Meio tosca
Estava eu à porta de casa – numa calorenta tarde. Sol bem forte, claro. Gosto das tardes assim, céu bem azul, nuvens vagando, lentas, preguiçosas.
E vi, passando na rua, um cão. Creio que sem dono, sem rumo, sem destino. Caminhava, calmamente. Despreocupado.
Pensava várias coisas naquele momento. Acho uma boa terapia a gente ficar nesse estado, sozinho, sem tanta racionalidade, preocupação, responsabilidade.
Sem nada para fazer, apenas matutando, pensando banalidades. Alguns o chamam de ociosidade produtiva. Permitamos que a mente descanse um pouco.
Aquele cão me chamou a atenção. O observava, lerdo. Está-me na mente gravado tal cena, até agora.
Andava, e parava sob a sombra das árvores. Deitava-se – e ia em frente, seguia seu rumo. Eu a o observar, parecendo um lerdo, um bobo.
Ah! Aquele cão, aquele animal desconhecido, à toa. Sem importância. Bem hoje existem animais tratados com extrema dedicação, todo o carinho. Principalmente cães. Faz algum tempo, um bilionário morreu, deixando a fortuna para seu pastor alemão.
Bem eu ali, à porta, preguiçoso, ocioso. Contemplava aquela tarde de calor, mas singela. As nuvens e algumas aves me inspiravam, me alegravam. O tempo se esvaía, partia, ia embora, silenciosamente.
E o cão, sem nome. Recordo, era o dia 9 de outubro de 1971. Não moro mais naquela rua, de tempos de solidão. Passou aquela tarde e não mais vi o cão. Ele sumiu, não sei dele...
Talvez tenha morrido, e mora hoje no além. Bem, achei esta crônica meio tosca, vulgar. Não sei se o leitor pensa também assim...