Por Um Fio(...)

03/10/2007 11h22
"Vida(...) Por Um Fio"

Clevane Pessoa



As moiras cuidavam do fio da vida, Láquesis, a que enrolava e sorteava o escolhido .Átropos, a deusa que cortava, determinadamente, esse fio.E era Cloto quem fazia uso do fuso e segurava o fio do existência.

Abro o jornal,o "Hoje em Dia" e já na primeira página , está escrito que "A Vida da pequena Michelle" está por um fio.Nas mãos ainda de Cloto, uma das três irmãs , filhas de Nix (t as Moires também também chamadas de Parcas, na Mitologia).

Tão poderosas as mulheres que determinavam as participações dos atores humanos no palco da vida, que nem mesmo Zeus, podia inferir em suas decisões.Claro, na Mitologia, os deuses usam suas estratégias:transformam em águas, arbustos, árvores, para que um protagonista não se finde de vez.


A palavra Moira, não referente ao trio, apenas  a palavra singular, significava mesmo destino. Aquele do qual não escapamos.A pequena achada no Ribeirão Arrudas,em Belo Horizonte, Minas gerais, pode estar sendo considerada de sorte, mas os comprometimentos do parto, dos traumatismos, do líquido deglutido, podem levá-la a compromentimentos neurológicos vários.Quanto tempo, de anóxia, a falta de oxigenação cerebral? Teria acontecido hipóxia (falta de oxigênuio, nos trabalhos de parto)?O certo é que a pequenina, que recebeu o nome, com dois eles, na Maternidade Municipalo de Contagem, já sofreu várias convulsões.

E então,o repórter usa a velha expressão "Por Um Fio".Interessante o quanto somos afetados , na linguagem , por mitos e lendas, quantos ditados têm seu ponto de origem em crendices populares ou na Literatura, na Mitologia ou na História!.

A Poeta Stella Hatch, de Juiz de Fora, mandou me dizer que não conseguiu ler o meu poema a respeito desse triste "achado"-uma recém nata em um leito de rio poluído-até ao fim.Pessoas maternais, identificam-se com a expressão "amor incondicional".No entanto, já se revela que o amor materno é apenas algo aprendido (ou apreendido) culturalmente, através do tempo.Então, considero uma evolução tal sentimento.Se as pessoas levavam seus filhos para serem criados por amas pagas, em casa pobres, por mais ricos que fossem, onde a falta de higiene provocav a uma grande mortandade infantil, se as sinhazinhas davam seus bebês à amamentação das escravas,por considerarem o ato repugnante ou socialmente inferior e, mais tarde, aceitou-se rapidamente o leite em pó, inicialmente doado, nas maternidades,para que as mamas não caíssem ( seios, a linda palavra poética, quer dizer cavidades...), assim como nós, humanos, evoluimos nossa comunicação de grunhidos para a verbalização oral denominada, desta para a escrita, a linguagem das rosas e dos haikais japoneses e mais e mais evoluiu-  os bilhetes manuscritos foram trocados por datilografados, por telegramas, destes para o telex, deste para o fax, depois para os e-mails , os telefonemas, para as mensagens escritas e faladas dos celulares, assim o ato de parir e a criação dos filhos passoun a necessitar de  convivência, a doação materna, o amor incondicional...

A mulher que pariu Michelle teria confessado que jogou seu fruto, qual uma fruta que não presta, pela janela, do sexto andar.O jornal hoje conta que o depoimento foi modificado.Que ela acreditou estar o bebê morto e o deixou nas margens do riacho.Moisés feminina, mas a mãe do personagem bíblico, queria salvá-lo e ficou espreitando se o seria.Se não, por certo, tentaria outra estratégia.

O preposto pai diz que não sabia da gestação.Ela , diz que não queria que o novo namorado soubesse do parto - tal e qual a que jogou a outra meninazinha dentro de uma saco plástico de lixo, na Lagoa da Pampulha -também na capital mineira .Essa, foi bem segura por Cloto.Átropos não cortou o fio da vida.Láquesis a sorteara em vão.

O pedreiro pai, diz que visitara a mulher e a família, há uma semana , "por consideração".Algumas pessoas podem se perguntar;mas não viu a gravidez?
Bem, minha mãe e meu pai adotaram gêmeas, cuja mãe amarrara o ventre de primípara, sob um prato fundo.Depois de nascidas (à hora do parto, pediu à patroa que continuasse a mexer o arroz, pois estava com cólicas e precisava se deitar um pouco), as criancinhas, uma morena e uma lourinha, foram oferecidas pela Rádio.Que se adotasse ambas, a mãe não queria separá-las.Mas não podia criá-las.O pai sumira, era pobre.

Mamãe, com o terceiro filho, meu mano Luiz Máximo, de apenas um aninho, foi lá e trouxe as duas .Somente então, passou um "rádio" para papai, que estava no Rio, solcitando aquiescência.Ele lhe disse que pensasse bem, Máximo era ainda quase um bebê, mas...quantos metros de cretone e bramante deveria comprar, para fazerem fraldas -àquela época ainda não industrializadas no Brasil...Foi assim, que ele chegou ao  aeroporto  carregado de tecidos e roupinhas,mamadeiras e tudo mais.E todas as pessoas que sabiam,que uma jovem senhora com pouco mais de vinte anos e três filhos, pegara gêmeas, para criar,mandavam muitos presentes.E foi assim que fomos parar na Ilha de Fernando de Noronha, para que as menininhas tivessem mais segurança.Logo no aeroporto, a mulher do Governador veio nos receber com duas imensas caixas:crianças nascidas na Ilha recebiam um enxoval completo.E, por serem tão pequeninas, aquelas seriam consideradas de lá.

