Vachínguiton
Primeiro dia de aula. Entro na sala e me deparo com os olhares atentos de cada um dos alunos. Todos eles são novos na escola e terminaram o primeiro segmento do ensino fundamental em diferentes colégios, porém próximos ao nosso. A escola está situada em uma área periférica e atende a um público que pertence às camadas mais baixas da sociedade. Após uma breve apresentação minha, senti que era o momento de conhecer os alunos. Fui logo perguntando ao que estava na primeira carteira:
-Qual seu nome?
- Vachínguiton, respondeu ele.
- O quê??? Vachínguiton?
- Sim. Vachínguiton.
- Não. Peraí. Como se escreve seu nome? Soletra pra mim.
- Ême de cabeça pra baixo...
- Não. Não é ême de cabeça pra baixo. A letra é dábliu.
- Isso. A, cê... não... esqueci... é esse. Depois agá..., i..., ene..., gê..., tê..., o... e ene.
- Então seu nome é Washington.
- Não é. Meu nome é Vachínguiton.
- Mas não é essa a pronúncia do seu nome.
- Minha mãe sempre me chamou de Vachínguiton.
- Ninguém nunca te chamou de Washington?
- Acho que minha professora da primeira série me chamou assim uma vez mas aí eu disse que meu nome era Vachínguiton e aí ela sempre me chamou de Vachínguiton.
- E seus colegas do colégio? Sempre te chamaram de Vachínguiton?
- Sim.
Após conhecer um por um os alunos, fiz a chamada de cada um dos nomes do diário. O Washington era o último da listagem. Só faltava chamá-lo. Na mesma hora, passou pela minha cabeça: serei eu um déspota que exerce arbitrariamente o papel de dizer com autoridade tirânica a absoluta pronúncia da palavra? Terei eu que dizimar um Vachínguiton em nome do poderio Washington? Claro que não. Cedi ao poder autêntico da classe subalterna. Chamei-o de Vachínguiton. Ele prontamente levantou o braço e disse convicto:
- Presente!!!