Dona Saudade
A saudade é fiel, muito fiel! Ela se achega quietinha junto do amor ou prazer que fazem casa. Vai se instalando lentamente, desfazendo suas malas e ocupando cômodos no dia a dia em companhia, no riso da confusão ou no sorriso do olhar, tudo o que acalenta e aquece.
Devagar ela se veste com as cores que enchem o passeio, o filme, a noitada, a conchinha do frio, recendendo o perfume que cria o registro, degustando o tempero com sal a seu gosto. Ela se deita encolhida no sofá ouvindo aquela música especial tocar e sentindo o fresco aroma do chá das noites. E finge adormecer para garantir que haja silêncio.
Quando não se espera, lá está ela: de pé na sala com cheiro e figura de memória, fazendo ressoar as vozes das histórias, os flashes dos retratos e até os pedidos de segredo. Ela não trai, não confunde nem esconde. Dona Saudade abre braços num abraço de quem espera o reencontro, de quem grita no peito a falta que sentiu.
Saudade não abandona nem nunca vai embora. Quando se deita novamente é só porque o abraço de quem sente se fechou em quem é sentido, e o silêncio é quem fala, cantando o que faz a saudade adormecer.