Ter, ganhar ou perder sensibilidade
Grande parte da filosofia oriental considera que o mundo é sustentado por forças opostas, porém umas necessárias às outras. Excetuando que isso nem sempre aconteça no mundo físico, no plano do conhecimento, ocorreu e vem ocorrendo uma inimaginável conjugação entre a ciência e o humanismo. Ou seja, nada é científico que não contenha dentro de si algo humanista e científico. Tempos atrás, no meio teórico, sucedeu uma luta: quem era humanista versus quem não era humanista. Lembro-me que, em 1969, depois que terminei o Curso de Filosofia, na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, os jesuítas dirigentes do Colégio Pio Brasileiro organizaram, por duas vezes, uma cerimônia para se jurar fidelidade ao humanismo; e eu, em todas essas vezes, fugi desse juramento, mesmo sendo humanista, por acreditar que o humanismo cristão e o não cristão podem caminhar juntos, pensar e agir sem contradições... Pois, eles se complementam e, se somados ao conhecimento científico, ambos acontecem no bom sentido.
Sempre refleti, porém, que o humanismo, mais do que a ciência, pode nos proporcionar um processo de mudança interior que nos leva, através de experiências, a sábias e iluminadas conclusões. E tal fenômeno ocorre nessa união, surgindo quando, em cada um de nós, opera a sensibilidade. Nós percebemos essa sensibilidade à medida em que sentimos nossas sensações, nossas emoções e nossos pensamentos, e deixamos que tudo isso atue sobre nós, transformando nossas ideias e nossas ações. Tal sensibilidade não é um fenômeno meramente abstrato, mas ocorrências que se sucedem, simplesmente ao ouvirmos música ou a compô-la; ao escutarmos uma poesia ou a escrevê-la; ao ouvirmos um discurso ou ao assistirmos um filme. Nesse contexto, há filmes que nos emocionam e nos fazem chorar. Isto é abstrato? Tudo isso não se pode experimentar sem se ter a sensibilidade necessária para tanto, após a vivência de muitas e muitas experiências.
Todavia, temos experimentado, no mundo atual, violências, atrocidades completamente contrárias ao significado humanista da vida. Seria como se ignorasse ou se desconhecesse qualquer valor da vida, e, sobretudo, da vida humana, o que é o primeiro passo ao humanismo. Observa-se, porém, que a visão utilitarista sobre o ser humano faz crescer entre nós a insensibilidade, a considerar a pessoa humana como um mero objeto desse utilitarismo, tratando-o como máquina de produção, que tem utilidade e razão de viver enquanto são úteis. Se isso acontece, onde estaria a presença da sensibilidade? Em determinadas atitudes, compreende-se não existir qualquer influência do sentimento sobre os interesses, mas tão somente do ódio ou da ganância, especialmente quando se trata do lucro ou do desrespeito aos direitos humanos no mundo do trabalho.
Mas, o que seria mesmo a sensibilidade? Teria o nazista de “coração de ferro” (como o definiu Adolfo Hitler), Reinhard Heydrich, sensibilidade, quando, emocionado, tocava violino, acompanhando o filho ao piano e, horas depois, trucidar com tiros na cabeça vários judeus e judias, simplesmente porque não eram arianos? Por essas razões, decido ficar desejoso de sempre experimentar novas situações que reforcem a ideia do que seja sensibilidade ou de que não exista a má sensibilidade; também é possível que haja alguém que não seja suficientemente suscetível à sensibilidade. Também desejo reexperimentar experiências até perceber que sinto, nisso ou naquilo, o mínimo de sensibilidade; tenho certeza de que não se pode desenvolver a percepção da sensibilidade a não ser, vivenciando-se uma longa sequência de experiências, também motivação da postura filosófica humanista. Enfim, sensibilidade é esta rica faculdade de quem é humano, e sem a qual não há humanismo. Por muito tempo, a ênfase humanista, em sentimentos e experiências, transformou a arte, sendo, nesse aspecto, realce da cultura. Finalmente, você, caro leitor, é humano à medida em que for sensível...
