No calor da cozinha*
Já era mais de dez horas da noite quando eu consegui me sentar na cozinha de casa e fazer algo para eu e a minha mulher comermos. Havíamos chegado perto das oito.
Preparei as bruschettas com calma e em um silêncio quase reverente, como se quisesse aproveitar cada segundo daquela verdadeira comunhão entre eu e o alimento.
Cortei as fatias de pão, linguiça e queijo provolone. Despejei o azeite sobre o pão e montei as bruschettas, finalizando com uma salpicada de orégano. Coloquei no forno e aguardamos ficar pronto enquanto nosso filho começava a pegar, definitivamente, no sono.
Antes disto, muito choro e manha do bebê. Estava cansado após a tarde inteira na rua e, como quase todo bebê, não consegue dormir sozinho. Precisa ser embalado e acarinhado e isto demora mas, ele dormiu, afinal.
Nós nos sentamos frente a frente e comemos e conversamos sobre as coisas do dia, sobre os problemas e sobre as alegrias, sobre nós e sobre o nosso filho, sobre o futuro, presente e sobre o passado. Conversamos também sobre a refeição deliciosa, ainda que muito simples, que tivemos a oportunidade de fazer e comer naquela noite fria de julho em que estávamos verdadeiramente em família, no calor da nossa cozinha.
JEFFERSON FARIAS
*Publicado originalmente em https://ocronistainutil.wordpress.com/2019/07/09/no-calor-da-cozinha/