RIR, PARA NÃO CHORAR!

Depois de ouvir tantas críticas, ou seria melhor dizer elogios, ao filme “Coringa” decidi ir ao cinema e tirar minhas próprias conclusões. Afinal, parece que a pirataria na internet virou alvo da Polícia Federal com a recente Operação Copyright contra o compartilhamento de arquivos via Torrent. Pois, acabar com o “jeitinho brasileiro” começa por nós e não pelos altos escalões do governo que inauguram a nova política com as velhas práticas que permearam as relações nos três poderes desde sempre.

Para início de conversa, o Coringa não e um herói e sim, um dos maiores vilões das histórias em quadrinhos. Esteve presente na edição número 1 do Batman ainda na década de 1940. E até hoje é referência para leitores recentes e de longa data. Já apareceu em longas do morcego e também outras plataformas que compõem o universo expandido que abrange várias mídias, mas agora o filme é sobre ele. Os vilões estão em alta no momento, como aconteceu com outra aposta da DC, o Esquadrão Suicida.

O filme nos apresenta Arthur Fleck com um problema psicológico real, conhecido como afeto pseudobulbar, tentando se integrar à sociedade de Gotham. Logo de início, temos uma greve de lixeiros que serve como pano de fundo para criar um clima de tensão e atrito entre as camadas sociais. A narrativa ficcional se desenrola destruindo todas as perspectivas e massacrando os sonhos desfigurando a imagem do protagonista na medida em que as situações com as quais se depara vão minando sua sanidade.

Mas, a semelhança do filme com a realidade é o que mais me espanta. Ao me defrontar com o contexto da luta de classes, totalitarismo e intolerância, tensão social, revolta popular me vem à memória eventos marcantes como a primavera árabe, a ascensão do Estado Islâmico, e os mais recentes eventos em Hong Kong e no Chile. Ao flertar com a realidade começo a pensar no levante do proletariado contra suas instâncias opressoras e no meio de tudo isso surgem heróis, vilões, e anti-heróis, exatamente como acontece na ficção.

Mas, como se trata de uma crônica cinematográfica, vamos voltar para a trama que se desenvolve brincando com a realidade induzindo o espectador a se perguntar seguidamente, o que é real e o que é fruto da loucura crescente de Fleck. Vale ressaltar a complexidade do filme voltado para um público mais adulto, como muitos quadrinhos do morcego. Valeu o ingresso, e ficou com aquele desejo de ver de novo pela brilhante atuação do protagonista e rever cenas icônicas que marcaram sua atuação.