PASSEIOS EM SAMPA

Jogar tênis e ir ao mercado municipal da Cantareira, na região central de São Paulo. Duas coisas que recomendo aos amigos e conhecidos. A dica é a seguinte: compras devem ser feitas não dentro do mercado, local para turismo e preços caros, mas sim nos boxes atrás do mercadão. Lá existe um entreposto no qual feirantes se abastecem. Muita movimentação e preços ótimos.

Depois do mercado, por volta de 22h, jantar no Estadão, bar- lanchonete, localizado quase de esquina com a biblioteca Mário de Andrade, aberto 24 horas e frequentado pelos mais variados tipos da cidade, como jornalistas(ao lado de onde funcionou o Diário de São Paulo e outros jornais), policiais, marronzinhos, lutadores, prostitutas, políticos, gente decente da classe média, pessoal da área jurídica, diretores, descolados, funcionários do Samu, escritores, seres dos teatros do entorno, “povão”, músicos, artistas.

No sábado estava cheio. A parte da lanchonete era famosa pelo sanduíche de pernil e a do restaurante, em que almoço e jantar são servidos no balcão a qualquer hora, superconcorrida. Consegui um lugar junto ao vértice do ângulo e pedi um dos melhores pratos que o lugar servia: calabresa à vinagreti, com arroz, feijão e fritas. Comida farta e boa, servida na bandeja a preços módicos.

Conforme disse, o local é bem cheio, pessoas em grupo tem que aguardar para se sentarem juntas, ou ao menos próximas uma das outras.

Havia um grupo de quatro rapazes e duas garotas aguardando lugar, já um pouco impaciente. Uma das garotas, uma moça negra magnífica de bonita, parecia mais ansiosa do que todos. Percebi-a discutindo levemente com um senhor que terminara de comer macarronada e estava demorando além da conta, sentado ao lado do namorado da garota.

De repente, chegaram três rapazes musculosos, um deles estava meio que bravo, nervoso, falando alto. Pedia alguma coisa ao outro, que não abria a boca. O nervosinho chamou-o de veadinho e coisa e tal. Ambos sentaram. O terceiro ficou de pé. O nervosinho falava alto com o atendente e dizia “Escuta aqui o baixinho..., o baixinho isso..., o baixinho aquilo...”.

Aquilo estava deixando as pessoas nervosas também. Dava tapa no balcão. O pior é que sentou-se justamente no banco ao lado do meu.

Então do lado esquerdo ficou o grupo do nervosinho e chegou mais um com um capacete na mão. Do lado direito, os quatro com as garotas. Começaram a se estranhar com olhares. Um dos quatro com as garotas olhava para o nervosinho e parecia não acreditar que logo poderia surgir um entrevero. A tensão estava no ar. O namorado da jovem ansiosa parecia tranquilo enquanto comia um enorme contra filé, também acompanhado de arroz, feijão e fritas. A moça bonita tinha vocação para encrenca e, em determinado momento, disse alto para quem quisesse ouvir sobre o namorado “ele é lutador”. Mas estávamos lá para jantar, o que foi feito a contento.

Depois do café floresta no Copan, veria uma peça no teatro da Vergueiro, mas devido ao adiantado da hora acabei indo somente à praça ali perto, cerca de 200m a sudeste, local que também possui vários teatros.

Conversei com alguns conhecidos e, perto de meia-noite, tomava água cristal já para ir embora, quando surgiu o iluminado Mário Bortolotto. Alguns amigos o aguardavam, entre eles, Eldo e o demiurgo Jordão. Cumprimentamos-nos e ficou novamente adiada nossa partidinha de sinuca.

O problema é o horário incompatível com o meu e também não sou de beber muito, um único conhaque para acompanhar o montecristo já satisfaz, mas aquela turma gosta de uma birita e vai até tarde. Para se ter uma ideia, o célebre incidente na praça com o Mário, que quase o matou, aconteceu por volta de cinco horas da manhã e eu havia ido embora à meia noite e meia.

No domingo, almoço na Liberdade e tênis no Villa Lobos. Chegar no parque foi quase complicado, o acesso que sai da marginal Pinheiros estava completamente parado por conta do "Cirque du Soleil". Chegaram dois marronzinhos, da companhia de engenharia de tráfego, colocando cones e fechando a passagem bem na minha frente. Olhei para o marronzinho e ele mandou que eu fosse para a próxima entrada à direita que sairia no lugar. Tive sorte, dessa vez.

Marcos Pessoa
Enviado por Marcos Pessoa em 05/11/2019
Reeditado em 05/11/2019
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