Ele voltou graças a Deus, trabalhadores...

Estava jogando pingue-pongue pela rede mundial de computadores (e perdendo) quando ela chegou feliz da rua. Na minha vez a bolinha rebatida quase acertou-me o olho. Detestava interromper esse momento adulto selvagem de reflexos. Ela permaneceu imóvel na porta. Tentou expressar algo. Joguei as raquetes on-line para o alto e agarrei seus ombros firmemente. Seus olhos estavam doces e felizes.

- Desabafe que a felicidade anda rara.

- Ele ganhou...

- Ganhou o quê?

Neste ponto pensei no velho Evaristo desempregado. Imaginei seu Obá, empregado, respirando liberdade, carteira assinada e salário digno. Recordei Jolie, desempregada, apenas vivendo do corpo. Passou-me pela cabeça todos os bons amigos desempregados. Sonhava para estes amigos um ótimo trabalho com estabilidade no emprego. Permanência devia ser bandeira da família moral nacional. Deixaram esta para culpar a oposição.

Só uma ideologia sonsa desvia o olhar da estabilidade pendendo seus filhos para a instabilidade social. Apurando os próprios lucros da política empregatícia, sedenta de vacância, para um gigantesco cabide de emprego. Sonhava para estes amigos um tempo de trabalho com estabilidade. Estabilidade no emprego devia ser bandeira da família protéica nacional. Nada... Até o Moreira poderia ter uma família digna, decente, sem que um breve chute na bunda o levasse ao desespero, ao suicídio ou a franca ilegalidade. Só o morro é difícil de compreensão pelo noticiário. As casinhas simples, a desassistência...

Acertei com meus próprios botões o seguinte: Eustáquio havia recebido o grande prêmio da loteria. Foi isso. Essa promessa anestésica da massa fracassada que conjuga o momento milagroso somente nas exceções. Alegra-se com a hipótese de um em milhões. Eustáquio ficara rico da noite pro dia. Glória aos céus! Deus enfim olhou para um de seus filhos já que nos embaraços financeiros cabem poucos. Cheguei ao abraço diante dessa opulenta hipótese. Ela continuava sorrindo abraçada em meu corpo. Depois seus braços levantados lembravam seios dispostos ao carinho. Ocorre que pensar dá voltas.

Quem sabe essa aleluia toda fosse oriunda da nova condição jurídica. Condição de Segunda Instância com direito a recurso sobre a dosimetria da pena.

Estava ficando craque na elevação livresca que no pobre cai como palavrório. Afinal prender qualquer sujeito sem ser julgado é destino cruel. Imagine no mito adâmico Adão ser encarcerado antes da tentação da Eva? Hein? Sem flagrante delito... Logo Deus que tudo vê fez vista grossa no imbróglio. Matei a charada e devia ser a liberdade presidial do Francisco a surpresa da felicidade nela. Francisco, o prevaricador. Prevaricador amador prenhe em sustentar seu estilo rebrilhante no mundo noturno de Jolie. (Jolie hoje desempregada caiu na vida inativa por motivos de doença da vida). Lindas noites de orgia quente com Jolie e as tigresinhas foram a culpa básica da prevaricação de francisquinho. Crianças ficaram sem merenda e hospitais sem esparadrapo por sua ação criminosa. Estranha-se que a vida valha menos do que a perda de objetos. Criminosos diabólicos param pouco no cárcere. Ela então disse ainda feliz de tanta alegria sensual:

- Ele está de volta aos palanques.

- O quê?

- Está solto e discursando com palavras chulas.

Muito criticado pela mídia (esta isenta de palavrões e com tarjas familiares cobrindo a natureza comum) um réu encarcerado sem julgamento, recebe alta, como paciente jurídico; e utiliza palavras sujas na saída. Eu também utilizaria após quinhentos dias no inferno isolado sem julgamento de todos os recursos. Vendo pela televisão todos pisotearem na sua condição sem presunção de inocência. Tirado da eleição para ver o acusador virar ministro. Entende-se que até um santo saindo da cadeia tem o direito de praguejar. Só a falta de psicologia humana informativa consegue ocultar esse detalhe paquidérmico. Não é palavra de ódio e sim palavra de liberdade contra a gambiarra fornecida pelo tecido político apodrecido de muitos mandatos presidenciais o efeito e a causa. O que dizem estar nele errado está ampliado em muitos outros ao largo da formação histórica nacional.

Então me lembrei do Gegê: trabalhadores do Brasil! Ele voltou ou o que sobrou dele na atualidade. Mal ele caiu e a representatividade dos trabalhadores também tombou por terra neste cenário distópico. Culpá-lo pela queda da bolsa não é o mesmo que culpá-lo do esvaziamento de todos os bolsos dos trabalhadores nestes últimos anos de reforma desigual para a farra do poder estatal. As velhas negociatas, o veterano desemprego, o baixo nível salarial, além da estúpida perda da estabilidade, que se mantinha oportuna para a sobrevivência da família brasileira; revela o rosário de duras contas deste país explorado. Haverá mais gente girando pela vida sem destino da noite para o dia em muitos anos. A instabilidade venceu sobre os trabalhadores. Fui digitar e escrevi: Que a luta continue companheiros! Trabalhadores do Brasil! Ele está de volta. Viva os trabalhadores do Brasil! Não são os trabalhadores enfraquecidos que fazem a bolsa cair. Essa não cola.

*******************

Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 10/11/2019
Código do texto: T6791787
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.