Os filhos de ninguém (31/10/2019)
Arrancado do peito, vê a mãe pela última vez. É a sina. Pela retina, o menino, a menina...- Dali por diante, e até o fim de seus dias, estarão por conta própria. “Como poderei viver; como poderei viver; sem a tua, sem a tua; sem a tua companhia (...)”.
Abandonado à sorte, não sabe o que é chorar. Chorar é para os fracos. Abandonado à morte, não sabe o que é viver. Morrer é para os fracos. Carregado, feito embrulho, acostuma-se aos braços alheios. Não há laços, abraços... apenas muros. Uma prisão, dentro da prisão. "Se essa rua, se essa rua fosse minha; eu mandava, eu mandava ladrilhar (...) “.
Na memória afetiva, a imagem da virgem Maria. E em todas as noites, o mesmo sonho. A quem pertenço? O sentimento de frustração só não é maior que o de rejeição. A quem culpar? “Pai Francisco entrou na roda; tocando seu violão (Balalan, ban, ban, ban); vem de lá seu delegado; e o Pai Francisco foi pra prisão (...)”.
- Eu quero um de olhos azuis e cabelos loiros, como nos filmes. - Mas, todos aqui são anjos. - Não, não, esse não... - Um menorzinho. – Vamos passar o anel? E de mãos, entreabertas, esperam ser escolhidos. “O Anel que tu me deste; era vidro e se quebrou; o amor que tu me tinhas; era pouco e se acabou (...)”.
Na próxima vez, quem sabe? Mas, o tempo é seu inimigo. Quanto mais crescido, mais distante... mais difícil. – Você voltou! O que houve? - Nada, não... E recolheu-se. Algo que aprendera a fazer, para não ter que crescer. Uma dor que se renova; uma desilusão; uma outra corrida em desfavor do mundo. “Durma neném, que a Cuca logo vem; Papai está na roça e Mamãezinha em Belém (...)”.
Não se trata de escolher, para fazer um bem a si próprio ou preencher uma falta... - A oração: Aonde fores, eu vou. Vou andando, vou correndo. Aonde fores, eu vou. Plantarei flores. Terei escola? Farei as lições, comerei legumes... - Aprenderei a ser filho, como o seu filho. “Vamos, maninha vamos; lá na praia passear; vamos ver a barca nova que do céu caiu no mar; Nossa Senhora está dentro, e os anjinhos a remar (...)”.