NÃO DESEJO VIAJAR NO ESPAÇO SIDERAL

Meu filho, meu pequeno, certa vez que me dei conta que não quero estar rumo às estrelas, não desejo viajar no espaço sideral, foi quando descobri que a vista da Terra é mais bonita. Para que ir tão longe e ver a beleza de perto, se daqui desse exato ponto eu enxergo tudo tão claramente? Enxergo as nuvens de gases, as estrelas, o céu imenso o qual me foi dado. Eu voo porque gosto da ilusão de que sou livre. Mas não vou além, porque me tornarei livre. Talvez eu precise dessa prisão, precise desse limite. Qual a beleza da liberdade já obtida? Prefiro a liberdade almejada.

Meu querido, eu posso explicar. O céu não me pertence, logo irei findar no seco dessa terra. O céu não é o limite. Eu quero o limite para que ainda haja para onde transbordar e a sensação da prisão para que haja liberdade.

Não, não entenda mal... Eu não quero a felicidade para ser sempre triste, mas quero para que ainda haja tristeza. Não a miséria, mas a culpa. Quero a sensação do suficiente para que haja o além.

Eu não quero temer a morte, mas a ela temo. Eu não quero perder a vida, mas todo dia eu perco um pouco dela. Eu não quero estar preso, mas eu sempre estarei. Preciso desfrutar do que não é óbvio sentir, desfrutar das incertezas da vida.

Não, ainda está com dúvida em relação a mim... Mas que bom que duvida. Quero espaço para a depressão, para que então surja novamente a esperança. E os que não têm esperança, que acabe logo o sofrimento.

Eu não quero espaço, quero a falta dele, para então transbordar para um ponto fora dessa dimensão. Quero tudo a princípio, o fim. E do fim ressurgirá.

(Conversa de Fernando Rodrigues com seu filho Hermes - O Poeta Aviador)