No dia dos mortos, para os vivos
A morte não iguala ninguém: há caveiras que possuem todos os dentes.
Mario Quintana
1. Com a minha idade me colocando, sem apelação, no ocaso da vida, escrever sobre a morte, que, inexoravelmente, de mim se aproxima, é uma tarefa fácil e ao mesmo tempo difícil. E eu pergunto: escrever o quê?
2. Uma página me despedindo, como fez o escritor Gabriel García Marques (1927-2014), em belíssimo texto, no momento circulando pelo mundo afora? Não me disporia a fazê-lo porque gosto mesmo é de viver.
3. Uma página com o meu testamento? Seria uma perda de tempo. O leitor amigo logo veria que pouco tenho pra deixar pros meus herdeiros, além dos mais de duzentos livros (litertura nacional) que enriquecem meu gabinete onde, ao longo de minha existência, venho pesquisando, lendo, escrevendo, sorrindo, chorando e so-nhan-do...
4. Meu necrológio? Até podia ser. Embora, sobre minha vida tenha pouco a dizer. Não nego, porém, que preferia deixá-lo rabiscado, aos invés de permitir que outros cuidem de fazê-lo. Diriam a verdade?
5. Minhas memórias? São pobres. E mais: morto, jamais saberia aonde elas foram parar. Na lata do lixo? Creio que não. Mas, com certeza, na vala cruel do esquecimento. A muito poucos elas interessariam. E mais: memórias geram saudade.
6. Todas as vezes que admito escrever minhas memórias, volto a esta eloquente quadrinha do poeta Ronaldo Cunha Lima (1936-2012), concordando plenamente com o ilustre vate paraibano: "Quando eu for eternidade,/ onde só Deus me alcança,/ eu não quero ser saudade. / Já me basta ser lembrança".
7. Pelo menos para mim, é doloroso saber que um dia a gente morre.
Aproximando-me, nos últimos tempos, dos nossos irmãos espíritas, exímios escritores, vou encarando a morte com surpreendente naturalidade.
Diria que de maneira bem diferente de como a via, desde meus tempos de coroinha, nas sacristias de minha Igreja. A notícia da existência do purgatório, céu e inferno me apavorava, me levando a fazer um infindável número de indagações a respeito.
8. Adotei, com um dos meus livros de cabeceira, "A morte na visão do espiritismo" do escritor espírita Alexandre Caldini Neto. Seu livro, segundo ele mesmo, reúne "Reflexões para quem quer compreender o que acontece no momento em que morremos e depois". Muito bom mesmo. Aconselho sua leitura.
9. Hoje, 2 de novembro, é o dia de recordar os nossos mortos, um costume aceito, oficialmente, pela Igreja Católica, através de seus Papas, desde o Século 13. Não teria a ousadia de fazer, aqui, comentários sobre todos os assuntos abordados pelo mestre Caldini no seu excelente livro ao qual me referi acima.
10. Escolhi um capítulo, com certeza um dos mais leves, para, em mais um dia de finados, dessa vez aconselhar os vivos. Distanciando-me do chororô de beira de túmulos e mausoléus, nem sempre tão sinceros como parecem ser. Mas, não condeno os que assim agem.
11. "Viver muito ou viver bem" é o título do capítulo que extraí do livro do irmão Caldini, sem esquecer, nunca, os demais, todos cheios da mais pura e sincera espiritualidade.
12. Caldini ilustra e baseia sua reflexão numa frase atribuída a Sêneca, filósofo do Império Romano, morto em 12 de abril de 65 d.C, em Roma. Que teria dito Sêneca? "O homem vive preocupado em viver muito, e não em viver bem, quando, na realidade, não depende dele o viver muito, mas sim o viver bem".
13. E Alexandre Caldini Neto arremata: "De fato, por que queremos viver muitos anos? Para que precisamos de tantos anos? Precisamos mesmo é agir adequadamente e viver bem nos anos que passamos aqui, certo?"
14. Certo. ..."viver bem nos anos que passamos por aqui..." Pena que só tenha me dado conta dessa verdade, "eterna", como diria Nelson Rodrigues, quando minha idade aos pouco me leva, como disse acima, ao ocaso da vida...
Por que não pensei nisso antes, não sei.
Certamente teria levado boa parte de minha existência, sorrindo... Agora é tarde? Talvez não.
