O MEIA-TAÇA AZUL DE BOLINHAS BRANCAS
Não foi o primeiro soutien, mas foi inesquecível! — O primeiro meia taça. — Azul, com pois brancos e arremates de bordado inglês e lacinhos cor-de-rosa. Fazia parte de um conjunto, que ganhei da vizinha, no meu aniversário de quinze anos.
Tínhamos em casa um malão de madeira. Nele mamãe guardou os meus presentes, que foram muitos, assim como muitas foram as peças íntimas que ganhei. Lá também foi guardado o conjunto de bolinhas brancas, a espera de eu ganhasse corpo para poder usá-lo. O tempo passou e o meia-taça, mesmo sendo meia, nunca encheu. Ali, ele ficou guardado por uns dois anos, até que uma moça que trabalhou lá em casa o descobriu. Bom, disso só fiquei sabendo quando ela foi embora e deixou o conjunto, desbotado, escondido atrás do malão, junto com as calcinhas mais bonitas que me foram presenteadas, em condições semelhantes.
Esta lembrança veio à tona ontem, assim que soube do falecimento da Professora Ilza de Oliveira.
Ilza foi a vizinha que me presenteara com o meia-taça. Também foi professora no Grupo Escolar "Professor José Cunha", nosso querido e inesquecível JC, em Itaquari, no município de Cariacica.
Lembrei-me do seu casamento, num dia chuvoso. Ela, uma moça alta, bonita, casou-se com Gentil de Souza, um baixinho, muito gente boa! Desse enlace, nasceram os filhos, Geilza, Gedilton e Gustavo.
Sua marca registrada era as palavras cuidadosamente pronunciadas, num Português impecável e irrepreensível!
Era o ano de 1971. Eu tinha apenas 16 anos e estava no segundo ano do curso Normal, quando ela me convidou para substituí-la no JC, por três meses, pois estava adoentada. Mesmo estando insegura, aceitei. Foi uma experiência e tanto! Uma turma de terceiro ano, repetente, meninos insubordinados, maiores que eu, que a deixaram com os nervos em frangalhos! Meu primeiro contato com eles foi assustador, mas Deus me ajudou, e deu tudo certo. Eram apenas crianças crescidas e levadas, mas carinhosas, quando queriam ser. Bem diferentes das que vemos hoje em dia, que agridem os professores nas salas de aulas.
Com o primeiro pagamento comprei um par de sandálias brancas, de salto alto, com pequena plataforma, última moda, na inauguração da Sapataria Portugal, no edifício do mesmo nome, na esquina da rua General Osório com Av. Jerônimo Monteiro, em Vitória. A primeira compra que fiz com o meu próprio dinheiro.
Com o passar dos anos, perdemos o contato, mas as lembranças do soutien meia-taça de bolinhas azuis, da sandália branca e da mulher que apostou na capacidade da menina inexperiente, estarão para sempre vivas, na minha memória e no meu coração!
Que ela encontre a paz ao lado de Deus!
© Maria Goreti Rocha
Vila Velha, ES - 27/10/2019