Grande parte da filosofia oriental considera que o mundo é sustentado por forças opostas, porém umas necessárias às outras. Excetuando que isso nem sempre aconteça no mundo físico, no plano do conhecimento, ocorreu e vem ocorrendo uma inimaginável conjugação entre a ciência e o humanismo. Ou seja, nada é científico que não contenha dentro de si algo humanista e científico. Tempos atrás, no meio teórico, sucedeu uma luta: quem era humanista versus quem não era humanista. Lembro-me que, em 1969, depois que terminei o Curso de Filosofia, na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, os jesuítas dirigentes do Colégio Pio Brasileiro organizaram, por duas vezes, uma cerimônia para se jurar fidelidade ao humanismo; e eu, em todas essas vezes, fugi desse juramento, mesmo sendo humanista, por acreditar que o humanismo cristão e o não cristão podem caminhar juntos, pensar e agir sem contradições... Pois, eles se complementam e, se somados ao conhecimento científico, ambos acontecem no bom sentido.
Sempre refleti, porém, que o humanismo, mais do que a ciência, pode nos proporcionar um processo de mudança interior que nos leva, através de experiências, a sábias e iluminadas conclusões. E tal fenômeno ocorre nessa união, surgindo quando, em cada um de nós, opera a sensibilidade. Nós percebemos essa sensibilidade à medida em que sentimos nossas sensações, nossas emoções e nossos pensamentos, e deixamos que tudo isso atue sobre nós, transformando nossas ideias e nossas ações. Tal sensibilidade não é um fenômeno meramente abstrato, mas ocorrências que se sucedem, simplesmente ao ouvirmos música ou a compô-la; ao escutarmos uma poesia ou a escrevê-la; ao ouvirmos um discurso ou ao assistirmos um filme. Nesse contexto, há filmes que nos emocionam e nos fazem chorar. Isto é abstrato? Tudo isso não se pode experimentar sem se ter a sensibilidade necessária para tanto, após a vivência de muitas e muitas experiências.
Todavia, temos experimentado, no mundo atual, violências, atrocidades completamente contrárias ao significado humanista da vida. Seria como se ignorasse ou se desconhecesse qualquer valor da vida, e, sobretudo, da vida humana, o que é o primeiro passo ao humanismo. Observa-se, porém, que a visão utilitarista sobre o ser humano faz crescer entre nós a insensibilidade, a considerar a pessoa humana como um mero objeto desse utilitarismo, tratando-o como máquina de produção, que tem utilidade e razão de viver enquanto são úteis. Se isso acontece, onde estaria a presença da sensibilidade? Em determinadas atitudes, compreende-se não existir qualquer influência do sentimento sobre os interesses, mas tão somente do ódio ou da ganância, especialmente quando se trata do lucro ou do desrespeito aos direitos humanos no mundo do trabalho.
Mas, o que seria mesmo a sensibilidade? Teria o nazista de “coração de ferro” (como o definiu Adolfo Hitler), Reinhard Heydrich, sensibilidade, quando, emocionado, tocava violino, acompanhando o filho ao piano e, horas depois, trucidar com tiros na cabeça vários judeus e judias, simplesmente porque não eram arianos? Por essas razões, decido ficar desejoso de sempre experimentar novas situações que reforcem a ideia do que seja sensibilidade ou de que não exista a má sensibilidade; também é possível que haja alguém que não seja suficientemente suscetível à sensibilidade. Também desejo reexperimentar experiências até perceber que sinto, nisso ou naquilo, o mínimo de sensibilidade; tenho certeza de que não se pode desenvolver a percepção da sensibilidade a não ser, vivenciando-se uma longa sequência de experiências, também motivação da postura filosófica humanista. Enfim, sensibilidade é esta rica faculdade de quem é humano, e sem a qual não há humanismo. Por muito tempo, a ênfase humanista, em sentimentos e experiências, transformou a arte, sendo, nesse aspecto, realce da cultura. Finalmente, você, caro leitor, é humano à medida em que for sensível...