagoas"
Perdia a mascaração
Por ciúme do poder
Collor brigou com o irmão
Pedro Collor abriu a boca
E expôs a podridão
O Brasil estarrecido
Ergueu-se da prostração
Exigiu do parlamento
Uma rápida intervenção
Instalou-se uma CPI
Pra fazer investigação
O governo collorido
Estava sob suspeição
Falcatrua a três por quatro
Chantagem e muita extorsão
As entidades assinaram
Uma formal apelação
Pedindo que se instalasse
O processo de cassação
Contra o senhor Fernando Collor
Por crime de concussão
E o ministério público fez
Denúncia de inaptidão
Defendendo o seu impeachment
Conforme a legislação
No final de 92
Crescia a indignação
O Brasil saiu às ruas
Pela moralização
Ulisses morreu no mar
De um aéreo mergulhão
Certamente transformou-se
Em merenda do salmão
Os jovens cara-pintadas
Fizeram sua marcação
Collor foi à TV e fez
Em grau de desafiação
Apelo para que o povo
Desse-lhe corroboração
Vestisse verde-amarelo
Mostrando conformação
O povo atendeu ao pedido
Mas com uma observação
Vestiu-se todo de preto
Símbolo da contestação
Em 29 de Setembro
Numa histórica sessão
A Câmara aprovou o impeachment
E afastou o falastrão
Enviou o processo ao Senado
Para a legal apreciação
O seu vice Itamar Franco
Assumiu a governação
Mesmo interinamente
Até a final solução
Porém com noventa dias
Anunciaram a decisão
O Senado cassou Collor
E a sua habilitação
Oito anos sem vida pública
Com os direitos em suspensão
O Brasil caiu no frevo
Esbanjando gratidão
Itamar foi impossado
Sem muita bajulação
Nomeou Fernando Henrique
Um homem de conceituação
Para ser seu chanceler
Que respondeu com afeição
O sociólogo assumiu
Com incontida empolgação
Depois foi remanejado
Quiçá por própria solicitação
Para o ministério da fazenda
Em época de aceleração
Do processo inflacionário
Causa da debilitação
Da economia popular
Vítima da degradação
Criou o plano real
Controlou a inflação
Estávamos em 94
Parece repetição
Um ano eleitoral
Liberou-se a gastação
As eleições eram gerais
Com grande patrocinação
FHC se candidatou
Por uma miscigenação
De partidos de direita
Históricos em causar lesão
Na economia do país
Sem sofrer incriminação
Escolheu para seu vice
Um famoso raposão
Chamado Marco Maciel
Um ambulante macarrão
Venceu Lula do PT
Fez do país um bingão
Escancarou a economia
Promovendo demissão
No funcionalismo público
Que sempre foi o bordão
Os setores segurança
Saúde e educação
FHC os atirou
No lixo da sucateação
Esqueceu dos brasileiros
Só pensava em reeleição
Para vê-la aprovada
Fez do congresso um balcão
Onde se barganhava votos
Como se vende mamão
A moeda era dinheiro
Ou cargos no alto escalão
Um pastor chutou uma santa
Burra fanatização (1996)
Os católicos enfurecidos
Queriam sua linchação
Neste ínterim no governo
Havia malversação
O governo escolheu
O setor público como vilão
Alguns ministros foram pegos
Com a boca no botijão
Cinco anos sem aumento
Crítica subordinação
Foi acometido de um mal
Síndrome de privatização
Loteou as estatais
Instituiu-se um pregão
Pois doou todo o dinheiro
Aos bancos em falimentação
O desemprego disparou
Não se fala em admissão
Tratou o povo de caipira
Com total depreciação
Agrediu os aposentados
E os velhinhos de bastão
Desrespeitou inclusive
Os que vivem de pensão
Investiu em propaganda
Pra limpar o arranhão
Prometendo gerar emprego
Repetiu a ludibriação
Disputou com Lula de novo
Fez escandalização
Disse que se o PT ganhasse
Era a anarquização
Acabaria com o real
E com a estabilização
O caos se instalaria
Sem haver remediação
Reelegeu-se no primeiro turno
E a crise ganhou combustão
O desemprego duplicou
Agravou a exclusão
Falências e concordatas
Firmas em desativação
Aumentam tarifas públicas
Cresce a favelização
As pestes medievais
Ganharam alastração
Se não priorizam a fome
E a sua erradicação
Querem curar as doenças
Mais complexas que a desnutrição
A violência explodiu-se
Triplicou a sedição
Cresce a criminalidade
É difícil a punição
As leis são feitas pra pobres
Delas foge o tubarão
A justiça é uma tartaruga
Com eterna lentidão
As cadeias se explodindo
Pela superlotação
O salário mínimo é menor
Que o salário do Gabão
O narcotráfico deita e rola
Não temos mais guarnição
Polícia despreparada
Sem arma ou sem munição
O povo não enche a barriga
Mas lota o camburão
Nas batidas policiais
Dá ambulância ou rabecão
Multidões de brasileiros
Morrem de inanição
Sobram sem-terra e sem-teto
Forçados a fazer invasão
Assaltantes promovendo
Por dia uma rebelião
Dividem espaço com quem
Cometeu leve infração
As cadeias são cenários
De fugas e amotinação
O povo sendo forçado
A dobrar a "contribuição"
Para a previdência social
Que tem péssima administração
Os direitos sociais
Tiveram sua remoção
Da lei máxima do país
Chamam a isso modernização
O FMI todo mês
Vem aqui passar lição
Cultua o "santo" mercado
Atribui-lhe redenção
O presidente de joelhos
Faz-lhe genuflexão
A dívida externa é impagável
Já fizemos sua quitação
A nossa dívida interna
Supera meio trilhão
Isso em números de hoje (11/1999)
Pois logo eles dobrarão
Doou nossa soberania
Por um riso amarelão
Vendeu nosso patrimônio
Em péssima alienação
Viaja mais que notícia
Vive vendendo ilusão
Por onde viaja recebe
Presente e condecoração
Mas em seu próprio país
Tem alto índice de rejeição
Domina vários idiomas
Mas não sabe falar FEIJÃO
É estrangeiro no Brasil
Nunca foi a um verdurão
Chama opositores de bobos
Governa sob tropeção
Apesar de poliglota
Cede à precipitação
Quando os problemas o arrocham
Entrega-se à lamentação
Analisa as próprias crises
Com a monetarização
A tudo acha "normal"
É mestre em achincalhação
Desdenha os opositores
Só ele é o sabichão
Assiste de camarote
A crescente marginalização
O povo confia seu voto
É tratado como excreção
A política e o narcotráfico
Selaram acasalação
Parlamentares e governantes
Triplicam seu dinheirão
Depositam na Suíça
Andam com cheque e cartão
Votam seus próprios salários
Rápido como a zelação
Mas para aumentar o Mínimo
É a maior enrolação
No dia de aprová-lo
Muitos fazem obstrução
Discursam contra a pobreza
Com hipócrita nugação
"Morrem de amor" pelos pobres
Abraçam-nos "sem restrição"
Mandam-se, pois o povo "fede”.
E causa regurgitação
Os ricos deste país
São mestres em simulação
Nem um sequer foi punido
Por roubo ou sonegação
Continua correndo frouxa
A prática da espoliação
Os honestos que se cuidem
Pois querem sua execração
Pôxa como é massacrante
Esta globalização!