A beleza dos dias nublados

Gosto dos dias nublados. Talvez seja eu muito melancólico, mas acho os dias cinzentos cheios de charme. Creio que dias assim nos mostram, por analogia, a variação de nosso ser no mundo.

Não gosto quando a moça do tempo diz "tempo ruim". Por que ruim? O que há de mal nesses dias? Será por não sabermos lidar bem com a escuridão, com a negatividade? Talvez.

Nada contra os dias de sol, dias de lazer e esporte, praia e passeio. Fato é que os dias nublados me fazem bem! Eles me deixam mais romântico, mais sensível, mais emotivo, mais introspectivo, mais profundo. Seria isso algo ruim? Pode ser, para nosso modo de vida superficial.

Dias nublados me remetem ao não-sei-onde. Ao mistério. Mistério é uma seta que aponta para algo que, ainda que não esteja, está.

O céu nublado, a névoa, a serra encoberta, a manhã prolongada. Tudo me silencia, tudo me pacifica. Dá vontade de ler, de cantar, de escrever poemas, de tocar viola. A arte nasceu num dia nublado, não tenho dúvida.

Por que razão é bom ver filmes em dias assim? Porque o dia nublado é um trilho que leva nossa maria-fumaça para passear na região da beleza.

Não sei as outras pessoas, mas eu necessito de dias nublados. Da mesma forma que, vez ou outra, eu preciso ter meu ser também nublado. É quando penso na vida e me avalio e me refaço. Vejo melhor meus equívocos em dias assim, assumo meus limites, revejo o que não foi bom, olho de novo para o que passou despercebido.

Não por acaso, a saudade me é mais forte em dias sem sol. A saudade, como expressão do ser que mantém vivo o que não deve morrer, desce de mansinho, enrolada de nuvens, ornando meu dia interior.

Por que o cinza também é belo. Também é cor.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 30/10/2019
Código do texto: T6783371
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