O Último Homem*

Em pé em meio à Floresta Universal. Sozinho na Terra. A ouvir, nalguns momentos do dia, cantos de alguns pássaros. Deus (Q-U-E-M?!)...

Decidiu alimentar-se de algumas frutas nativas após o que sobrou da 4ª Guerra Mundial. Logo, logo as provisões naturais extinguir-se-ão. E esse Último Homem em Pé perecerá. Sem deixar testemunho -- a não ser um caderno com notas diárias. E um legado:

Decidi não ter filhos nem dar continuidade à humanidade -- esse projeto incerto, falho, inválido. Ao ser o último homem a morrer, após todos os outros, desejo partir para sempre, sem deixar rastros de nossa dolorosa, triste, pútrida e incerta existência humana. Qual o deserto, opostamente tão certo, do ponto de vista globalizante, que meus restos mortais sejam cobertos pelo tempo e pela poeira. O tempo está ao meu lado. Mas que destino esse: ter de registrar essa visão incômoda de dias de futuro sem passado.

O infeliz ainda não morreu. Sequer nasceu. Mas é um Sinal dos Tempos. Arauto do Apocalipso -- aquele périplo feito pelos Quatro Cavalheiros rumo ao destino final. A Aurora de Sangue se aproxima. A Relativa Idade chegou. Em Absoluto -- ainda que Obsoleta. Pois é...

NOTA

Em 1993-94 um contato tivera emprestado a mim (um roqueiro cabeludo, com meus 17 anos de idade e muuuita incerteza na vida naquela época e ano do qual eu não me lembro com muita alegria, haja vista a quantidade de eventos de que prefiro não me lembrar nunca mais) um disco (sem a capa) do Assassin. O título do tesouro sonoro era (e continua sendo) "The Upcoming Terror" (algo como "O Terror Vindouro", em tradução livre). Há um som lá que se chama "The Last Man". E é pela minha primeira, última e eterna impressão desse título que resolvi escrever essa crônica.