Mamãe, que por nenhum momento pensara em como as criaria, ficou perplexa ao saber que cada criança, teria direto a um litro de leite por dia.Recebíamos cinco.E haja doces e bolos..
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Mas, apesar de tanto empenho na relação de ajuda ( por exemplo,a madrinha de meu mano, Aracy Suzana Vieira, pediu licença ,era professora em Manaus e foi para a Ilha, cuidar do Máximo, para não faltar carinho), as lindas menininhas não resistiram à dentição.Morreram aos sete meses, mesmo tendo o médico, com a esposa, morado em nossa casa, durante a doença.Atribuiu-se ao prato fundo, que as comprimiu durante meses, a pouca resistência.Por mais que fossem usados os muitos soros -depois pendurados, secos, nas taquaras da cerca do quintal - que ninguém dormisse, que as amássemos ternamente, elas sucumbiram.E foi assim que viemos parar em Minas, pois mamãe já não se encantava com as belezas da Ilha, magrinha, a soluçar.Com saudade das filhinhas.Papai pediu transferência para Juiz de Fora.

Minha família abrigou outras,chegadas maiores, papai levou uma ao altar, batizamos as novas gerações que elas nos traziam para acrescentar ao nosso núcleo familiar.

As associações invadem-me a memória.Quando estive no no projeto Educação e Saúde em Comunidade", que coordenei com a Dra.Maria da Conceição de Oliveira Costa, para projeto seu,numa de minhas oficinas ,os participantes deveriam tomar conta, por uma semana, de um ovo-a representar um filho.Quando terminaram , tanto para educadores de ambos os sexos e alunos, foi necessário fazermos um círculo de debates sobre o que se fazer com ovo - esse já antropomorfizado, com carinhas, touquinhas, roupinhas, berço ,quarto.Ninguém queria perder o filho frágil.E então, uma senhora ensinou a esvaziar a casca, da gema e da clara, enchê-la e cera para preservá-la.E assim foi feito..

Também encontrei uma professora acocorada chorando, logo no primeiro dia.Perto dela, o ovo ,que caíra e quebrara.Eu lhe disse que buscasse outro, na copa.Ela, aos prantos, contou-me de seus abortos espontâneos, de seu desejo de maternidade...

Histórias como a da mulher que pariu Michelle, sei de muitas.Uma paixão qualquer sobrepõe-se ao discutido amor maternal.E ao dar à luz, são capazes mesmo de querer se livrar da prova viva .Tudo isso vem entrelaçado com o grande equívoco da humanidade.O amor possessivo, cheio de exigências.O olhar masculino ,seletivo,sobre a mulher.Mas amor mesmo, é incondicional.Ama-se apesar de- e não "porquê".

Os espíritas acreditam que as almas escolhem as famílias.Os bebês escolheram suas mães.Algumas, expulsam as possibilidades.E tudo porque a frágil esfera da verdade, qual um ovo, não pode ser partida,senão, a pessoa perde outras coisas que almeja.Para ela, todas mais importantes que um mero nascituro.

Mas, felizmente, a humanidade evoluiu muito. A gestação consciente e desejada é cada vez mais uma realidade.Há dias, uma avó deu á luz gêmeos, abrigados em seu prórpio ventre, para que a filha pudesse realizar seu sonho de maternidade.Amor pleno e como soi ser.Não obstante as meninhas que recentemente, são sacrificadas, na China.Apenas por questões de gênero, de superpopulação.

Quanto às deusas em questão, depois foram substituídas .As parcas (*)(com o nome de Nona, Décima e Morta), presidiam ao nascimento, ao casamento e à morte.Que Morta decida o melhor para a pequenina:se tiver de suportar seqüelas graves, não seria melhor se...?Não, não temos direito de decidir:na Medicina, na Vida humana, não somente milagres acontecem, como vidas alternativas ou deficientes podem co-existir com outras, melhor dotadas, para nos melhorar.

A pseudo-boneca era uma garotinha, Foi vista,apontada, salva das águas poluídas.Teria vindo ao mundo para obrigar muitas pessoas a repensar assuntos tão delicados?Muitas pessoas já engrossam a fila das que esperam, para adoção.Há que haver um melhor serviço, para onde se dirijam mulheres que querem doar seus frutos, cadastrem-se, tenham toda a assistência, para que o bebê nasça saudável e o parto seja bem assistido.Em que pese o livro arbítrio, quem vem ao Mundo, tem direito de viver...

Clevane Pessoa de Araújo lopes




Serviço:



(*)Para complementar, da wikipédia:"(...)Os poetas da antiguidade descreviam as moiras como donzelas de aspecto sinistro, de grandes dentes e longas unhas. Nas artes plásticas, ao contrário, aparecem representadas como lindas donzelas. As três deusas decidiam o destino individual dos antigos gregos, e criaram Têmis, Nêmesis e as Erínias. Pertenciam à primeira geração divina, e assim como Nix eram domadoras de deusas e homens. Junto de Ilitia, Ártemis e Hecate, Cloto atuava como deusa dos nascimentos e parto. Láquesis atuava junto com Tiche, Pluto, Moros, etc. qualificando o quinhão de atribuições que se ganhava em vida. Atropo juntamente de Tânatos, Queres e Mors determinava o fim da vida."

Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Moiras"



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Publicado por clevane pessoa de araújo lopes em 03/10/2007 às 11h22
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