Soltaram o Burro!

Cronistas amadores são obrigados a criar várias formas de garimpar nos rios do cotidiano, para encontrar e selecionar pedras, a fim de lapidá-las, transformando-as em crônicas.

Uma das formas, por mim mais usadas, é sair para tomar um café e, de certa forma imprópria, ouvir a conversa do próximo, literalmente. Outra, como bom ouvinte, atrair contadores de “causos”. A última experiência foi garimpar nas redes sociais “on line”.

Pois bem, ontem, ao garimpar numa dessas redes, encontrei material para trabalhar.

O autor da postagem publicou fábula, relacionada ao mais corrente dos temas, coerente com o estágio dessa república apodrecida e desgastada, a corrupção sistêmica Brasil. Certamente, devemos esse resultado aos seus poderes.

Nesse nosso mundo de tecnologia e virtualidade, existem duas operações por demais utilizadas, copiar e colar. Fruto dessas duas operações, a seguir a fábula:

Havia um burro amarrado a uma árvore, ai veio o demônio e o soltou.

O burro entrou na horta dos camponeses vizinhos e começou a comer tudo.

A mulher do camponês dono da horta, quando viu aquilo, pegou o rifle e disparou.

O dono do burro ouviu o disparo, saiu, viu o burro morto, ficou enraivecido, também pegou seu rifle e atirou contra a mulher do camponês.

Ao voltar para casa, o camponês encontrou a mulher morta e matou o dono do burro.

Os filhos do dono do burro, ao ver o pai morto, queimaram a fazenda do camponês.

O camponês, em represália, os matou.

Aí perguntaram ao demônio o que ele havia feito e ele respondeu:

– “Não fiz nada, só soltei o burro”.

Muitos comentários sobre a postagem e, praticamente, todos relacionados: à decisão de nossa suprema corte alterar, mais uma vez, o entendimento sobre a “prisão em segunda instância”; e aos efeitos da mesma.

Existia conclusão contida na maioria dos comentários: “se quiseres destruir uma comunidade, solta o burro”.

Entretanto existia, um comentário, pedra selecionada, para ser trabalhada e transformado em crônica.

O comentário indicava solução, que somente não foi viável, dada a cegueira pelas vendas das paixões,

O comentário nos desnuda na polaridade anjos e bestas. A soltura demoníaca do burro, na fábula, não teria causado tanta violência e mortes se os seres protagonistas não fossem dominados pelo polo instintivo, pelo passional e irracional.

Se os seres protagonistas estivessem noutro estado de consciência, capazes de se orientarem mais pela racionalidade do que pelo fanatismo, produto chefe da passionalidade, teria sido outras as consequências da soltura do burro.

A solução encontrada por seres em outro estado civilizatório, diferente desse bárbaro, mesmo com a esperada e nefasta ação do demônio, na fábula, teria sido: se organizarem para numa ação coletiva: voltarem com o burro para uma situação de imobilidade, com tanta segurança, que até mesmo o demônio teria dificuldades em soltá-lo; e, em mutirão, reconstruíssem os danos causados pela soltura do burro.

A racionalidade, geradora da não violência, teria evitado praticamente a falência da comunidade rural pela passionalidade da violência geradora de morte e destruição.

A segurança da comunidade rural e a paz teriam sido asseguradas.

A fábula, então poderia ter sido escrita dessa outra forma. Mesmo com os demônios soltando o burro, a comunidade de camponeses estaria num estado civilizatório capaz de dominar as paixões e encontrar soluções racionais, pacíficas e preocupadas com a segurança e paz na vida da comunidade.

Então a conclusão nesse novo contexto poderia ser: “Não adiantou o demônio soltar o burro, porque a comunidade soube se organizar e restabelecer a ordem e a estabilidade”.

Textos relacionados, inclusive o primeiro "estratégia Eficaz contra a Impunidade", previu com bastante precisão, os fatos confirmados neste meio de primavera de 2019.

ESTRATÉGIA EFICAZ PELA IMPUNIDADE

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/6304486

IMPUNIDADE! REDUZIR OU MANTER, EIS A QUESTÃO http://www.recantodasletras.com.br/artigos/6790931

J Coelho

J Coelho
Enviado por J Coelho em 12/11/2019
Reeditado em 12/11/2019
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