Segurando balões
Ontem , estávamos viajando e paramos em um posto à beira da estrada e uma cena me chamou atenção: uma jovem muito linda veio em direção a minha filhinha , segurando vários balões coloridos na mão e os ofereceu a ela. Imediatamente ela recusou receber o presente ,agradeceu e disse que não os queria. Logo à frente ela encontrou um garoto e o presenteou com os balões. A mãe do garoto não percebeu que antes a jovem tinha oferecido os balões a minha filhinha ,veio em nossa direção toda sorridente e os ofereceu a ela . Mais uma vez ela se recusou em pegá-los. Então ela perguntou surpresa: __ Você não gosta de balões?? Toda criança ama!! Naquele momento eu disse que ela amava em demasia ,e por isso mesmo recusava tê-los para si. Desde muito pequena ,ela apresentava uma admiração muito grande por balões ,e sempre queria os ter para brincar , só que quando facilmente eles estouravam ela chorava muito .Agora para não sofrer em vê_los murchar do nada, ela
se recusa a possuí-los.
Fiquei imaginando que nós , desde que nascemos, assinamos um contrato de risco permanente , lidamos com coisas extremamente frágeis o tempo todo ,e o pior, nos apegamos a ela com todas as nossas forças e nunca estamos preparados suficiente para a dissolução dessas coisas, não queremos aceitar o fim , quando acabam nos dá uma sensação de vazio gigante .Às vezes deprimimos e perdemos o sentido da vida.
Na vida , estamos sempre a segurar balões, quase sempre não nos é dada a escolha de segurá-los ou não ,como foi dada a minha filhinha.
E de repente lá se vai o balão chamado vitalidade , jovialidade, vigor físico.
E de repente lá se vai o balão da beleza física.
E de repente lá se vai o balão da saúde.
E de repente lá se vai o balão das pessoas que amamos, que vão embora para sempre, quase sempre sem se despedir.
E de repente lá se vai o balão da estabilidade financeira, profissional.
E de repente lá se vai o balão dos relacionamentos interpessoais ( amigos, cônjuges, namorados) ,se desencantam da nossa companhia, parceria ao longo do caminho ( e é direito de cada um, optar por companhias que melhor lhes satisfaçam, ninguém é de ninguém).
Outro dia ,chorando muito, falei com Deus ,que já que não me é dado a escolha de não segurar balões e nem tampouco de não vê_los estourar em minhas mãos do nada, que me conceda serenidade e condições de aceitação nesses momentos. E que nunca perca o encanto pelos balões da vida , assim como a Larinha perdeu com os de brinquedo. E que eu insista em segurá-los , mesmo sabendo que do nada posso perdê_los.
E assim vamos nós , segurando balões, nos apegando loucamente a eles até que o balão da nossa existência se murche repentinamente.
Vida : uma aventura incrivelmente linda e maravilhosa, porém frágil e perigosa.