Caneta azul* (30/10/2019)
A poucos dias da entrevista que Milton Nascimento concedeu à folha de S. Paulo, quando disse que “A música brasileira tá uma porcaria!”, refletindo sobre o cenário atual; surge, a deplorável: “Caneta azul”, com seus inesperados milhares de visualizações. Os likes de famosos, como: Neymar, Tirulipa, Wesley Safadão e Rodrigo Faro, acabaram proporcionando mais audiência e acelerando o processo de viralização nas redes sociais.
O curioso é que o hit, que conta a história de um aluno que perdeu uma “caneta no caminho da escola”, é apenas uma das mais de 21 mil composições "nonsense " que Manoel Gomes diz ter; acredito, sem qualquer inspiração musical, ao compararmos com o tratamento artístico dispensado ao carro-chefe de sua "careira".
Esse momento de que fala Milton Nascimento, é alimentado pela cultura digital que permite qualquer pessoa acessar à internet para gerar conteúdos potencialmente virais através de: posts, textos e tweets divertidos, que ganham engajamento, rapidamente, e se tornam populares e caricatos.
Algo improvável de acontecer com Chico, Caetano, Gil, Jobim, João Gilberto e com o próprio Milton... - Com suas composições talentosas e bem elaboradas. Basta lembrar: “Construção”; “Alegria Alegria”, “Drão”, “Garota de Ipanema”, “Chega de Saudade” e “Travessia”... – De ilusões amorosas e comprometidas com a vida social e política do país, porém sem nunca ser piegas.
Nem cabe aqui, mas eu vou citar Ariano Suassuna, que cabe em qualquer lugar: “A massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto... - Nunca vi um gênio com gosto médio”.
Pois bem, assim como o relâmpago com seus milissegundos, esses fenômenos internéticos não produzem um sentimento mais demorado. O máximo que conseguem é fazer com que a gente dê boas risadas... - Para depois de ofuscarem em suas próprias mediocridades.