NOVA ORAÇÃO PARA O MEU SEPULTAMENTO
crônica de VALDEZ JUVAL
Escrevi certa vez uma oração
para o instante do meu sepultamento.
Não consegui quem se dispusesse a declama-la.
Não joguei fora.
Guardei-a e agora transcrevo:
“Não tenham pressa, coveiros.
Ainda não é tempo da putrefação.
Deixem que o corpo
fique mais um pouco aqui,
para fazer sentir aos outros
quanto inútil ele foi.
Esperem que por certo
jogarão flores,
sinal da despedida
e da saudade.
Poderá até haver choros, soluços.
Tudo não passará do momento,
para depois,
por pouco tempo mais,
existir apenas a recordação.
Sepultem carne
para alimentar os vermes
que vivem na terra
à nossa espera.
Agora sim, coveiros.
Terminem.
Deem alimento aos vermes.”
Ocorre que resolvi transformar a mutação final da minha vida
e embora alguns termos permaneçam válidos,
personagens desaparecem do instante final.
Os vermes já não me devorarão tão avidamente
e os coveiros serão substituídos por cremadores.
Somente a pressa existirá
pois a sua inutilidade continuará comigo.
Agora as chamas devorarão rapidamente,
transformando tudo em cinzas que serão jogadas ao vento.
Nem choros, nem flores, nem velas.
De tudo, talvez, possa restar a saudade.
Minhas despedidas, amigos.
Nos encontraremos lá no alto, bem pertinho de Deus.
crônica de VALDEZ JUVAL
Escrevi certa vez uma oração
para o instante do meu sepultamento.
Não consegui quem se dispusesse a declama-la.
Não joguei fora.
Guardei-a e agora transcrevo:
“Não tenham pressa, coveiros.
Ainda não é tempo da putrefação.
Deixem que o corpo
fique mais um pouco aqui,
para fazer sentir aos outros
quanto inútil ele foi.
Esperem que por certo
jogarão flores,
sinal da despedida
e da saudade.
Poderá até haver choros, soluços.
Tudo não passará do momento,
para depois,
por pouco tempo mais,
existir apenas a recordação.
Sepultem carne
para alimentar os vermes
que vivem na terra
à nossa espera.
Agora sim, coveiros.
Terminem.
Deem alimento aos vermes.”
Ocorre que resolvi transformar a mutação final da minha vida
e embora alguns termos permaneçam válidos,
personagens desaparecem do instante final.
Os vermes já não me devorarão tão avidamente
e os coveiros serão substituídos por cremadores.
Somente a pressa existirá
pois a sua inutilidade continuará comigo.
Agora as chamas devorarão rapidamente,
transformando tudo em cinzas que serão jogadas ao vento.
Nem choros, nem flores, nem velas.
De tudo, talvez, possa restar a saudade.
Minhas despedidas, amigos.
Nos encontraremos lá no alto, bem pertinho de Deus.