Reticências

O dever de um escritor vai muito mais além de conseguir encaixar as palavras certas, à métricas perfeitas e, vários outros quesitos técnicos que no fim poderão, ou não, transformar-se em algo tocante para um leitor desprovido de linguagens sofisticadas, em sua essência, ou em algo tão especial para quem escreve. É muito mais que ter uma idéia repentina e discorre-la num papel qualquer que abarque-a antes de se esgotarem as ultimas linhas sem conseguir concluir o pensamento, que ali se faz sólido, se faz palpável, faz sentido.

A mensagem de um escritor deve ser maior que aquilo escrito, que nem mesmo todas as páginas de uma enciclopédia poderiam ser o bastante à ponta da caneta sortuda, que entrelaçada aos dedos deste ser mágico,

traça com precisas pinceladas algumas das maravilhas do mundo. A verdade é que nada no mundo pode traduzir um sentimento transcrito por alguém que por algum motivo sentiu necessidade de fazê-lo, já que o Coração é terra ondeIi ninguém pisa. Ao menos que abramos mais que olhos para uma simples e ingênua leitura poderemos enfim viajar nestes novos caminhos.

O dever de um escritor vai muito mais além de limitar-se a ter o prazer de contar histórias, já que esta é obrigação. Não somente por fazer, mas pela beleza que o atingiu e tomou-lhe o peito (chamo isso de inspiração) fazendo aquilo que para muitos algo trabalhoso, aconteça por si, sem sofrimentos ou interferência de astro algum, às vezes nem mesmo do próprio autor que ali lhe serviu somente de janela para o mundo, esta que permitindo. E ai daquele que ao negligenciar vida às suas inspirações. Eu mesmo me terminaria por acabado, contador de histórias mudo.

Pois sim! Como poderia eu então transcrever do mundo sem antes me deixar abater pela beleza? Como? Caro leitor faminto, poderia o instrumentista tocar sem ao menos deixar ser tocado por algo que lhe despertasse desejo pelo feito? Trazemos conosco armas poderosíssimas, sim. E nem temos noção das transformações possíveis através de nossos olhos, ouvidos e principalmente, coração. Mas eis que há esperança. E a ordem é permitir-mos-nos. Existir da melhor forma, protagonizar enquanto alguns figurantes saem de cena, lutar pela educação e sermos pessoas melhores, pelo simples fato de enxergar a beleza em nossa volta.

Sendo assim, atrevo-me dizer-lhe que escritores somos, nós que deixamos abarcar pelas coisas que não somente físicas, palpáveis ou não, mas aquelas que fazendo sentido à nossa vida, completam vidas de outras pessoas que também procuram sentidos. Nós que permitimos ser apenas janelas para que o mundo se comunique e diga: ei, sou belo para ti, me perceba! Portanto permita, é o único quesito primordial para que todo o resto simplesmente aconteça. A beleza do mundo é tamanha que infinita em eternidade, e muitos homens morreram tentando traduzí-la. Escritores são simples seres que se tornam eternos por deixarem que o mundo faça morada em suas obras de ficção e biografia.

Henrique Erik Machado
Enviado por Henrique Erik Machado em 10/11/2019
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