KATIA FLAVIA

Quem sai muito, volta e meia passa por alguma situação insólita, inabitual, diferente, engraçada, nova, digna de menção ou nota. Dessa vez, foi em um dos muitos bares e clubes que pro¬liferam na região do baixo Augusta aqui em São Paulo.

Miguel Arcanjo estava na Praça Roosevelt e queria aproveitar bem a noite de sexta-feira que, com clima quente e agradável, parecia per-fei-ta, mesmo porque a meteorologia dava como certa a mudança do tempo e chuva no fim de semana do Dia das Mães.

Ficou ali tomando um Osborne e saboreando um Cohiba, já para ir embora. Quando então surgiu o Benedito com a namorada e ficaram conversando enquanto ela subia ao apartamento para pegar a bolsa. Falaram do tempo e ele não sabia da previsão. Nesse instante, vindas do oeste, sentiram as primeiras lufadas do vento da mudança climática. Eles estavam indo ao Club Noir –que fica no início da Rua Augusta e perto da recentemente reformada praça pública municipal que, com 25 mil m² e custo de R$ 55 milhões, deve, depois da demolição do pentágono em 2012, ao menos mudar de nome – lá haveria a apresentação de um grupo de rock chamado Fábrica de Animais, banda da qual Miguel Arcanjo já ouvira falar.

Ia embora, pensou melhor, lembrou-se das lufadas e da mudança climática e interpretou como bons presságios, Arcanjo foi então ao Club Noir. Várias pessoas que frequentam o triângulo estavam lá. Por volta de meia-noite, começou a apresentação e foi para a entrada, na sua frente havia um senhor elegante, bem vestido, de cabelos e barba brancos e bem cortados, uma garota 63

Baixo Augusta, Praça Plínio Marcos, Jogos de Tênis e outras Crônicas

e um casal sendo atendido pela hostess. Houve certa demora no atendimento ao casal e o senhor começou a reclamar. Ele tinha razão, Miguel concordou com ele, falou alguma coisa, mas não alongou a conversa, fazendo cara de paisagem.

Entraram. Miguel Arcanjo cumprimentou o Eldo e o Perosa, que voltavam de turnê pelo litoral e interior de São Paulo com as peças “Música para Ninar Dinossauros” e “Mulheres”, do Mário Bortolotto. Ficaram apreciando o show.

A banda é realmente boa. Boa música, bem ensaiada e a vocalista Fernanda D’Umbra, com voz potente e muita presença de palco, bonitas pernas e apresentação com toda àquela magia de grandes vocalistas de banda de rock.

Lá dentro, claro, também vendo o show, o referido senhor, e ele estava se divertindo muito, dançando e coisa e tal. Arcanjo sai para tomar um ar e vê a Paula Cohen sentada fotografando a Grace Kelly, e o Eldo conversando com esse senhor. Pouco depois, era o Bortolotto quem conversava com ele.

O show seguia muito bom. A vocalista cantou uma música cuja letra dizia algo a respeito do Eldo (Eldo isso, o Eldo aqui¬lo...), que estava com Marião e Wanessa Rudmer ali próximos ao balcão do bar. O senhor era descolado e estava bem à vontade, ia para lá e para cá, dançava e se divertia. Cumprimentou a vocalista do grupo e foi cumprimentado por ela.

No fim do show, ela faz uma dedicatória: “Quero dedicar o show ao Fausto Fawcett aqui presente”, que vocês já sabem quem era. Terminando a apresentação, vai embora. Entrega a comanda com o cartão e fica aguardando. Houve certa demora, Arcanjo olhou para o lado e era ele. Fausto Fawcett fez grande sucesso na década de 1980 com várias músicas, shows e a banda “Fausto Fawcett e os robôs efêmeros”. A mais conhecida em todo 64

M. A. Silvente Pessoa

país e exterior era “Katia Flavia”. Houve também “Garota Sangue Bom”, “Balada de um Amor Inabalável”, entre outras; e muito recentemente, o bardo de Copacabana lançou o livro “Favelost”. E agora, ele bem ali do seu lado direito... Miguel Arcanjo até pensou em falar-lhe... começou a reclamar da demora... Fausto Fawcett disse alguma coisa e... fez cara de paisagem.

Marcos Pessoa
Enviado por Marcos Pessoa em 20/10/2019
Código do texto: T6774674
Classificação de conteúdo: seguro