Úlcera

O mar revolto lhe assustava, estava com frio e nervosa, mas que diabos estava fazendo naquela praia? Tudo confuso e gelado, ventava muito, o canto de uma figura mística e assombrosa lhe atormentava os ouvidos, dentro do mar a voz aguda ecoava, lhe chamando, gritava o seu nome.

Foi atrás, entrou no mar, seus órgãos pareciam em choque com a mudança de temperatura, não sentia os pés, tentava nadar, mas os braços estavam paralisados, começou a afundar e quanto mais fundo o seu corpo dormente chegava, mais alta era a voz, tentava respirar, mas já estava sufocando, quando… acordou.

Mais um pesadelo, precisava escrever sobre ele, pegou o caderninho que deixava na cabeceira e quando caçava uma caneta, escutou o alarme do celular tocar, estava na hora de levantar, precisava cumprir suas obrigações, depois escreveria.

Tomou banho, se vestiu, comeu, escovou os dentes, calçou os sapatos e saiu, nada de escrever. Pegou um metrô lotado e um ônibus, também lotado, escutou música na viagem, mas nada de escrever.

O dia se passou e muitos outros também, os pesadelos continuavam, a vontade de escrever também, mas as obrigações eram tantas, como ainda ter tempo para isso? Precisava entregar trabalhos, estudar, dar atenção aos amigos, fazer provas, muitas coisas! Acabou deixando de lado a escrita, até que começou a doer.

Sentia uma dor aguda no peito, cogitou a possibilidade de ser um infarto, mas não tinha problemas no coração, então o que seria? Consultou diversos médicos, mas nenhum tinha a resposta, já estava quase entrando em colapso, era uma dor que crescia todos os dias. Foi quando, dentro de uma conversa com um amigo próximo, citou que havia deixado a escrita pra lá e o seu peito parecia em chamas ao proferir aquelas palavras, a dor foi tão intensa, que ficou trêmula quando o amigo lhe falou que discordava, que ela precisava voltar a escrever, o coração disparou, era aquilo que faltava.

Uma úlcera. Enquanto escrevia palavras desconexas no caderno, seu coração batia como um louco, as palavras começaram a tomar forma e fazer sentido, as sentenças foram se entrelaçando e um texto foi formado, estava tão emocionada, que se deixou chorar, a dor parecia em estado de latência, o mar, antes revolto, parecia ter se acalmado, mas a úlcera ainda estava aberta.

Brenda Nascimento
Enviado por Brenda Nascimento em 26/10/2019
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