O amor é uma droga

É difícil escrever crônica. Sempre gostei da poesia, dos versos que gritam no silêncio das estrofes e da paixão que incendeia o quarto após algumas garrafas de cerveja e algumas taças de vinho.

Enquanto a crônica pede um pouco de ortografia e racionalidade, a poesia vive da embriaguez, de alguns tragos de cigarro e de um oceano de ocitocina, dopamina e serotonina.

Diante disso, é fácil concluir que o amor é uma droga. Droga das mais potentes e perigosas, dessas que viciam no primeiro beijo e na primeira troca de olhares. Certamente, eu me apaixonei. Não foi uma, duas ou três vezes. Eu me apaixonei muitas vezes. Eu me apaixonei quando recebi flores pela primeira vez, quando me abraçaram para me proteger do frio e quando me olharam nos olhos com a avidez de quem sabia que me possuía e meu estômago e meu corpo tremiam consentindo.

O amor é uma droga perigosa porque é silenciosa e acumulativa. Quanto mais se tem do amor, mais dele se quer. E cada mero ingrediente vira combustível para uma dependência emocional, física e química: fotos, datas, olhares, falas, beijos, sexo, ciúmes, até mesmo discussões...

O amor é simbiótico. Quando falta o combustível, não se perde apenas por um, os dois saem perdendo. E o resultado disso, como diria meu eterno Drummond, é uma ferida que às vezes não sara nunca, às vezes sara amanhã...

Mas ainda assim, por mais dolorosa que essa ferida seja, eu acredito que valha a pena se apaixonar. Quem já se apaixonou de verdade um dia sabe que não existe droga melhor do que o amor, e que a melhor rehab é sempre se apaixonar de novo...

E após quebrar a cara algumas vezes, com o tempo a gente aprende que um “eu te amo” reside em muitas frases diferentes. Em “comprei esse sorvete que eu sei que você gosta”, em “deixa que eu te ajudo com o supermercado”, em “vem aqui que você precisa cortar a unha”, em “eu te busco no metrô",em "vamos embora porque você tá muito bêbado", em “apaga essa merda desse cigarro”, em “pega um casaco que tá frio lá fora”, em “você quer que eu chame um uber?”.

Demorei para entender que algumas vezes o “eu te amo” sai em forma de “eu te amo”. Tantas outras não. Mas ele está lá. Basta que a gente esteja disposto a encontrá-lo ao invés de reclamar a sua suposta ausência.

Ramon Maciel
Enviado por Ramon Maciel em 28/10/2019
Reeditado em 28/10/2019
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