DOM SAPÃO ME DEIXOU

Hoje acordei sentindo falta de alguma coisa. No momento não consegui atinar com o que seria. Mas o sol ardente foi se anunciando e deixando tudo a minha volta brilhante e quente. Os animais já faziam suas tarefas rotineiras. A Peteca e a Lili brincavam de correr no quintal, sob o olhar astuto e calmo de sua mãe, a Mel.

Os passarinhos brigavam pelo resto de alpiste e canjiquinha na casinha que, ao balançar com o vento, os assustava e eles voavam em bandos de diferentes cores e tamanhos.

Um guache mais guloso deliciava-se de bananas em uma bananeira próxima deixando um araçari com água no bico, com medo do outro.

Um casal de sanhaços comia as amoras ainda de vês no topo da amoreira, lugar que eu não alcanço.

O pé de jabuticaba cheio de abelhas, anunciava que elas já estavam bem maduras e quase passando. Atrás dele, a Noturna berrava pedindo ao dono que levasse seu capim da manhã.

O louro gritava cada vez que o vento balançava o pé de jambo em que ele estava empoleirado. Gritava o nome do antigo dono, para chateação do atual esposo da dona dele. Também se esgoelava a chamar o Leão, cachorro que provavelmente morava na antiga casa dele, bem longe dali.

Um sapinho saltava em direção a manilha embaixo da garagem, provavelmente a procura de um lugar mais fresco pra se esconder do sol. Isso me fez lembrar dele. Porque será que Dom Sapão ainda não tinha chamado a chuva como faz todos os dias?

Fui até a beira da fossa séptica e comecei a futucar o buraco que servia de porta pra ele entrar. Achava que assim acordava o sapo que de guloso já teria preguiça , talvez...

Mas nem assim Dom Sapão gritou seu chamado pela chuva. O meu esposo riu de mim e disse pra eu deixar o pobre do sapo em paz.

Como não deixar em paz uma criatura que não se incomoda com nada? Saí dali e fui atender a um passante que queria informação sobre o Mosteiro Zen Budista que fica a 1 quilômetro a frente. Depois de despachá-los, vi um urubu na estrada a puxar pra lá e pra cá os restos de algum ser, esmagado pelos carros que passam em frente a minha casa, em direção ao Mosteiro, Lagoa do Vale e outros lugares a frente. Quase me aproximei e antes que eu fosse lá, o meu esposo falou:

_Eis aí seu amigo Dom Sapão!

Isto me deixou muito triste. O pobre bicho deve ter ido a procura da lama do finado riacho, que antes deslisava entre os barrancos e, que agora só resta dele areia e lama em pouquíssimos trechos.

Só me resta dizer:

_ Adeus meu amigo Dom Sapão! Quantos insetos o sr comeu pra mim! Agora espero que tenha um céu para os bichinhos, porque um motorista apressado me levou o senhor. Sentirei sua falta.

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 30/10/2019
Reeditado em 30/10/2019
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