RECOBRANDO AS FORÇAS

Podalírio e Everina eram nossos vizinhos, ambos de origem italiana, setentões e eu com 12 anos.

Aos domingos, enchiam a sala de crianças para assistir televisão. A sessão começava às 17 horas e ia até as 21.

Fomos ficando amigos e ele querendo ensinar-me a ser mecânico, de quebra eu o ajudava a empurrar o velho Ford, dos anos cinquenta do século passado. Foi então que descobri a forma que tinha nas pernas. Depois ele virou meu padrinho de crisma. Tenho saudades deles, pessoas boas que nunca tiveram filhos naturais, somente adotados. Três negros que estavam abandonados em abrigos.

A saída da garagem era um pequeno aclive, onde eu empurrava o carro com a ajuda de outros meninos e um ia colocando calços nas rodas, para que o carro não voltasse. Assim que vencia o portão o carro acelerava e o Podalírio o fazia pegar. A tal força nas pernas, me fez atleta, de corridas de fundo e meio fundo. Mesmo com 1,62 m eu também conseguia saltar 1,45 m de altura e 5,20 m em distância.

Depois dos 30 anos de idade, o tempo foi passando e tornei-me sedentário e preguiçoso. Mais recentemente tenho caminhado e faço exercícios.

Outro dia um magrela com o carro enguiçado trancou-me a saída da garagem, como tinha que sair ele tentou empurrar e nada feito. Disse que ele assumisse o volante que eu iria empurrar três ou quatro metros, assim joguei o peso do corpo sobre os braços apoiados na traseira do velho scort e o veículo começou a mover-se até desobstruir a entrada de casa.

Depois arrependi-me, não por riscos a coluna, pois só estava empurrando e não levantando peso, mas pelo esforço sobre os tendões das pernas, que poderiam lesionar-s, mas enfim, senti-me bem.

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 06/11/2019
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