O velho sábio.
Quem se interessaria de escrever sobre aquele senhor?
Quem acharia que poderia ter ali naquele velho Italiano que reside em uma casa de São Vicente em Ouro Preto tivesse algo a acrescentar?
Sim eu, me interessei e não me decepcionei.
Mesmo com uma certa dificuldade auditiva, consegui tirar proveito de dedicar um tempo a ouvir e provocar o seu Alberto Bandoni, esse é o seu nome, e ainda me disse, depois de algumas conversas, que seu irmão, Cláudio Bandoni havia sido goleiro de vários times da Itália, como a Lázio e a Sampdória.
Depois de me provar, em nosso último encontro, que o que havia de mais importante na vida de um ser humano, contrariando o que todos pensam o poder e o dinheiro que são prioridade, ele disse que o ato de poder pensar, ter estórias para relembrar, e poder contar, era o que mais interessava para ele, mesmo no seus 91 anos de vida.
-A lucidez meu amigo, ela é o bem mais precioso.
Perguntei nessa segunda conversa ao encontrá-lo conversando no corredor, sentado, na policlínica onde ele aguardava para fazer um exame. Apesar da correria, não perdi a oportunidade.
-Seu Alberto.
Perguntei
-O que o senhor teria a dizer, se soubesse que não poderia mais pensar?
Qual a sua maior queixa?
Após assimilar a pergunta, franzindo a testa respondeu, com o sotaque típico Italiano.
-Espero que isto esteja longe de acontecer.
Parecia até um pouco bravo com minha pergunta, mas nada, esse era seu jeito.
E continuou.
-Aquilo que mais me deixaria triste é que sinto que ainda tenho muito que ensinar, passar para os mais jovens, de forma que seria uma perda para o mundo, para o mundo e para mim não é?
Poderia esse inicio de resposta soar arrogante,mas isto chamo de auto estima.
-O fato de saber que posso muito ainda passar de experiência de vida e conhecimento para adiante. Isso seria a minha queixa.
Concluiu.
Antes de me despedir do velho amigo, que tem alma de menino, ainda me sobrou uma reflexão sobre a grandeza daquele senhor.
Desejo de ensinar, não levar consigo o conhecimento. Sinto que não perdi meu tempo em ouvir o seu Alberto.
Certamente vou ter que revê-lo.
Pouca gente se interessaria.
Ele vale cada minuto de prosa...