A morte não iguala ninguém: há caveiras que possuem todos os dentes.
Mario Quintana
1. Com a minha idade me colocando, sem apelação, no ocaso da vida, escrever sobre a morte, que, inexoravelmente, de mim se aproxima, é uma tarefa fácil e ao mesmo tempo difícil. E eu pergunto: escrever o quê?
2. Uma página me despedindo, como fez o escritor Gabriel García Marques (1927-2014), em belíssimo texto, no momento circulando pelo mundo afora? Não me disporia a fazê-lo porque gosto mesmo é de viver.
3. Uma página com o meu testamento? Seria uma perda de tempo. O leitor amigo logo veria que pouco tenho pra deixar pros meus herdeiros, além dos mais de duzentos livros (litertura nacional) que enriquecem meu gabinete onde, ao longo de minha existência, venho pesquisando, lendo, escrevendo, sorrindo, chorando e so-nhan-do...
4. Meu necrológio? Até podia ser. Embora, sobre minha vida tenha pouco a dizer. Não nego, porém, que preferia deixá-lo rabiscado, aos invés de permitir que outros cuidem de fazê-lo. Diriam a verdade?
5. Minhas memórias? São pobres. E mais: morto, jamais saberia aonde elas foram parar. Na lata do lixo? Creio que não. Mas, com certeza, na vala cruel do esquecimento. A muito poucos elas interessariam. E mais: memórias geram saudade.
6. Todas as vezes que admito escrever minhas memórias, volto a esta eloquente quadrinha do poeta Ronaldo Cunha Lima (1936-2012), concordando plenamente com o ilustre vate paraibano: "Quando eu for eternidade,/ onde só Deus me alcança,/ eu não quero ser saudade. / Já me basta ser lembrança".
7. Pelo menos para mim, é doloroso saber que um dia a gente morre.
Aproximando-me, nos últimos tempos, dos nossos irmãos espíritas, exímios escritores, vou encarando a morte com surpreendente naturalidade.
Diria que de maneira bem diferente de como a via, desde meus tempos de coroinha, nas sacristias de minha Igreja. A notícia da existência do purgatório, céu e inferno me apavorava, me levando a fazer um infindável número de indagações a respeito.
8. Adotei, com um dos meus livros de cabeceira, "A morte na visão do espiritismo" do escritor espírita Alexandre Caldini Neto. Seu livro, segundo ele mesmo, reúne "Reflexões para quem quer compreender o que acontece no momento em que morremos e depois". Muito bom mesmo. Aconselho sua leitura.
9. Hoje, 2 de novembro, é o dia de recordar os nossos mortos, um costume aceito, oficialmente, pela Igreja Católica, através de seus Papas, desde o Século 13. Não teria a ousadia de fazer, aqui, comentários sobre todos os assuntos abordados pelo mestre Caldini no seu excelente livro ao qual me referi acima.
10. Escolhi um capítulo, com certeza um dos mais leves, para, em mais um dia de finados, dessa vez aconselhar os vivos. Distanciando-me do chororô de beira de túmulos e mausoléus, nem sempre tão sinceros como parecem ser. Mas, não condeno os que assim agem.
11. "Viver muito ou viver bem" é o título do capítulo que extraí do livro do irmão Caldini, sem esquecer, nunca, os demais, todos cheios da mais pura e sincera espiritualidade.
12. Caldini ilustra e baseia sua reflexão numa frase atribuída a Sêneca, filósofo do Império Romano, morto em 12 de abril de 65 d.C, em Roma. Que teria dito Sêneca? "O homem vive preocupado em viver muito, e não em viver bem, quando, na realidade, não depende dele o viver muito, mas sim o viver bem".
13. E Alexandre Caldini Neto arremata: "De fato, por que queremos viver muitos anos? Para que precisamos de tantos anos? Precisamos mesmo é agir adequadamente e viver bem nos anos que passamos aqui, certo?"
14. Certo. ..."viver bem nos anos que passamos por aqui..." Pena que só tenha me dado conta dessa verdade, "eterna", como diria Nelson Rodrigues, quando minha idade aos pouco me leva, como disse acima, ao ocaso da vida...
Por que não pensei nisso antes, não sei.
Certamente teria levado boa parte de minha existência, sorrindo... Agora é tarde? Talvez não.