INDO PARA OESTE
Quando crianças, viajávamos pelo planalto e pelo oeste de Santa Catarina, de ônibus, para visitar parentes. Era uma aventura por aquelas estradas de terra, poeirentas ou barrentas, dependendo da estação. Especialmente para mim era grande diversão, pois me concentrava em analisar os tipos que subiam ou desciam do ônibus à medida em que passava por pequenos povoados à beira da estrada. Eram homens do campo, de chapéu e botas com esporas, mulheres conduzindo suas crianças, carregando não malas mas sacos às costas com seus pertences. Uma vez ou outra galinhas vivas nesses sacos, latas de banha, recipientes com leite, uma manta de toucinho, mudas de árvores, pelegos e queijos que iam vender nas cidades.
As conversas também eram dignas de atenção. Falavam sobre o tempo, muita chuva, pouca chuva. A boa safra ou a perda dela. A morte de um boi ou ovelha.
Como a viagem era longa, papai e mamãe levavam um farnel, uma farofa de frango que comíamos nas paradas. Não havia restaurante ou lanchonete ao longo do caminho. Banheiros eram precários, nos postos de gasolina.
Ao chegar às casas de tios e avós eu detestava as camas ou catres, como chamavam. Colchões de palha faziam barulho ao menor movimento. Acolchoados de lã de ovelha, bons no inverno, eram muito quentes e pesados nas outras estações. Travesseiros de paina ou marcela. Estes eram cheirosos, porém, ai de quem fosse alérgico!
Ficávamos alguns dias, depois retornávamos pela mesma estrada. Não chamávamos o desconfortável coletivo de ônibus. Mamãe tinha lhe dado o nome de “cata jeca” porque, segundo ela, transportava um bando de caipiras, entre os quais nos incluía.