Dia de finados* (02/11/2019)
O passeio coletivo ao cemitério é um ciclo social endêmico, uma repetição vazia. É, quem sabe, um abuso. O que há, de fato, naquelas ruas além de anjos tortos? Fotografias esmaecidas; cruzes quebradas; rosas murchas... mansões desabitadas? Sim. Epitáfios de gente morta. Não há mais ninguém ali. Somos atraídos pelo espetáculo. Essa tradição é uma fístula na evolução do pensamento. O Dia de Finados deveria ser um exercício particular, em respeito aos que partiram primeiro; um retiro espiritual, não uma exibição pública. O que queremos provar? Um dia universal para venerar os mortos! Nada mais desnecessário na discussão prática. (...) Meio capenga, uma senhora vendendo fósforos e velas me sorri banguela. A vida pode ser absurdamente deprimente; mas a morte... a morte é outra coisa.