Dez e meia, SP
Bela e majestosa, a metrópole se impunha noite a dentro. Suas luzes, seus prédios imponentes. Ah! As cores do shopping, as galerias... Que sedução!
Semáforos sonolentos indicavam a chegada da madrugada. O que houve? O que haverá? O desvario parece não deixar que se pense em nada. Nesta cidade se vive só; nela, só se vive. Uns sobrevivem, outros subvivem; poucos convivem.
Farias, Limas, Tabapuãs, Brigadeiros, Luizes, Antônios, Joaquins, Liberdades, Glórias. Ruas, histórias, angústias, sonhos. O circular segue, desfazendo o trajeto feito na vinda. Tíbio, tímido, tácito, trêmulo.
Eu, da janela, vejo nos painéis a hora avançar e a temperatura cair. "Que bela é São Paulo!", sussurro. Mas um mendigo sempre tem de aparecer nessas horas e, sob a marquise, solapa minha contemplação: "Bela, porra nenhuma!" E eu me lembro de novo da Adélia: "Desminto quem disse: ah! os quintais de Minas, tão pacíficos! Porque neles sofri coisas que, com o auxílio de Deus, jamais direi".
Quantos Manos, quantas Minas, quantos Nordestes São Paulo abriga, e castiga? E nada muda, tudo muda, pouco se muda. As mulheres e homens do poder dormem com um barulho desse? Não sei. PM´s, PS’s, DB´s, PF´s, PT´s. Apenas siglas, frágeis siglas.
E eu, que nada entendo, vou pra casa. De barriga vazia e cabeça cheia, sigo cantarolando o Zé Geraldo: “...o corpo cansado já não compra briga, mas a alma ainda pede paz”.